A bordo do voo da Ibéria, Madrid - S. Paulo.
Em Barajas, Madrid, aguardando o voo de ligação.
Livros de contabilidade de uma fazenda à portuguesa.
Fachada do hotel Terra nova em Bataguassu, MS.
Operação Machu Picchu (cont.)
Caros amigos e visitantes;
Em primeiro lugar quero dizer-vos que tenho sentido a falta das vossas visitas e comentários. E garantir que, se o Kurt tem andado arredio em notícias, é por boas razões. O que se tem passado explica-se de uma penada. Desde a chegada ao Brasiu, o nosso quotidiano virou um perfeito fandango. Os compatriotas daqui, fazem questão de receber as visitas nos conforme. Um amigo apresenta nóis para outro amigo e este para um terceiro. Ao fim dji um tempinho, você já bateu papo com metade da portuguêsada daqui, almoçou com parentes que nem conhecia, tomou tira gosto em casa de brasileiro, visitou fazenda, montou a cavalo, esfolou borrego, bebeu no córrego, esteve presente em casamento e boda dji ouro e até recebeu proposta pa noivá! E cadê o projecto Machu Pichu? Quasi tá indo para o cano, né?
Pois bem, como eu não quero que vos falte nada, aqui vão as primeiras notícias acerca do “empreendimento”. Eu e o meu amigo Luís Ferreira embarcámos nesta aventura num voo da Ibéria que partiu de Lisboa cerca das 21h00 de 17/11. Quarenta e cinco minutos depois chegávamos a Madrid. Depois foi só engolir um Mac Crispy, percorrer quilómetros de corredores entre os terminais de Barajas e “saltar” de um avião para o outro que nos trouxe até S. Paulo. Viagem longa e algo cansativa, mas menos aborrecida do que seria se tivéssemos viajado durante o dia. A meio do trajecto, uma passageira foi acometida por um treco dos diabos e dado que à pergunta se havia algum médico a bordo ninguém piou, lá entrou o Juan de serviço. Vai-se tornando habitual e se correr sempre tudo bem como até aqui, ainda acabo a viajar à boleia!
Chegada ao aeroporto de Guarulhos, S. Paulo, pelas 8h00 de 18 de Nov. onde após desembaraço das formalidades do SEF e Alfândega, nos juntámos a um casal amigo, o Manuel da Cecília e mulher (ela é a Cecília!), que nos aguardava no átrio do aeroporto. Conduziram-nos até ao Parque Novo Mundo, um bairro de S. Paulo, onde tivemos o privilégio de usufruir em regime de exclusividade, de uma bela moradia, a “casa do senhor Fernando”, que ainda nem tive o prazer de conhecer, apesar de se encontrar a residir em Portugal.
Tendo como ponto de partida esta “base” situada praticamente no coração da cidade, iniciámos o roteiro das visitas e festejos que se prolongou por nada menos do que uma semana. Aproveitando as deslocações para revisão da matéria dada sobre transportes públicos nesta grande metrópole, fizemos um sassarico pelos arredores utilizando a sua excelente rede de Metrô, ônibus e comboios regionais. Num destes passeios demos uma saltada até Campinas com janta, pernoita e almoço do dia seguinte em casa de amigos de velha data, a família Meira.
Quando eu já nem me lembrava do que me tinha trazido a este país, eis que o meu “sócio” Luís saca o seu plano secreto e “orienta” outra estadia, desta vez em Bataguassu, no Mato Grosso do Sul. Foram mais de 700 Km feitos de uma tirada e vejam só, à boleia de outros dois grandes amigos, os senhores Oliveira e Virgílio, do Éden Bar de Campinas, que por coincidência tinham uns afazeres lá para aqueles lados. Foi uma viagem tão prazenteira que nem demos pelo passar do tempo. Às onze da noite estávamos em Bataguassu petiscando uma saborosa tilaia frita num restaurante típico, acompanhada, pela minha parte, com muita água e guaraná. Querem ver que ainda vou engripar outra vez?
Fomos recebidos pelo casal Joaquim e Cecília (outra Cecília), tios do Luís, que nos proporcionaram uma estadia inolvidável. O hotel Terra Nova de que são proprietários, situado no coração da cidade (Bataguassu), é uma verdadeira preciosidade. De dimensão e estrutura “familiar”, é gerido pela Cecília, pessoa de uma sensibilidade invulgar, alma de poetisa e também exímia artista plástica com formação académica de nível superior nessa área. Se o Joaquim, seu marido, foi o arquitecto como gosta de nos lembrar, a Cecília decorou cada recanto do hotel com trabalhos de pintura de sua autoria que, a meu ver, bem mereciam figurar numa exposição ao lado de “profissionais” reconhecidos.
Como não há mal que sempre dure nem bem que não acabe, hoje pela manhã tive que dar corda aos sapatos e de ônibus, cheguei pelas 15h00 a Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Têm caído fortes aguaceiros que revigoram o capim de que o gado se alimenta. Através da janela do autocarro pude observar uma paisagem monótona, em tudo semelhante à pampa Argentina, onde milhares e milhares de rezes da raça nelori pastoreiam livremente. Também se avistam vastos campos de soja, a cultura da moda por estas paragens. Criação de gado e culturas industriais como a da soja, cana do açúcar e oleaginosas não podem deixar de ter o seu impacto no meio ambiente. Mas este é um país imenso, com uma população de 200 milhões de pessoas que encontram no sector primário a principal fonte dos seus recursos.
No momento em que redijo este texto, são duas horas da manhã. Aguarda-me um pesado dia de trabalho pelo que tenho que abreviar! Estou instalado no hotel Gaspar situado no centro, propriedade de um português meu conhecido, o Sr. Melim. O Luís vai ficar mais um dia ou dois com os tios Joaquim e Cecília, devendo dar à costa entrtanto para ambos atravessarmos a fronteira com a Bolívia em Corumbá, que fica a um pulo daqui. Depois seguiremos para Santa Cruz de la Sierra, La paz e Cuzco. Darei notícias mais tarde. Até lá, sonhem com viagens e de preferência, pratiquem. Com o frio que aí faz, vão pensando como será andar por aqui, aconchegados por um bafo de uns trinta grauzinhos à sombra, de chinelo no dedo, calções e T shirt!
Juan_jovi@sapo.pt