quarta-feira, 1 de junho de 2016

164 - Guiné Bissau.


Visitar um amigo que já não vemos há muito tempo, é muito bom. Encher os olhos com a beleza de uma paisagem da qual já sentimos saudades, faz bem à alma, até ao corpo, desconfio eu. Fazer tudo isto de forma imprevista é óptimo.
Faz hoje uma semana que cheguei a Bissau. O convite surgiu de forma inesperada por parte do meu grande amigo Manuel Neves, na passada terça feira, 24/05, por volta da hora de almoço. Assim:
- Amanhã vou até à Guiné, acompanhas-me?
- Fds, Manel, mas  então é assim em cima da hora que me avisas? Eu até ando com vontade de dar uma saltada até lá, mas … assim não dá, até porque comecei ontem a chocar uma bruta de uma constipação!
- Óh Vitor, vai p’ró c., prepara lá a malinha e amanhã às 05h30 estarei à tua porta para seguirmos para o aeroporto (Lisboa).
De facto, não tive muito o que pensar; a mochila está sempre aviada e em ordem de marcha, o bilhete compra-se online em poucos minutos e não necessito de visto por ter o estatuto de residente. E foi tal qual que as coisas se passaram. Falta-me esclarecer que o M. Neves é um amigo de longa data e empresário com uma forte relação comercial com a Guiné Bissau, sendo pessoa muito estimada por estas paragens, com quem já fiz outras viagens num passado algo distante.
À nossa chegada, os sempre solícitos e competentes funcionários do SEF deram-nos uma ajuda nas formalidades da Imigração e, num abrir e fechar de olhos, o motorista do Neves que nos aguardava junto à viatura de que é responsável, fez-nos percorrer os cerca de seis Km que separam o aeroporto Osvaldo Vieira do centro da cidade.
Os três dias seguintes foram muito duros pois a minha constipação atingiu aqui o seu pico e eu sem mezinha (remédios em crioulo) para atenuar os sintomas, não tive outro remédio senão ficar no choco. Ao quarto dia voltei a ficar como novo e comecei então a dar uns passeios pela cidade recolhendo algumas imagens fotográficas que convosco compartilho.
Este é um país que, graças às suas singularidades político sociais, não deixa de nos surpreender, nem sempre pela positiva, como é do conhecimento geral. Com largos momentos de ansiedade gerada pela incerteza em que a vida, a vida de todos, parece suspensa de algo muito importante que está para acontecer. Ainda mal tinha posto os pés neste para mim, querido país e já se ouviam através da comunicação social os primeiros ecos da decisão controversa do Sr. Presidente da República ao nomear para primeiro ministro o Sr. Baciro Djá, elemento estranho ao partido ganhador das últimas legislativas, o PAIGC. No largo fronteiro ao palácio presidencial chamado praça dos Heróis Libertadores, rapidamente se concentraram manifestantes, contramanifestantes, Polícia e Guarda Nacional que, com recurso a umas fortes bastonadas e jactos de água, conseguiram apagar os pneus ardentes e atenuar a vontade de pelejar dos contendores. A noite saldou-se por uns quantos vergões no lombo de alguns, cerca de uma dúzia de cabeças rachadas rapidamente suturadas na urgência do Hospital Simão Mendes e sobretudo, muitos protestos na comunicação social por parte de … todos! Entretanto, constituiu-se e tomou posse uma espécie de geringonça à portuguesa que não ata nem desata dado que o novo executivo não consegue governar porque o anterior literalmente barricado no interior dos edifícios ministeriais, não o permite. Isto é que temos aqui um caldinho, hein? Parece que tudo se conjuga para haver borrasca e da grossa, vamos ver.
Por falar em borrasca, o território da Guiné está neste momento sob influência da monção, ainda muito no início, com relâmpagos longínquos a iluminar um magnífico céu nocturno tão belo que nunca contemplei outro igual senão em África. É a chamada época das chuvas que se há-de vir afirmando até atingir o auge em Agosto para terminar em meados de Novembro. As primeiras chuvas deste ano caíram com força cataclísmica na terceira noite após a minha chegada. Foi uma chuvada diluviana que durou cerca de uma hora durante a qual as comportas de S. Pedro se abriram para que milhões de toneladas de água desabassem sobre a ressequida terra aplacando a sede de animais e plantas. Como que em agradecimento, no dia seguinte já se viam brotos de capim a verdejar.
No interior do enorme 767 da  Euroatlantic. Apenas meio cheio.

A nossa viatura estacionada em frente à Embaixada de Portugal.

 
O meu apartamento. Aqui o quarto com todas as comodidades inclusive o indispensável ar condicionado

Esta é a cozinha onde confecciono algumas refeições, especialmente caça.

Na tabanca com amigos. Da esquerda para a direita, Braima, homem grande de Bula, Fodé e Samora, ambos colaboradores do M. Neves.

O Neves junto às sua instalações (armazém) em Bissau.

Aqui no escritório com o seu amigo e colaborador de longa data, sr. Júlio Yé.

Uma vista da esplanada da Pastelaria Império, situada muito próximo do palácio presidencial.

Praça dos Heróis Libertadores onde houve porrada de três em pipa,  muitas bastonadas e cabeças rachadas na noite em que saiu a nomeação de Baciro Djá como primeiro ministro.

Interior da pastelaria Império para que não se pense que na Guiné não se comem bolos!

E uma vista exterior da mesma.

Uma rua da cidade.

 Principal igreja católica de Bissau.
Despojos de velho navio no porto de Bissau

O rio Geba que banha Bissau e é a sua única porta de entrada ou saída para o Atlântico.

O cais do Pidgiguiti.

Navio atracado no porto de Bissau.

Zona marginal vista a partir doa cais.

Monumento a Amílcar Cabral na zona portuária, verdadeira sala de visitas da cidade.
Para os que ainda guardam a recordação: Por detrás da estátua à esquerda, fica a antiga Casa Gouveia

Moderno bar no mesmo local.



O Punho de Simba, escultura alegórica da força e determinação das vítimas do alegado massacre do Pidgiguiti.

Ainda junto ao porto, símbolo rotário e posto da Galp.

Rua e casa de Bissau Velho.

 Forte da Amura, hoje quartel de tropas guineenses.
Contentores aguardando movimentação no porto de Bissau.

O outrora belo jardim-parque da Amura.

No mesmo parque, um curioso tronco de árvore com passagem no seu seio.

Outra vista do Forte da Amura.

 No mesmo forte, árvore centenária. Já existiria no tempo dos pioneiros portugueses?

 Uma irónica "indicação" no interior do complexo hospitalar Simão Mendes. 

Partilharei outras fotos no próximo post.

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