Dístico do passeio, afixado sobre o capôt das viaturas.
Na rota das aldeias históricas.
Primeiro dia,de Pombal até Almeida.
Cumpriu-se na passada quarta feira dia 26 de Maio o primeiro troço de mais um passeio que os “Amigos dos Carros Antigos” de Pombal realizam com alguma regularidade, buscando neles e acima de tudo, a mais pura e alegre camaradagem assim como o enriquecimento pessoal que sempre resulta do facto de em cada tour, se conhecerem novas terras e gentes. Desta vez apontámos como destino final para o primeiro dia do passeio, a belíssima vila de Almeida que muitos já conheciam, mas cuja revisita nunca cansa!
O local escolhido para a concentração foi o parque de estacionamento do restaurante Manjar do Marquês, uma das nossas melhores salas de visita, onde os retardatários do costume não chegariam antes das 08h15. Alinharam à partida 12 viaturas e um total de vinte e seis magníficos e magníficas. Depois de um curto briefing, fizemo-nos à estrada tomando o IC8 que de Pombal nos conduziu, sempre a abrir, até ao entroncamento com a A23. Não sem antes fazermos uma pausa na Pedra do Altar para arrefecimento de motores e aquecimento de espíritos, com o primeiro cafezinho da manhã. Para trás ficaram localidades merecedoras de visita como Figueiró dos Vinhos, Sertã ou Proença-a-Nova que, por fazerem parte do nosso roteiro habitual, haverão de contar connosco em próxima oportunidade.
Já na A23, prego a fundo e fé em Deus, as máquinas mostraram o quanto ainda estão para as curvas e num ápice levaram-nos até ao ponto em que passámos das corridas à marcha descontraída rumo a Sortelha, a primeira das aldeias históricas a ser visitada. Por ser um dia útil ou por escassez de algo de que muito se tem falado ultimamente (!), o nosso grupo não encontrou outros visitantes pelo que, calmamente e sem tropeções, saboreamos o passeio, caminhando através das estreitas vielas da aldeia ou sobre a muralha do seu castelo. A paisagem que daqui se avista é vasta e deslumbrante, podendo os nossos olhos nus chegar facilmente até aos contrafortes da serra maior, a da Estrela. O ar puro e a calma voluptuosa que a todos envolve abriram-nos o apetite para o almoço previamente combinado para as 13h30 no restaurante Robalo do Sabugal. Mas peixe não puxa carroça e se o robalo é muito apreciado – o cherne ainda é melhor, lembram-se? -, passar por esta região sem experimentar o cabrito há-de ser, certamente, delito grave contra qualquer coisa! Atirámo-nos a ele, à unha e com dentes, muito, grelhado, acompanhado com excelente pão e uma saladita a disfarçar. Quanto a águas nada posso dizer porque sendo adorador de um Deus abstémio … mas diziam ao meu lado que a pinga era boa. E tão boa devia ser que, depois da refeição, as pernas fraquejavam e o corpo só pedia uma sesta e assim, a visita à cidade e seu castelo já foi um pouco penosa, conteve laivos de punição pelos exageros da mesa. Terminada a visita voltámos aos automóveis saindo em direcção à vila de Alfaiates, terra de contrabandistas e outra gente boa de quem guardo gratas recordações que vêm do tempo da minha juventude, quando a partir daqui, alcançava terras de Espanha com passaporte de lapin! Alfaiates, por ser pequena e distante, não deixa de merecer uma visita com olhos e ouvidos bem atentos por duas ordens principais de razão. Sendo a primeira aquela que tem a ver com a natureza dos seus habitantes, gente franca, desconfiada à partida mas logo acolhedora e amiga da galhofa como pudemos comprovar num breve convívio. Depois, pelo seu património construído que engloba uma aldeia raiana típica, as igrejas matriz e da misericórdia, castelo, cruzeiro e na proximidade (2Km), o mosteiro erigido em honra de Nª Sª de Sacaparte, onde os monjes da ordem de S. Camilo de Lellis se dedicavam a apoiar doentes e peregrinos. Trinta quilómetros à frente e estávamos na outrora cosmopolita e movimentadíssima Vilar Formoso, hoje uma sombra do que foi até à abolição de fronteiras, a lembrar as cidades fantasma do oeste mineiro da América. Já não se vêem, como antigamente, as longas filas de camiões a aguardar pelas formalidades aduaneiras nem emigrantes ou turistas ansiosos por entrar em território nacional ou partir à descoberta da Europa. Extinguiram-se os escritórios dos despachantes, as casas de câmbio estão vazias e as bombas de combustível às moscas. O panorama é tão sombrio que até me faz ter saudades do tempo em que com o maior à-vontade fintava a guardia civil e fiscal com os meus pecadilhos de então!
Por esta hora o cansaço já pesava. Na pousada de Almeida, outrora da Enatur e agora Hotel Parador, aguardava-nos o quarto reservado onde uma banhoca sumária nos remeteu à forma para apreciar o jantar servido pelas 20h30 nas suas instalações. Depois … não houve veleidades para mais, apenas cama e bons sonhos porque o dia seguinte se afigurava duro!
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