terça-feira, 20 de julho de 2010

76 - Como o Rio de Janeiro (na canção de Gilberto Gil), a Fuzeta continua linda.

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Fuzeta, "praia dos tesos". Assim chamada porque os seus frequentadores não gastam a "nota" na aquisição do bilhete para o barco da carreira que os transportaria para a ilha. Ao fundo, a antiga estação de socorros a náufragos, há muitos anos desactivada.

Um dos barcos ao serviço dos banhistas amantes das areias da ilha, circulando como manda a lei por fora da linha de boias. Fica rspaço para se poderem tomar uns pirolitos em segurança!

Ainda outro barco, este de menor porte.

Praia dos tesos, próximo da área de apoio junto ao farolim da Fuzeta.

Uma vista da ilha da Fuzeta, agora sem as badaladas construções clandestinas. Podem ver-se as retro-escavadoras reforçando a duna com areias dragadas do canal navegável.

Outra vista da mesma praia (dos tesos). Em 2º plano, o casario da Fuzeta.

Junto à" área de serviço"
Canal de acesso à doca e marina.

O "amarelito"!

Procissão trazendo de regresso ao seu domicílio habitual na Igreja do Livramento, Nª Senhora (do livramento), padroeira dos "bacalhoeiros", que no passado fim de semana andou em digressão pela Fuzeta tendo participado nos festejos do mar.

A mesma procissão acompanhando o andor de Nª Senhora a "corta -mato", pelos caminhos das salinas.

E a banda a marcar o ritmo da passada.

Outra imagem da procissão, já próximo do local de destino.

E aqui, na minha rua.

A banhos ... com bom tempo e bandeira azul!

Rectificação:
O meu último post mereceu por parte de uns brincalhões meus amigos, alguns comentários de cariz jocoso aos quais até achei graça. Atribuí-lhes a paternidade ao João Isidoro e impliquei na trama a sua filha Sandra, já que o pai é um cepo no que toca a trabalhar com computadores. Afinal enganei-me, mas só parcialmente. A Sandra encontra-se no Canadá na prossecução da sua brilhante carreira académica e está, portanto, completamente inocente. Para ela segue o meu pedido de desculpas. Quanto ao João (rato, magrinho, minhoca …), esteve presente, logo, foi cúmplice e é tão culpado quanto o verdadeiro autor e chefe da pandilha, o seu primo dom Nuno Corleone, autor dos dislates.
Vamos então ao tema de hoje, objecto da presente comunicação. Conheci a Fuzeta há cerca de quarenta anos, num tempo em que os jovens machos saíam muito mais cedo da casa paterna, usavam patilhas a chegar ao queixo, barba de quinzena e cabelo pelos ombros. O meu retrato, tão ridículo que ainda hoje me faz doer, ficará completo se disser que montava uma BSA de 350 cc a queimar petróleo e gasolina a meio por meio pois assim a deslocação ficava mais baratinha, um chapéu preto de copa e aba larga à mormon e como vestimenta, fosse verão ou inverno, não precisava de mais nada para além do seboso casaco de antílope forrado a lã artificial que me havia sido oferecido por uns parentes que tive em França, numa ocasião em que lá apareci por altura do Natal, com pouco mais do que a primeira roupa que a minha mãe me deu.
Estaríamos nos primeiros anos da década de setenta quando vim ao Algarve pela primeira vez. A mourama daqui era muito diferente da de hoje. Na sua maioria aldeãos ou pescadores, poucos tinham ofício na área do turismo e os camones eram raros. Comecei por me familiarizar com o terreno batendo a costa desde o cabo S. Vicente até V.R. Stº António. Alimentava-me do que a terra dava e os donos não chegavam a ver (figos, amêndoas e uvas), dormia sob o teto do hotel mais estrelado que há e, como diz um parvalhão que manda uns bafos na TV, nessa digressão fui muito feliz aqui por todo o Algarve.
Arribei à Fuzeta numa tarde de finais de Agosto, num transfer que me trouxe directamente dos relvados que circundavam o hotel Júpiter, então recém inagurado na Praia da Rocha, onde me aboletei por um par de noites. Aqui chegado, aqui porque é onde me encontro hoje, deparei com um povoado com a categoria administrativa de vila mas que não era mais do que um lugarejo habitado por pescadores e suas famílias. Mais pelas famílias do que pelos pescadores, porque naquela época a maioria dos homens dedicava-se à pesca longínqua, muitos iam até à Terra Nova ao bacalhau. Também existia, naturalmente, quem se dedicasse à pesca local, às armações do atum e à indústria daí derivada (conservas). Tudo isso desapareceu como por magia, da negra, pois agora temos uma zona ribeirinha e uma ria que já foi formosa e alimentava milhares de famílias, completamente esgotadas de recursos.
Cadê os mariscadores que acordavam ao rimo da maré para se porem à cata da bela conquilha da ria, do berbigão com que se preparava o xerém, do lingueirão ou navalhas que faz um arroz de comer e chorar por mais ou dos deliciosos carcanhóis (espécie de ostra selvagem) abertos na chapa?
A pobreza, notória hoje em dia, anda de mão dada com o desemprego. Perderam-se as artes e ofícios tradicionais e como nem todos podem ser doutores, muitos sobrevivem à custa de esquemas. Não possuo nenhum estudo sobre a matéria e o fenómeno não será diferente daquilo que ocorre em outras regiões do país mas, mesmo sem óculos, noto que na classe outrora chamada dos trabalhadores existem manifestações de desorganização social e familiar agravada pelo consumo excessivo de álcool e substâncias proíbidas.
Em termos de paisagem urbana, a Fuzeta de hoje mantem-se reconhecível. Cresceu, evidentemente, não acima do terceiro ou quarto pisos em altura, e ocupa um bom pedaço a mais da faixa entre a 125 e a ria. E onde, naquela tarde de Agosto dos idos setentas observei uma companha de pescadores desembaraçando as artes à sombra de gigantescos e frondosos eucaliptos, existe hoje um parque de campismo, frequentado principalmente por holandeses que aqui passam o inverno, e constitui a principal fonte de receita da Junta de freguesia local.
No Verão, a vila torna-se mais cosmopolita e o que não falta por aqui são lisboetas, nome dado pelos locais a todos quantos chegam de uma latitude acima do rio Sado. São irritantes qb, estacionam as carripanas tal como estão (ou estavam?) habituados a fazerem na sua terra: Em cima dos passeios, no interior e sobre as placas centrais das rotundas, pisando relvados que custam uma fortuna em manutenção … Depois, há a questão da ocupação do espaço do domínio público marítimo, vulgarmente conhecido por areal. Nas praias da linha ou na Caparica (agora por snobismo ou imperativo gramatical alguns dizem Costa de e não da Caparica), observo como gostam de se sentir aconchegados; estendem a toalhita sobre a orla da do vizinho! Aqui, mantêm usos e costumes, o que me irrita solenemente uma vez que, tendo nascido sem sorte nenhuma, debaixo do meu sombrero não alapa nada de jeito!
Que mais poderei dizer no sentido de vos convencer de que vale muito a pena visitar este pedacinho de Algarve? Em primeiro lugar, ainda é um sítio com alma e bem portuguesa. Estrangeiros, há-os, mas batem a bola baixinho e respeitam os que estão para cá do Marão. As ruas são das famílias e nelas fala-se maioritariamente o português com o engraçado sotaque do sul. Tem um Rossio com três esplanadas tipo café-bar-restaurante. Neste local é preciso ter cuidado com os bancos de jardim situados sob as palmeiras, os xaréus bombardeiam os incautos com a precisão de um Tomahwak! A poucos passos, no sentido da ria (sul), encontra-se a avenida marginal ou se preferirem o passeio marítimo que não terá mais de 250 metros. No lado nascente desta artéria topamos com uma pequena lota, um pequeníssimo mercado e uma bela marina natural e portanto grátis, ao longo do canal da Fuzeta. A meio, o mais bem localizado Camping que conheço. Dali até à água … é só atravessar a rua e estamos na praia dos tesos, calma, de águas tépidas e excelente para a criançada aprender a nadar. Do lado poente, temos mais um renque de palmeiras oferecendo uma linha de sombra de sabor tropical a meia dúzia de cafés com as respectivas esplanadas, onde decorre boa parte da vida nocturna da pacata localidade. Às vezes, com música ao vivo e sempre com muita animação. Ao lado do parque de campismo existe uma espécie de polidesportivo onde à noite se joga, sobretudo futebol. Para além de tudo isto, há uma sala de cinema do tempo dos afonsinhos onde os cotas podem matar saudades das salas da sua juventude, uma biblioteca da Gulbenkian (com internet), festas e feiras de bric-à-brac (velharias), gente boa e amistosa e preços à medida da carteira dos indígenas.
Em matéria de festejos, decorreram este fim de semana aqueles que se realizam em honra de Nª Sª do Livramento, padroeira dos bacalhoeiros. Como em quase todas as cerimónias religiosas especialmente participadas pelas gentes que fazem do mar o seu ganha-pão, também aqui se realiza uma procissão naval na qual, um comboio de embarcações engalanadas se dirige através da Ria até à povoação do Livramento para recolher a Senhora e o respectivo andor. Regressam ao ponto de partida e deste modo chegam até junto da multidão que, em pesado silêncio, aguarda a sua chegada no cais da Fuzeta. Deixo aqui uma pequena nota que reputo como curiosa a propósito do regresso da Santa ao seu domicílio oficial, no lugar do Livramento. O trajecto é feito a pé através dos caminhos das salinas, ao toque de caixa e em passo acelerado! Passaram na tarde de hoje, segunda feira 19/7 à minha porta!
Mas o grande trunfo da Fuzeta está, sem dúvida, na sua ilha. Um cordão de areia limpíssima com vários quilómetros de comprimento e uns duzentos ou mais metros de largura, banhada pelas cristalinas águas do Atlântico, agora liberto das casas clandestinas que durante dezenas de anos poluíram esta paisagem, singular em toda costa portuguesa. Tirando uma área relativamente restrita junto ao ponto onde atracam os barcos da carreira que incessantemente levam e trazem os banhistas que a partir da doca da Fuzeta demandam as salsas ondas numa viagem que dura menos de dez minutos, não se vê vivalma. Assim, quem levar o que comer, pode aproveitar a cumplicidade das dunas e saciar-se, encher papinho, ninguém por perto a chatear!
Pois não tem nada que saber, no cruzamento de Alfandanga junto às bombas da Repsol, virem à direita e chegaram!
Até breve e continuação de boas férias se for esse o caso.
juan_jovi@sapo.pt

1 comentário:

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