sábado, 16 de junho de 2012

100 - Hallo Leute!

Hallo Leute!
(Ói, pessoal!)

Navios, pombos e pessoas.

Alguns, apenas alguns dos meus posts, são escritos a pensar especialmente na minha família e nos amigos mais chegados que todos os dias aqui veem bisbilhotar à procura de notícias frescas e fotografias. É para eles que, com todo o gosto, num invulgarmente lindo sábado de manhã e depois de uma semana “arrasadora”, me dedico a teclar esta mensagem. E a todos os visitantes que, mesmo não me conhecendo pessoalmente, acham que eu sou um tipo que "merece ser lido". Muito obrigado. 
Vou então começar por aquilo que até poderia ser a fonte dos meus tormentos … mas não é, der Kurs! Está nos conformes, embora eu ache que a carga horária diária (08.15-13.00) é demasiado pesada, tendo em conta a quantidade de horas de estudo que já levamos no pêlo todas as manhãs. Não tem sido raro pôr-me na vertical pelas quatro da madrugada que foi a hora a que o passarinho cantou (no Alentejo!), para concluir os TPC's que Frau Elvira Bauer, die Lehererin nos impinge diariamente. Vá lá, na passada sexta feira, talvez porque estivesse particularmente satisfeita e feliz (terá visto o padeiro?), deixou-nos o fim de semana livre!
Alguns dos meus colegas vão agora regressar aos seus países, por isso, os últimos dias de aulas já contiveram uma componente de avaliação, extensiva todos. Eu, porém, resolvi expandir um pouco mais os meus conhecimentos, talvez melhor dito, mitigar um pouco a minha ignorância e converti o meu esquema inicial noutro, duas semanas mais longo. Portanto, só poderei dizer Fertig! (terminado), lá para a primeira semana de Julho.                                 
Terão reparado que atrás sublinhei a palavra madrugada. Como sabemos, quanto mais elevadas são as latitudes mais curta é a noite nesta altura do ano, sendo mínima no Solstício de Verão. Aqui, onde estou a residir, e ainda estamos no sul da Alemanha, há luz solar quase até às 22h00 e às 4 da matina já é dia claro. Este facto, juntamente com outros, tem-me baralhado o neurónio (!) como passo a explicar.
Quando numa viagem de avião mudamos de país e se entre a respectiva residência habitual e o local de destino vai a distância de um continente, surgem no nosso organismo certas alterações nas funções biológicas que atribuímos ao chamado jet lag. Perturbações do sono e consequentemente do humor, alterações no regular funcionamento da tripalhada, cansaço fácil, são alguns dos itens que fazem parte do quadro de mal-estar de que se queixam muitos viajantes de longo curso. Fenómeno certamente bem estudado, até porque envolve muitos trabalhadores das companhias aéreas, mas cuja fundamentação científica desconheço.
No entanto e embora não se trate do mesmo fenómeno, sempre tenho algumas ideias àcerca do desconforto que afecta os galdérios, pelo menos durante alguns dias, quando em missão a longa distância. Às vezes basta-lhes sair de casa! Vou partilhá-las convosco. Então aqui vai!
Enquanto aluno do curso superior de pilotagem da Escola Náutica, aprendi o seguinte: Sabe-se que toda a matéria de que se compõe o planeta, incluindo a atmosfera e os nossos próprios corpos, se encontra sujeita à acção do campo magnético terrestre. Este caracteriza-se entre outros, pelas variáveis a) Intensidade do campo e b) Orientação das suas linhas de força. Estas, vou chamar-lhes “características”, sofrem alteração com o decorrer dos anos e o local onde nos encontramos. Há muito mais a dizer sobre o assunto, mas essa é matéria para académicos.
Ora, quando um navio é construído num estaleiro localizado por exemplo, na Ásia, os ferros utilizados na construção desse navio conferem-lhe as propriedades de um dipolo magnético que sai com a “marca" do campo (estaleiro) onde “nasceu”. Esta é tanto mais intensa quanto mais intensa foi a vibração provocada pela força das marteladas e maior o aquecimento devido às soldaduras. Como o valor da declinação da Agulha Magnética (Bússola), ou seja o ângulo entre as direcções do polo magnético e do polo geográfico depende do campo magnético terrestre e do campo magnético do próprio navio, quando este vem navegar por exemplo, em águas do Atlântico, tem que se proceder à “compensação do erro” através de certas manobras que levam ao acerto ou calibração da Agulha. Mais ou menos como quem acerta um relógio comprado na feira de Carcavelos! Caso contrário dá buraco e as bananas da Madeira até poderiam ir visitar as primas … do Brasil. Bem, pode-se exagerar um pouco, mas não tanto!
Dizem também alguns estudos que, pelo facto de a medula óssea dos pombos ser rica em átomos de ferro, estes se comportam como micro-ímanes volantes. Dentro da sua pequena cachimónia, o bicho disporá de algum dispositivo bioneural que lhes permite distinguir as linhas de força do seu próprio campo magnético e assim consegue encontrar o pombal onde foi criado. Nem sempre! Porque o amor acontece, se numa largada uma pomba simpática esvoaçar no seu espaço aéreo, podem ir ambos parar ou ao dele ou ao dela!
E nós? Nós comportamo-nos como magnetos, apenas maiores do que os pombos e como eles com muito ferro a bordo. Basta aludir à composição dos glóbulos vermelhos.
Nesta linha de pensamento, é de admitir que possuamos também o nosso próprio campo magnético, encontrando-se este sujeito interacção com o C. Magnético terrestre, característico dos locais onde vivemos ou para onde viajamos.
Hoje em dia, com tanta gente a pôr a cabeceira às avessas ao deslocar-se constantemente de um sítio para outro, mudando de residência e de local de trabalho como quem muda de sapatos, quem pode garantir que não andam também com a “agulha” meio tonta? Ou tonta de todo, o que até poderia explicar as neuras que por aí andam e estão sendo uma excelente mina para os shrinks!
No passado, o sedentarismo dos nossos avós permitia-lhes tirar conclusões expeditas ou empíricas de muitos factos da vida quotidiana. O Borda d’Água foi e ainda é um bom repositório desses conhecimentos. Quer se trate de saber do tempo que vamos ter durante as férias, em Agosto, ou da melhor lua para levar a marrã ao machio … está lá tudo! Trago isto à baila porque sempre me lembro de ouvir dizer aos velhos que a cabeceira da cama nunca deve ficar voltada para, poente, acho eu, mas não tenho a certeza. Meus caros, tendo a cabeceira voltada nem sei para onde, com a minha agulha completamente flipada, acordando todas as noites(?) por volta das 03H30 com a claridade do sol nascente, à mesma hora em que um fdp de um passaroco entesoado começa a cantar, em alemão, no parapeito da minha janela, admito, não tenho passado muito bem quanto a humores. Sendo a disposição daquelas em que só apetece comer maçãs azedas, cavar vinha e rogar pragas, estou ansioso por regressar ao meu pombal, em Pombal, ainda que sem pomba!
Só mais um bitate: Enquanto o portuga bebe a sua pinguita diariamente, estes alemães são do camano, guardam o stock inteiro para as libações do fim de semana. Como se pode imaginar, para alguns e algumas a coisa vai de caixão à cova. Ainda esta noite, eram duas da manhã, tive de mudar de quarto devido a um interminável sarrabulho, direkt unter meinem fenster (mesmo sob a minha janela), entre uma pipa de vinhaça e outra de cerveja! Pelo que entendi, ele queria, ela também, mas primeiro deu a outro. E ele ficou chateado…ora essa! Ou terá sido ao contário, já que era ela quem mais berrava!?
Tschüss! (tchau!)

1 comentário:

  1. Crónica nº100,curioso nº!
    Para quando a edição em livro?
    Espero que tenha feito cópias de segurança.
    P.S.
    TPC:editar o top 10 em edição bilingue portugesa/alemã e oferecer à Frau Elvira Bauer.Lá se foi o fim de semana livre.Ah ah...
    Abraço!
    Luís

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