O chassis já foi tratado. Monta-se a carroceria.
Moi, ao lado do Rui pintor.
Uma vista da mecânica.
Caixas de velocidade e de transferência.
Em chassis.
O Rui dá mais uma pistolada na caixa da roda.
Parcialmente protegido com papel e plástico durante alguns trabalhos de pintura.
A zona dos pedais, limpa como um laboratório.
À esquerda, o Rui pintor. À direita, o António bate-chapas.
Ei-lo, o único, o verdadeiro, o inigualável “salta-pocinhas”. Comprei-o novo na firma Adelino Morais das Neves, representante da British Leyland em Leiria, em Fevereiro de 1982. Fez agora 28 anos, é um jovem portanto. Na altura, não podia sequer adivinhar que a moda dos jipaços estava para chegar, pelo que me considero um pioneiro na utilização deste tipo de viaturas para fins particulares. Já então, o apelo da viagem-aventura, a evasão através de espaços sem limite nem fronteiras, chegar onde nem todos podiam, eram a marca de cada dia da minha existência. Ainda me recordo de como estive próximo do êxtase ao contemplar as imagens da brochura promocional que li e reli vezes sem conta antes de me decidir pela aquisição. Eram fotografias espectaculares obtidas em condições muito favoráveis de luminosidade natural e enquadramentos paisagísticos de sonho. Numas, podia ver-se aquela bela máquina em fatigue de trabalho (toldo de lona) ou traje de gala (capota fixa com janelinhas no tejadilho), perseguindo manadas de zebras ou gnus e outros bicharocos de maior ou menor porte, deixando atrás de si um rasto de pó na estepe africana. Noutras, deslizava suavemente sobre as dunas de um qualquer deserto num indolente e melancólico fim de tarde, ou trepava um cume íngreme e gelado, tudo imagens de fazer arrepiar de emoção. E de facto, esta velha máquina nunca defraudou as expectativas que nela depositei. Posso dizer que fez e continua a fazer parte da minha vida e da vida da minha família. No meu Land Rover, série III de 109 polegadas, uma das últimas unidades produzidas em todo o mundo, fiz algumas das viagens mais excitantes de que me recordo. Aprendi a rolar sobre leitos de pedra ou lama, atravessei oceanos de areia e cursos de água a dar pelo para brisas. Algumas vezes, para que os meus acompanhantes não corressem riscos desnecessários, fazia-os apear antes de atacar os pontos mais perigosos, recuperando-os à frente. Noutras ocasiões, todos partilhávamos do frenesim da intrepidez (estupidez?) natural que se apodera de nós quando a adrenalina começa a picar. Nessas ocasiões, no meio do tal silêncio ensurdecedor, a expressão que mais se ouvia dentro do habitáculo era “ó pai, tu és louco!”. E às vezes era. Mas o meu Land Rover não foi apenas objecto de diversão, foi também um carro de trabalho. Transportou lenhas, electrodomésticos, materiais de construção, peças de mobiliário … rebocou o Zodiac e a caravana Pyc, levou os filhos à escola e até a garotada da vizinhança se habituou ao sinal da partida quando fazia soar as buzinas a ar tipo “peixeiro”. Apareciam em magotes para apanhar boleia para mais um dia de aulas, causando a admiração dos passantes quando à porta da escola, o caudal de miúdos a saltar da viatura parecia não cessar. Depois, como o local de trabalho não era longe da escola, os meus putos tinham sempre um lugar para se recolherem durante um furo no horário, passar os olhos pela matéria uma última vez antes do teste ou fazer uma retemperadora sestinha! Foi tal a afeição que passaram a dedicar ao seu velho jipe que, passados muitos anos, quando lhes comuniquei o meu desejo de o trocar por um novo, desencadeei uma crise de pranto generalizado que só cessou com a promessa de que o velhinho ficaria na família para sempre. E a provar que o que se promete é para cumprir, estão as fotos acima, que mostram a minha relíquia após ter sido completamente desmantelada, encontrando-se actualmente em fase de pintura e montagem. A mecânica foi melhorada com a instalação de uma “over drive”, peça caríssima (1500 euros) que chegou em mão desde o fabricante em Vancouver, no Canadá, um acessório da caixa de velocidades que serve para desmultiplicar as dez que traz instaladas de origem. E “prontos”, aqui tendes a história resumida de uma geringonça que muito prazer e até alguns momentos de felicidade trouxe ao seu dono e familiares. E há-de continuar na mesma senda por mais um par de anos, agora com novos protagonistas das suas aventuras, os meus netos. Está a vestir-se …
Beijos e abraços do,
Juan_jovi@sapo.pt
Ei-lo, o único, o verdadeiro, o inigualável “salta-pocinhas”. Comprei-o novo na firma Adelino Morais das Neves, representante da British Leyland em Leiria, em Fevereiro de 1982. Fez agora 28 anos, é um jovem portanto. Na altura, não podia sequer adivinhar que a moda dos jipaços estava para chegar, pelo que me considero um pioneiro na utilização deste tipo de viaturas para fins particulares. Já então, o apelo da viagem-aventura, a evasão através de espaços sem limite nem fronteiras, chegar onde nem todos podiam, eram a marca de cada dia da minha existência. Ainda me recordo de como estive próximo do êxtase ao contemplar as imagens da brochura promocional que li e reli vezes sem conta antes de me decidir pela aquisição. Eram fotografias espectaculares obtidas em condições muito favoráveis de luminosidade natural e enquadramentos paisagísticos de sonho. Numas, podia ver-se aquela bela máquina em fatigue de trabalho (toldo de lona) ou traje de gala (capota fixa com janelinhas no tejadilho), perseguindo manadas de zebras ou gnus e outros bicharocos de maior ou menor porte, deixando atrás de si um rasto de pó na estepe africana. Noutras, deslizava suavemente sobre as dunas de um qualquer deserto num indolente e melancólico fim de tarde, ou trepava um cume íngreme e gelado, tudo imagens de fazer arrepiar de emoção. E de facto, esta velha máquina nunca defraudou as expectativas que nela depositei. Posso dizer que fez e continua a fazer parte da minha vida e da vida da minha família. No meu Land Rover, série III de 109 polegadas, uma das últimas unidades produzidas em todo o mundo, fiz algumas das viagens mais excitantes de que me recordo. Aprendi a rolar sobre leitos de pedra ou lama, atravessei oceanos de areia e cursos de água a dar pelo para brisas. Algumas vezes, para que os meus acompanhantes não corressem riscos desnecessários, fazia-os apear antes de atacar os pontos mais perigosos, recuperando-os à frente. Noutras ocasiões, todos partilhávamos do frenesim da intrepidez (estupidez?) natural que se apodera de nós quando a adrenalina começa a picar. Nessas ocasiões, no meio do tal silêncio ensurdecedor, a expressão que mais se ouvia dentro do habitáculo era “ó pai, tu és louco!”. E às vezes era. Mas o meu Land Rover não foi apenas objecto de diversão, foi também um carro de trabalho. Transportou lenhas, electrodomésticos, materiais de construção, peças de mobiliário … rebocou o Zodiac e a caravana Pyc, levou os filhos à escola e até a garotada da vizinhança se habituou ao sinal da partida quando fazia soar as buzinas a ar tipo “peixeiro”. Apareciam em magotes para apanhar boleia para mais um dia de aulas, causando a admiração dos passantes quando à porta da escola, o caudal de miúdos a saltar da viatura parecia não cessar. Depois, como o local de trabalho não era longe da escola, os meus putos tinham sempre um lugar para se recolherem durante um furo no horário, passar os olhos pela matéria uma última vez antes do teste ou fazer uma retemperadora sestinha! Foi tal a afeição que passaram a dedicar ao seu velho jipe que, passados muitos anos, quando lhes comuniquei o meu desejo de o trocar por um novo, desencadeei uma crise de pranto generalizado que só cessou com a promessa de que o velhinho ficaria na família para sempre. E a provar que o que se promete é para cumprir, estão as fotos acima, que mostram a minha relíquia após ter sido completamente desmantelada, encontrando-se actualmente em fase de pintura e montagem. A mecânica foi melhorada com a instalação de uma “over drive”, peça caríssima (1500 euros) que chegou em mão desde o fabricante em Vancouver, no Canadá, um acessório da caixa de velocidades que serve para desmultiplicar as dez que traz instaladas de origem. E “prontos”, aqui tendes a história resumida de uma geringonça que muito prazer e até alguns momentos de felicidade trouxe ao seu dono e familiares. E há-de continuar na mesma senda por mais um par de anos, agora com novos protagonistas das suas aventuras, os meus netos. Está a vestir-se …
Beijos e abraços do,
Juan_jovi@sapo.pt