quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

53 - De Santa Cruz a La Paz.

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"Columbus", o nosso hotel em La Paz.



La Paz, Plaza de Armas. Na foto de cima, Igreja de Nª Sª de La Paz. Nesta, pode observar-se ao fundo, anexo à Igreja, um edifício com a bandeira hasteada onde o Presidente tem o seu gabinete de trabalho.

Pl. de Armas. Ao fundo, o edifício do Congresso.

Pl. de Armas. À esquerda, a fachada da Basílica de Nossa senhora de La Paz, padroeira do país.

O Luís junto ao Monumento da Pl. de Armas.

La Paz. Uma rua comercial do centro histórico.

Outra rua da cidade de La Paz.

La Paz. Viela da cidade velha.

O Luís com o nosso guia Martin numa rua de La Paz, que dá acesso ao Museu etnográfico.

Museu etnográfico de La Paz. Nesta fotografia, uma cholita (jovem solteira), usa o sombrerito ligeiramente inclinado sobre a testa dando assim indicação aos eventuais pretendentes de que se encontra descomprometida. Esta jovem viveria numa zona baixa dada a cor clara do vestuário que se torna mais escuro à medida que a região de origem sobe em altitude.

Museu etnográfico de La Paz. A foto representa uma chola, mulher aymara casada. Usa um sombrerito feito por medida (para que não caia), numa posição perfeitamente horizontal relativamente à testa. Note-se a característica manta tecida à mão a partir de materiais muito resistentes e indeformáveis em que entra a lã de vicunha, iaque ou lama. A mulher ata as pontas da manta sobre o peito transformando-a numa espécie de alforge no qual transporta os filhos pequenos, as compras ou os produtos que vende na praça ou na rua. As mãos devem manter-se permanentemente livres.

Traje de um varão Inca.
La Paz. Pormenor da Casa-Museu do patriota Pedro Murillo.

La Paz. O centro e os altos.

La Paz. Miradouro de Kelly.

La Paz. Vista panorâmica a partir do miradouro de Kelly.

La Paz. Nesta foto pode observar-se o espinhaço montanhoso da cordilheira andina rodeando a cidade. Ao fundo avista-se uma das antenas que nos serviu como ponto de referência durante a escalada até ao miradouro do sagrado Coração.
La Paz, outra vista a partir do miradouro de Kelly.
La Paz, uma vista da cidade com um grande plano do seu Estádio.

O tempo começava a escassear. Os dias de folga em São Paulo e Bataguassu iriam custar-nos a reformulação do plano de viagem de modo a chegarmos a Cusco até à data limite de 8 de Dezembro, devendo contar já, nessa data, com os indispensáveis 3 ou 4 dias de aclimatação à altitude. Iríamos por isso curto-circuitar o trajecto deixando para segundas núpcias preciosidades como Cochabamba, a capital do chaco, Sucre e Potosi. Tomada a decisão, voamos com a Aero-Sur de Santa Cruz para La Paz, a capital boliviana, onde chegámos pelas 14 horas de 4 de Dezembro. Foi um voo tranquilo, feito sob condições atmosféricas excepcionalmente favoráveis o que nos permitiu visualizar toda feérica beleza da cordilheira andina com picos cobertos por neves eternas, gargantas profundas cavadas entre escarpas nuas e lá no fundo, pequenos vales de um verde luxuriante acompanhando o curso de rios ou bordejando pequenos lagos alimentados pelas águas do degêlo. Na quase monocromática paisagem, predomina o tom ocre matizado pelo branco resplandecente dos glaciares. Numa cortesia do comandante e sua tripulação, fizemos um sobrevoo em círculo sobre a cidade com uma fantástica aproximação ao Illimani, um cume nevado com mais de cinco mil metros de altitude que parecia estar ali á mão. Este pico domina a região de La Paz e o seu nome significa numa língua local águia dourada porque, explicaram-nos, quando tingido pelos raios do sol poente, o seu contorno sugere uma refulgente águia preparando-se para levantar voo. O desembarque fez-se sem sobressalto, mas mal havíamos percorrido as primeiras dezenas de metros do túnel que nos conduzia à área de recuperação de bagagens e já estávamos sem fôlego! Bem nos tínham avisado de que devíamos tomar uma infusão à base de folha de coca a que os locais chamam soroche. Segundo eles, ajuda a combater o mal da altitude que aqui se cifra pelos quatro mil metros. Não estávamos sós nesta incapacitante miséria, outros em condição idêntica, pura e simplesmente detinham-se a cada passada, davam pequenas palmadas sobre o tórax ou abanicavam a mão em leque à frente do nariz. Para maior desconforto, estando nós vestidos com T shirt e calções, um aguaceiro gélido abateu-se sobre a área do aeroporto no momento em que procurávamos transporte para o centro da cidade situado à distância de uma meia hora de carro. Claro que havia táxis disponíveis cujos condutores disputavam a atenção dos eventuais clientes, mas por norma adoptámos o transporte público como meio para os transfer.
Pela módica importância de cinquenta cêntimos de euro cada, tomámos assento numa viatura a que os brasileiros chamavam pirua (já não existem) e assim chegámos ao centro, tendo apeado frente à Igreja de S. Francisco. Uma curta mas esfalfante caminhada a pé - era a subir e de mochila às costas! -, conduziu-nos até à Praça do Estádio em cuja proximiade encontrámos alojamento, tendo ficado instalados no hotel Columbus, situado na rua Illiani a poucos metros da referida praça.
Vista de cima, La Paz é uma cidade no mínimo estranha! Imagine-se a cratera de um extinto vulcão ou um enorme lago que em dado momento evaporou, deixando em seu lugar uma gigantesca depressão no solo com mais de quatrocentos metros de profundidade situada a três mil e seiscentos metros de altitude. No fundo deste buraco imaginário temos o núcleo histórico da cidade rodeado por menos de meia centena de prédios modernos de maior volumetria. É a zona mais quente e húmida, onde se situam os edifícios do governo, blocos de apartamentos, comércio formal e sedes das multinacionais. Temos depois, localizados a meia encosta, os bairros nobres, constituídos por vivendas de excelente qualidade, mais ou menos ajardinadas, pertença de gente com evidentes sinais exteriores de riqueza. Segue-se uma espécie de anel viário que faz a transição com os Altos, nome dado aos bairros populares que trepam encosta acima até ao planalto situado a mais de quatro mil metros. São centenas de milhar de habitações, algumas bastante precárias, outras abrigando famílias de classe média ou média-alta, tendo em comum o facto de nenhuma se encontrar rebocada ou pintada! Motivo: Logo que a obra fica concluída, o município lança sobre o imóvel um imposto que muitos munícipes consideram incomportável. Como medida defensiva e talvez como forma de protesto, ninguém conclui a construção. O visitante não avisado, ficará perplexo ao contemplar de um dos vários miradouros da cidade este oceano de paredes e telhados de cor única, a do barro cozido.
Verdadeiro formigueiro humano, o alto tem as suas avenidas, ruas e vielas, possui hospital e centro de saúde, abastecimento de água, saneamento e luz eléctrica. Nas suas artérias mais largas realizam-se feiras e mercadinhos semanais, mas há também comércio formal, correios e ciber-cafés. Os transportes são quase monopólio de candongueiros que apregoam os vários destinos a partir de carrinhas tipo furgão que circulam de porta aberta, onde é possível meter 14 passageiros numa viatura de 8 lugares e condutor! Também circulam pequenos autocarros municipais de tromba avançada, bastante antigos, pintados com cores garridas.
Mais acima, a uma ou duas centenas de metros da margem da depressão, ficam as habitações mais humildes. Aqui não há nada, nem mesmo ruas ou caminhos, apenas carreritos onde os pés resvalam no pavimento saibroso escalavrado pela chuva. Os telhados são de chapa de zinco ou materiais recuperados a partir de qualquer escombreira. O cheiro nauseabundo denuncia a ausência de rede de esgotos ou simples latrinas. Os seus habitantes são mais esquivos evitando o contacto com estranhos. A ligá-los ao planalto, existem a certos intervalos alguns lanços de escadaria em cimento. Cada um destes degraus não terá mais do que 20 centímetros de altura e representa para pessoas não habituadas à altitude obstáculos de difícil transposição, exigindo um esforço comparável ao do alpinista quando escala os picos mais altos do planeta. Para que tenham uma ideia da dificuldade, dir-vos-ei que no dia 6 de Dezembro, dia de eleições em que o país literalmente parou como é tradição para que os cidadãos possam votar em segurança, eu e o Luís decidimos subir a um destes altos. Do ponto onde iniciámos a escalada à cota de 3600 mts até ao miradouro do Sagrado Coração situado nos 4060 mts, a distância rondará os 2Km. Necessitámos de quatro horas e meia para o percorrer e só não houve desistências porque atingido um ponto de não retorno, onde nem o socorro seria possível, houve que apelar até ao limite das nossas forças e continuar, um degrau a cada cinco minutos, e assim atingimos o planalto. Experiência a não repetir! Para nossa surpresa, além das torres de telecomunicações que nos tinham servido como pontos de referência durante a escalada, deparámo-nos com uma importante área comercial e residencial, restaurantes, hotéis e uma portagem de auto-estrada, aquela que liga o aeroporto ao centro da cidade. Como só os veículos prioritários, os da imprensa e dos observadores internacionais estavam autorizados a circular, tínhamos pela frente o problema do regresso, que a ser feito a pé e desta feita por estrada (30Km), conduziria à hecatombe! Dirigi-me aos agentes da polícia de trânsito que na área da portagem controlavam os raros veículos que passavam com grandes dísticos afixados nos para-brisas, expliquei-lhes a nossa delicada situação e obtive autorização para pedir boleia no único carril (passagem) em serviço. Em menos de dois minutos estávamos a bordo de uma pick-up do jornal La Prensa que se dirigia em serviço de reportagem a uma mesa de voto situada a menos de cinquenta metros do hotel Columbus. Foi a confirmação do lema “a sorte protege os audazes”, perdoem-me a imodéstia.
Seriam umas cinco e meia da tarde, estávamos em casa e havia apenas uma última questão por resolver, a do onde jantar, já que tínhamos sido avisados que todos os estabelecimentos da cidade capazes de nos prestar esse serviço estariam encerrados, incluindo o restaurante do hotel. Nessa manhã, tinha reparado nos vendedores ambulantes de comida instalados junto à rotunda da Praça do Estádio onde desembocava a rua do nosso hotel. Com os seus fumarentos e olorosos grelhadores a carvão a atraírem a clientela, para lá nos dirigimos e debaixo de um pequeno toldo de plástico que uma rabanada de vento não tardou em mandar pelos ares, tomámos um opíparo lanche ajantarado constituído por uma sandes de frango mais um chorizito grelhado entalado num papo-seco e umas goladas de coca-cola à temperatura do chá. Uma benção para quem, depois de um esforço tremendo, nada tinha ingerido desde o pequeno almoço desse dia. O resto da tarde e parte da noite, dedicámo-la ao tema das eleições que seguimos pela TV, tendo-se confirmado bem cedo mais uma folgada vitória do presidente Evo Morales. rwesto da história virá a seguir. Até lá, queiram aceitar as minhas cordiais saudações e votos de Feliz Ano Novo.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

52 - De Corumbá a Santa Cruz de la Sierra.

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Aguardando a partida do "Trem da Morte" em Puerto Quijarro, Bolívia.

Viajando no ferrobus para santa Cruz de la Sierra.

O interior da carruagem que afinal não era tão má como o nome fazia supor.
Junto a Crumbá, na divisa entre o Brasil e a Bolívia.
Aguardando o voo de Santa Cruz par La Paz que se encontra com duas horas de atraso. Enquanto isso, o Luís não perde tempo e actualiza-se lendo o último número da Veja, adquirido no Brasil.

No aeroporto de Santa cruz. Mochilita ao lado e a Veja a repousar. Olhem-me só para aquele ar de prosperidade!

Uma vista panorâmica da cidade de Santa Cruz de la Sierra, obtida a partir do miradouro da torre da igreja de S.Lourenço.
Terminal rodo-ferroviário de Santa Cruz, onde desembarcamos após 16 horas de viagem no trem da morte, vindos de Puetro Quijarro junto à fronteira com o Brasil.

No centro da cidade ainda existem algumas destas casas centenárias a recordar-nos como terá sido Santa Cruz na época da sua fundação.

Aqui, o Luís refresca-se no bar do hotel Copacabana.

Igreja de S. Lourenço, fronteira à Plaza de Armas em Santa Cruz, construcção dos séc. XIX e XX.
O "nosso" hotel em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia.

Aldeia rural boliviana da região entre Puerto Quijarro e Santa Cruz.

Outro povoado rural da mesma região.
Hoje, 24 de Dezembro e véspera de Natal, é tempo para dirigir a familiares e amigos uma palavra que expresse toda a estima e carinho que nutrimos por eles. Aqui vai um pensamento especialmente fraterno para os que se encontram em viagem, por razões de trabalho, lazer ou aventura, e que ao contrário de nós não têm a possibilidade de gozar dos prazeres do corpo e da alma próprios desta quadra, no aconchego dos seus lares. Para todos, os meus sinceros votos de Boas Festas e que o próximo ano permita a concretização dos vossos sonhos em todas as áreas, particularmente no que diz respeito às viagens! E à laia de prenda para o sapatinho, envio-vos mais este texto acompanhado de uma dose extra de fotografias.
No último contacto ficámos às portas da Bolívia numa cidade brasileira de Mato Grosso do sul chamada Corumbá, na margem esquerda do rio Paraguai. Do outro lado temos a pequena povoação de Arroyo Concepción, onde se situa o posto fronteiriço boliviano com as respectivas instalações aduaneiras e de controlo da imigração (passaportes). São instalações estratégicas com “ambiente” próprio que é de todo o interesse conhecermos antes de as franquearmos quando tal é possível, naturalmente. Observando atentamente como é que a coisa funciona, podem evitar-se alguns contratempos no momento de solicitar a almejada autorização de entrada, materializada pelo carimbo no passaporte. Com esse intuito, eu e o Luís tomámos um autocarro local na manhã do dia 2 de Dezembro cerca de quinze minutos depois fomos despejados conjuntamente com algumas dezenas de outros passageiros na boca de um carreirito que lhes evita diariamente a chatice e demora próprias dos controlos formais. Esse caminho flanqueia o posto policial a escassas dezenas de metros e é do perfeito conhecimento das autoridades, não receando estas qualquer perigo ou ameaça resultante da movimentação transfronteiriça das populações locais que se deslocam livremente na sua ida às compras ou para efeitos de trabalho. Feito o reconhecimento, ficámos a saber como se processava a fiscalização de bagagens (inexistente) e a verificação de documentos.
A pé e sob uma chuvinha molha tolos, percorremos os cinco quilómetros que nos separavam de Puerto Quijarro, em cuja estação adquirimos os bilhetes para o famoso “trem da morte” no qual embarcaríamos pelas dezoito horas desse mesmo dia, rumo a Santa Cruz de la Sierra. A designação dada a este comboio não apresenta qualquer relação com a realidade actual e terá a sua origem, segundo alguns, no elevado número de trabalhadores vítimas de acidente durante os trabalhos de construção da linha. Dizem outros que as mortes foram causadas pela epidemia de dengue que grassava na região afirmando uma terceira teoria que o nome se deve aos inúmeros assaltos e homicídios que ocorreram nas suas carruagens durante os primeiros anos de funcionamento. Facto é que viajamos num tipo de transporte "expresso" que não tem equivalência no nosso país, pois trata-se de uma composição designada por “ferrobus” (máquina +1carruagem), capaz de fazer o trajecto de Puerto Quijarro a Santa Cruz em cerca de dezasseis horas, quando o comboio normal necessita de vinte e seis horas para realizar o mesmo percurso. O nosso ferrobus estava limpo, tinha aquecimento, item não negligenciável quando se atravessa a espinha oriental da cordilheira andina durante a noite, refeições servidas no lugar, assento reclinável até à posição de semi-cama, música e cinema num monitor de dimensões generosas. Se exceptuarmos os saltos e abanões a que fomos sujeitos devido ao deficiente estado da via, até se poderia dizer que a viagem tinha sido agradável.
Às dez da manhã de 3 de Dezembro chegámos ao moderno terminal bi-modal de Santa Cruz. Chovia e o calor era de novo intenso, condições meteorológicas prevalecentes no chaco, região plana e de baixa altitude que vai até e para além de Cochabamba. A parte da viagem onde a orografia era mais acidentada foi feita durante a noite mas, ao alvorecer, começámos a distinguir o mesmo tipo de cercas e de grandes manadas de bovinos que já se tinham tornado familiares desde a entrada no Mato Grosso (Brasil). Disseram-nos que estes seiscentos quilómetros de boas terras que percorremos não têm mais do que uma dezena de proprietários, sendo o mais importante o grupo norte americano Cargill, o que faz destas fazendas propriedades gigantescas. A região parece gozar de certo grau de prosperidade comparativamente com o restante território boliviano, o que juntamente com disputas de natureza étnica tem alimentado fervores autonomistas que conduziram ao referendo realizado em simultâneo com as presidenciais de 6 de Dezembro, não obtendo o Sim mais do que 27% dos votos. Recorde-se que nestas eleições que seguimos ao pormenor a partir do nosso hotel em La Paz, Evo Morales saiu vencedor com mais de sessenta por cento dos votos.
Do terminal até à Plaza de Armas – note-se que quase todas as cidades fundadas na época da colonização espanhola têm a sua Plaza de Armas como nós temos o Rossio – não decorreram mais do que dez minutos de táxi. Aqui chegados, não foi difícil encontrar hotel, casa de câmbios ou restaurante. Afinal, estamos na segunda cidade da Bolívia, uma espécie de capital económica, dinâmica, culta e conservadora. Na sua Universidade são leccionados os mesmos cursos que encontramos em qualquer congénere europeia. Possui museus, casas de arte e cultura, galerias de exposições etc. É servida por dois aeroportos dos quais o deficientíssimo Trompilho trabalha com as linhas domésticas enquanto o moderno Viruviru está vocacionado para as ligações internacionais.
Instalados no Copacabana situado a uma das esquinas da Plaza de Armas, tivemos o privilégio de assistir a um comício político em tudo semelhante aos que se realizam cá no burgo, até na maledicência! Mas também apreciámos o bulício dos agradáveis fins de tarde nas praças e jardins da cidade, em que centenas de pessoas, dos mais jovens aos mais experientes, vêem para a rua gozando a frescura de uma brisa que sempre se segue a um repentino aguaceiro. Nestes locais não faltam os mini-espectáculos ao ar livre nem os vendedores ambulantes de gelados ou bebidas, que passam e tornam a passar sem contudo importunarem ninguém, nem mesmo apregoando os seus produtos.
A terminar, o relato na primeira pessoa de um percalço que poderia ter tido graves consequências não fora o alerta de um recepcionista/bagageiro do nosso Hotel. Pode também servir como chamada de atenção para outros e demonstra como os criminosos são capazes de se transfigurar na imagem da autoridade genuína para atingir os seus nefandos objectivos. Seguia eu quase a par com o Luís por uma das ruas do centro numa manhã de movimento particularmente intenso, quando o meu companheiro de viagem foi interpelado por alguém que a partir da janela de uma viatura 4x4 estendeu o braço exibindo uma identificação supostamente policial, conforme vim a saber pouco depois. Não querendo dar qualquer “confiança” ao interpelante, avancei alguns passos aguardando que o Luís se desembaraçasse do chatarrãoe me alcançasse. Não tardou porém que o meu amigo viesse ao meu encontro com este discurso:
- Venha daí porque ele diz que quer falar consigo …
- !?!?!?
Aproximei-me do jipe e indaguei:
- O que é que se passa?
Sem sair do interior do carro, o tipo começa a debitar uma treta mais ou menos intimidante reforçada pelo assentimento de um comparsa que entretanto se aproximou:
- Trata-nos com respeito porque nós também te estamos a falar com respeito!
Dito isto, exibe um cartão tipo multibanco onde constava uma identificação cuja autenticidade ninguém podia garantir ou negar, nem sequer a da própria fotografia. E continuou:
- Esta é uma cidade praguejada pelo narcotráfico e por isso, nós como autoridade, temos por missão identificar os estrangeiros que por aqui passam para nos assegurarmos que não estão ligados a qualquer actividade ilícita. OK? Os teus documentos?
O arrazoado tinha sido tão convincente que lhe passei o passaporte para as mãos. Entretanto, obedecendo a "ordens", o Luís já estava sentado no banco de trás do carro. Foi apenas quando o bandido me ordenou que entrasse também que um flash me passou pela cabeça e, recordando o alerta do Benito, saquei-lhe o passaporte da mão e ao mesmo tempo que ordenava ao Luís que apeasse, berrei:
- Polícia sem uniforme, não!
Recordando uma brincadeira dos meus tempos de garoto, “Ó senhor guarda, prenda-me aquele polícia!”, eu próprio gritei:
- Polícia, polícia, chamem a polícia, onde é que está a polícia …
Com este chinfrim, os gatunos não tiveram outro remédio senão pôr o pé no acelerador, entraram no caudal do trânsito e desapareceram. Só então reparei que o “coche”, aparentando ser novo, nem sequer exibia a placa de matrícula traseira.
Deste modo nos livrámos de um mais do que provável enxerto de porrada se não fosse coisa pior, corremos o risco de ficar sem os documentos e perder todos os haveres por meio de chantegem ou coacção directa.
Aqui fica de novo o alerta e mais uma vez o nosso muito obrigado ao Benito do hotel Copacabana.
Continuação de Boas Festas e agora também já são horas de eu ir às filhozes. Saudações do
Juan_jovi@sapo.pt

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

51 - De Campo Grande a Corumbá.

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Imagens de Corumbá.





Pessoal amigo e visitas, estou de volta, cheguei. Com a ajuda do Luís Ferreira, meu companheiro nesta aventura, o Machu Picchu é nosso! Ao cabo de um mês de viagem, nove descolagens e outras tantas aterragens, vários milhares de quilómetros por via rodo e ferroviária dos quais umas centenas à boleia, uma tentativa de assalto com sequestro e um furto consumado particularmente doloroso entre outras vicissitudes, eis-nos de regresso ao nosso querido rectângulo, de que vamos gostando mais a cada saída.
Imaginava eu, à partida, que através das novas tecnologias de que o meu novíssimo notebook é distinto representante, poderia actualizar este espaço, se não diariamente, pelo menos com a periodicidade necessária para que os interessados não acabassem por perder completamente o fio às nossas deambulações. Porém, o programa foi demasiado intensivo para que tal objectivo pudesse ser concretizado, ainda que os meios técnicos (Wi-Fi) fossem quase omnipresentes e estivessem disponíveis em tudo quanto era hotel, aeroporto, terminal rodoviário ou estação de CF, lanchonette etc. É que para além dos trechos em que nos fizemos transportar por meios “mecânicos” todo o reconhecimento topográfico das vilas e cidades por onde passámos, bem como a visita a locais de interesse foi feito “à lá patita”, de mapa na mão e mochila às costas. De maneira que, à chegada ao local de pernoita, geralmente tarde e a más horas, já não havia disponibilidade para mais nada que não fosse conciliar o necessário repouso para poder recomeçar o ciclo do dia seguinte, que não raras vezes teve início antes do nascer do sol.
Dadas as necessárias explicações para a compreensão desta prolongada falta de comparência, retomo hoje o trajecto no ponto em que o deixei, Campo Grande, capital do estado brasileiro do mato Grosso do Sul. Deixando o Gaspar, hotel nos onde nos havíamos instalado por quatro dias e três noites, partimos pelas 07h15 de 01 Dez. rumo a Corumbá, cidade situada na margem esquerda do rio Paraguai junto à fronteira com a Bolívia. O meio de transporte escolhido foi o autocarro dado que o comboio transpantaneiro apenas fazia menos de metade do percurso e em datas que não se coadunavam com a relativa urgência em “passar para o lado de lá”. Por outro lado, iríamos atravessar uma das mais belas regiões do planeta em termos de diversidade faunística, o pantanal brasileiro, e só um meio terrestre nos poderia proporcionar o tão desejado contacto visual com a bicharada. A este respeito e em abono da verdade, devo dizer que se a desilusão não foi total andou lá por perto. Graças a Deus, os animais não são tão estúpidos quanto muitos dos ditos racionais e por isso sabem defender-se de intrusos e curiosos como nós que, via de regra, nada de bom trazemos às suas existências. Por isso afastam-se com todas as pernas das movimentadas vias de comunicação, deixando-nos a ver … navios!
Os quatrocentos e tal quilómetros foram percorridos em cerca de sete horas e meia numa viatura em bom estado através de uma estrada asfaltada, com alguns troços deficientemente mantidos mas ainda assim perfeitamente transitável. Ao nosso lado, durante uma parte importante do percurso, corria a linha do comboio, o que serviu de triste consolo para o facto de não termos aguardado pela sua partida no domingo seguinte. Se através da janela do pullman não vislumbrámos mais do que água por todo o lado, um jacaré a apanhar banhos de sol, uma capivara que parecia estar-se cagando para nós e bandos de passarada de diversas cores e tamanhos, caso tivéssemos optado pelo “trem” nada teríamos visto de diferente. E a viagem teria sido mortalmente mais demorada e aborrecida.
Chegámos a Corumbá perto das três da tarde. A temperatura rondava os quarenta graus, a humidade e a transpiração colou-nos a roupa à pele mal abandonámos o conforto do ar condicionado do ”ônibus”.
Ainda no terminal, o Luís fez-se à bronca bronca! Apercebendo-se que era nesse local que funcionava o SEF lá do sítio, apressou-se a confessar o gravíssimo delito de ter esquecido em São Paulo o registo de entrada que lhe havia sido entregue pela polícia federal no aeroporto de Guarulhos. O jovem e diligente agente policial apressou-se igualmente a passar-lhe o consequente auto que obrigava o meu parceiro a liquidar no prazo de cinco dias a módica quantia de cento e sessenta e seis reais e oitenta e seis centavos. Entra Pacheco! No dia seguinte voltámos àquele departamento para solicitar o visto de saída para a Bolívia. A estratégia ia montada, atolámos o referido agente em paletes de simpatia, o qual, mediante uma cópia do tal papel enviada via fax a partir de São Paulo, rasgou o processo à nossa frente, limpou o registo na base de dados e perdoou a coima! Os brasileiros têm destas coisas para com os portugueses, o que me apraz registar na expectativa de que haja reciprocidade no tratamento dos brasileiros por parte das autoridades portuguesas. Da rodoviária seguimos de táxi para o hotel Santa Mónica, bem no centro da cidade. Uma curta viagem de pouco mais de cinco minutos que deu para perceber que a cidade já viveu melhores dias.
Não existem prédios de elevada volumetria ou arquitectura arrojada como em muitas cidades do interior do Brasil. O casario situa-se maioritariamente num anfiteatro natural sobranceiro ao rio, por esta altura ainda uma criança. Mil quilómetros a sul, o pachorrento Paraguai irá desaguar no Paraná, próximo da cidade de Corrientes, na Argentina. Ainda mais a sul, Paraná e Uruguai hão-de reunir-se no grande estuário do La Plata situado entre o Uruguai e a Argentina, uma espécie de portagem da extensa auto-estrada fluvial que a partir da costa atlântica penetra profundamente no coração da América do sul.
A zona ribeirinha de Corumbá é flanqueada por uma marginal com cerca de um quilómetro de extensão ao longo da qual podemos apreciar a traça de velhos prédios de estilo claramente “colonial”, datando alguns, certamente, do tempo dos portugueses. A maioria a necessitar de restauro urgente. Um passeio ao longo desta marginal deixa-nos adivinhar o que terá sido o intenso bulício de outrora com uma infinidade de embarcações de todos os tipos sulcando as águas do seu rio, levando e trazendo pessoas e mercadorias de lugares distantes onde só o barco podia chegar. Hoje, muito desse tráfego faz-se por via rodoviária e talvez devido à adesão ao Mercosur, até o velho edifício da Alfândega foi transformado em centro de congressos. Ainda assim, são muitas as embarcações no activo. Umas do tipo “bateau mouche” passeiam turistas levando-os ao interior da região pantaneira ou simplesmente umas milhas rio abaixo, o tempo de um almoço típico a bordo. Outras, mais prosaicamente, dedicam-se à pesca ou continuam a transportar pessoas e seus parcos haveres e quem sabe, algum pó, pois não podemos ignorar que algumas das mais importantes rotas do contrabando de cocaína passam por esta região.
E assim, dou por terminados os trabalhos de hoje. No próximo post farei a descrição da nossa entrada num país um tanto estranho, a Bolívia.
Até lá, cumprimentos do
Juan_jovi@sapo.pt

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

50 - O Mundo é realmente pequeno!

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O Joaquim da Mota Longo, Joaquim Arenga para os amigos, num anexo do seu quintal onde passa o dia a exercitar-se!

À minha direita, o Joaquim Arenga e mulher. À esquerda, o Zé Xanandoa.

O casal Joaquim e Maria Mota Longo.

Com o José Gonçalves (Xanandoa) em casa do Joaquim, seu sogro.

Prestando ouvidos aos relatos históricos do Joaquim Mota Longo.

Com o Albino ao centro e o nosso já conhecido amigo Melim.

Ou será que a pertinaz curiosidade e inquietude do Homem, o fazem parecer pequeno?

Prometi no post anterior que não deixaria por muito tempo os meus amigos e visitantes sem notícias da passeata. E quem promete contrai dívida! Por isso aqui vai mais um texto, levezinho como se impõe, para deleite, espero eu, daqueles que aí bem longe do foco dos acontecimentos seguem com interesse as peripécias do giro. E porque a todos agradam, eis mais algumas histórias verdadeiras relatadas na primeira pessoa, sendo o meu papel o de simples escriba que as passou a letra de forma, perdoem o lugar comum.
Há muitos anos, mais de quarenta, tinha eu um amigo de ao pé da porta chamado José Gonçalves, conhecido entre a malta pelo “Xanandoa” devido à colagem que alguém fez entre a sua maneira de ser e a de uma certa personagem da série televisiva que passava na época. Era um rapaz um tanto reservado quando se tratava de alinhar nas macacadas próprias da cambada jovem dos anos 60/70, que se podiam resumir em duas palavras: Gajas e gajas! Penso que o traço fundamental da sua personalidade seria uma “timidez controlada” o que paradoxalmente o tornava o amigo entre os amigos.
Veio a tropa e o Xanandoa foi contemplado com guia de marcha para Moçambique. Eu fiquei a coçá-los por mais uns tempos, com a vantagem de ter um concorrente a menos no que tocava às “piquenas”. Até que chegou a minha vez de saborear umas merecidas férias de canhota na mão nas matas e bolanhas da Guiné. Daqui nasceu um desencontro que duraria muitos anos. O Xanandoa passou à disponibilidade mas não conseguiu adaptar-se àquela espécie de morte lenta que aguardava a maioria dos graduados milicianos regressados do ultramar. Deitou contas à vida contas à vida e, dado que tinha um primo instalado no Brasil no ramo da confecção e tecidos, aviou a mala e rumou a um novo mundo, indo bater à porta do Albino que o lançou no negócio. Desde então apenas nos encontrámos uma vez aquando de uma viagem relâmpago que fez à família após o falecimento dos pais. Palavras de quase circunstância e a promessa de que o visitaria no Brasil, marcaram esse nosso encontro. E passaram mais uns anos até que …
Tendo planeado este périplo com passagem por Campo Grande onde eu sabia vagamente que o meu companheiro de juventude se estabelecera, contactei a Graciete, irmã do meu amigo, a quem saquei o número de telefone do mano. O resto adivinha-se! Os abraços e as “ainda” viris palmadas nas costas, sublinharam a mútua alegria deste reencontro. Visitei o seu estabelecimento, localizado numa das mais nobres avenidas do centro da cidade, assim como o do primo Albino, inteirei-me do seu sucesso a nível empresarial, soube que casou, descasou, teve filhos que prosseguem carreiras independentes e frutuosas. Mantem uma relação filial com o sogro, sr. Joaquim da Mota Longo, outro conterrâneo que vim aqui conhecer, natural da Charneca, Pombal.
Ao inteirar-se da nossa próxima partida, o José Gonçalves ficou inquieto, quase nervoso. Tinha as suas razões e entre elas avultava o forte desejo de nos apresentar, a mim e ao Luís, ao senhor Joaquim seu sogro. O que acabou por acontecer e, a pretexto de um lanche, acabaria por nos proporcionar uma noite memorável.
O Joaquim, – vou usar o tratamento familiar -, quase na casa dos noventas, habita uma vivenda típica de gente abastada, com piscina e tudo, numa área residencial de primeira, na periferia da cidade. Recebeu-nos em calções e postura descontraída, tipo ó meu dá cá um bacalhau já que és da minha terra, abraço forte e jorros de cordialidade. A seu lado, a esposa D. Maria sublinhava com um sorriso tímido cada gesto do marido.
Já á volta da mesa, a minha ilimitada curiosidade quanto a figuras que representam pedaços de História viva como é o caso do Joaquim, levou-me a abusar da sua natural paciência e bonomia, colocando-lhe pergunta sobre pergunta, às quais respondeu sempre com o maior detalhe e visível satisfação. Fiquei assim a saber que chegou ao Brasil com mulher e filhos, sem vintém, há mais de cinquenta anos. Depois de uma breve passagem pelo Rio como caixeiro viajante de uma renomada casa de tecidos de São Paulo, acabaria por ser desterrado para o Mato Grosso do Sul, devido à animosidade de um colega, quando o estado era mesmo mato e do grosso. Área de negócio, manteve-se; tecidos por atacado e a varejo.
O Joaquim desse tempo foi, como muitos portugueses que aqui chegaram, um ícone do pioneiro dotado pela natureza ou pela necessidade de uma boa dose de aventureirismo. Tanto quanto um fura vidas, foi também um fura matos, pois ser caixeiro viajante nesse tempo e por estas redondezas, significava viajar dias e noites a fio em carros pouco confiáveis, por estradas de terra que ora ficavam submersas, ora desapareciam engolidas pela vegetação. Do seu ferramental faziam parte uma corda para desatascar o automóvel à força de boi quando era o caso, uma serra capaz de traçar uma árvore caída na picada ou ajeitar madeira para um improvisado pontão e ainda combustível e farnel para o que desse e viesse. Numa dessas viagens, contou ele, a estrada apresentava ao longo de toda a sua extensão aqueles pequenos sulcos a que os brasileiros chamam “costela de vaca” e que produz a conhecida e desagradável vibração de toda a estrutura do automóvel. Por ela viajou quilómetros e quilómetros até que o radiador … caiu! Indicaram-lhe então um “jeitoso” que poderia compor o dano. Era um homem já entrado na idade. Na vastidão do território, vivia num lugar tão remoto que não foi fácil dar com ele. Recolocou o radiador na posição adequada e enquanto executava o serviço foi-se abrindo com o Joaquim a quem confidenciou a sua profunda tristeza por se ter auto-condenado a uma vida de ermita. Muitos anos antes envolvera-se com outros numa tramóia que ficou conhecida pelo caso Alves dos Reis. Prestes a cair nas malhas da justiça, fizeram-no abandonar o país à socapa e assim chegou ao Brasil com o compromisso de nunca revelar a sua verdadeira identidade nem por qualquer via comunicar com a família. Esta, segundo ele, já o teria dado como morto havia anos. Dos outros, nada mais soube.
Noutra ocasião, pessoas amigas e entre elas clientes seus residentes lá onde judas perdeu as calças, pediram-lhe boleia para um sujeito que por ali aparecera uns dias antes e se revelara tão boa pessoa que conquistara a amizade geral. De início, o Joaquim ficou radiante com a possibilidade de viajar com companhia. Mas cedo se apercebeu que essa companhia não era assim tão boa. Em desespero e pressentido que o seu companheiro não passava de proeminente ladrão, começou a queixar-se da magreza dos lucros do seu negócio, acabando por “formalizar” o pedido de um empréstimo com que pudesse ao menos comprar o combustível necessário para chegar até casa. Com esta estratégia terá desincentivado o bandido do seu jeito quase certo de encostar a peixeira à barriga ou o “45” à cabeça da vítima. Soube pouco depois que o seu passageiro era conhecido pelo “Mão Branca”, devido a uma lesão de vitíligo que lhe descorava a pele de uma das extremidades. Reputado criminoso, responsável por diversos assassínios a sangue frio, procurado por todas as polícias do país, viria a ser encurralado e abatido pelas autoridades após mais um crime. Desta feita, a vítima fora um rico negociante de diamantes que com avultada quantia dentro de uma pasta se dirigia ao seu avião particular com o objectivo de efectuar pagamentos aos garimpeiros. Conta o Joaquim, que morreu com a pega da pasta na mão depois de esta lhe ter sido arrancada pelo facínora.
As histórias não acabariam por aqui, mas dado que esta já vai tão longa, faço um notável esforço de contenção (!), para não correr o risco de vos aborrecer até ao tutano.
Juan_jovi@sapo.pt

sábado, 5 de dezembro de 2009

49 - Campo Grande, capital do MS

Hotel Gaspar, um ex-líbris de Campo Grande. O meu hotel na cidade.

Com o amigo Melim, co-director do hotel Gaspar.

Os quatro estarolas à saída do restaurante Maçarico em Nova Porto XV. Da esquerda para a direita: Luís, moi,Virgílio e Oliveira. Tudo gente com idade para ter juizo!

Este é do bom, mas não é para todos ... !

A arara, um dos símbolos do MS, aqui a servir de cabine telefónica.

O relógio da cidade, junto à Pr. Ary Coelho

Aqui, o "mano" do Jack Nicholson cuida da preparação física para trepar a cordilheira andina!

Antiga estação ferroviária de Campo Grande desactivada nos anos noventa, ninguém sabe bem porquê. Através da linha trans-pantaneira chegavam à capital do estado, pessoas e mercadorias vindas de localidades longíncuas, inclusivé da Bolívia. Uma parte da via encontra-se actualmente em recuperação com fins turísticos, sendo possível viajar de Campo Grande até Miranda.

Uma panorâmica da cidade de Campo Grande.

Antiga estação central dos correios.
Na Capital do Boi!

Aqui estou de novo para mais um parlapiézinho com os meus amigos, viajantes de sofá e revista uns, autênticos papa-léguas outros, (com quem teria muito que aprender!) querendo aqui deixar também uma palavrinha de grande estima para os eternos apaixonados pelos passeios de longo curso, mas … militantemente agarrados às encolhas.
Como devem ter reparado, alterei o título do último post para o actual que me parece mais consentâneo com o desenrolar das operações, que continuam a sofrer de elevado grau de improviso. Na comunicação anterior fiquei-me por anunciar o avanço da "brigada" até Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Partindo de Bataguassu, primeira cidade do estado na divisa com S. Paulo (como por aqui dizem), foi uma viagem de apenas quatro horas e meia em autocarro super-pullman, moderadamente cansativa e algo monótona. A paisagem persistentemente verde, de um verde que já cansa, nada mais pode oferecer para desfastio do “viajeiro” senão cornos, milhares (milhões?) de cornos de boi que aqui ou além se agitam na busca do capim mais fresco e tenro. A chegada a Campo Grande, em 28/11, fez-se sob um calor sufocante e humidade elevadíssima a lembrar-me que aqui quem manda é o senhor Trópico, um gajo que deve ter feito tirocínio nas cafurnas de Lucífer. A meio da tarde caiu um aguaceiro violento que refrescou um pouco a atmosfera, transformando ruas e avenidas em momentâneos riachos de cor barrenta. Instalei-me no Hotel Gaspar, um ex-líbris da cidade co-administrado pelo Sr. Melim, um amigo madeirense que conheci há uns anos aquando de uma visita à minha terra, Pombal. Deixem-me que vos fale um pouco desta instituição campograndense. Trata-se do primeiro Grande Hotel como ostentava no seu nome, construído no estado de MS. Inaugurado em Agosto de 1956, não havia outro que o igualasse em requinte, nem faltava o elevador que conduzia o hóspede ao seu alojamento que podia situar-se no quinto piso … um arranha-céus para a época! Pois esta bem conservada “relíquia” da hotelaria local mantém-se ainda hoje na posse da família do fundador, tendo como directora a Chris, neta do falecido Sr. Gaspar, coadjuvada pelo seu pai Sr. Melim.
A cidade de Campo Grande é uma cidade certamente com histórias mas sem História, dada a sua juventude de apenas 109 anos. Para além de capital política e administrativa onde se concentram os principais órgãos do estado, Campo Grande oferece uma variedade de produtos e serviços aos fazendeiros da região que aqui se deslocam para tratar de seus assuntos. Mas, assim me pareceu, o palpitante coração desta cidade encontra-se no seu campus universitário, afamado pela qualidade dos cursos que aqui se ministram.
Cerca de quarenta e oito horas após a minha chegada, eis que recebo um SMS do Luís, informando-me que estava a caminho. E não era mentira, fui esperá-lo ao terminal rodoviário onde chegou pelas 14h45 do dia 30 de Novembro. A pé, sob uns pingos de chuva grossa, em escassos quinze minutos estávamos no hotel Gaspar para a última noite na capital do MS. No dia seguinte partiríamos de “ônibus”, rumo a Corumbá, the last frontier, banhada pelo grande rio Paraguai, na divisa com a Bolívia.
Resta-me prometer que amanhã haverá mais.
Antes de encerrar o quiosque, mais duas fotografias que ficaram para trás. Esta, mostra o Juanito posando junto ao monumento ao imigrante. A seguinte, mostra um trecho do córrego (ribeiro) Segredo, uma espécie de vala de esgoto que atravessa o centro citadino no sentido leste-oeste. É pena



Abraços do

juan_jovi@sapo.pt