Saboreando uma bela trucha à la plancha no restaurante Pan-Americano em Hutajata. Aqui reune informalmente o presidente Evo Morales com o su governo.
S. Pablo nas margens do Titicaca, junto ao estreito de Tiquina.
Estreito de Tiquina. Embarque de autocarro sobre uma balsa (jangada), de S. Pablo para S. Pedro, do outro lado do estreito.
Estreito de Tiquina. Embarque de autocarro sobre uma balsa (jangada), de S. Pablo para S. Pedro, do outro lado do estreito.
Imagem do pequeno Titicaca: muita água (doce), juncos (totora) e montanhas.
Uma ilha no Titicaca.
Um restaurante palafítico e as lanchas de alguns clientes.
Embarque de passageiros em lanchas rápidas. Do outro lado, apovoação de S. Pedro.
Uma totora (embarcação de junco) recentemente construída, vigiada por um lama no pátio do Sr. Paulino Estebán.
Outra imagem da totora, evidenciando o pormenor da proa e espaço de carga. O lama não arranca pata (está preso)!
Tentando fazer amizade com o bicho ...
... que subitamente ficou colérico, mandando-me uma cuspidela. Habitualmente visam os nossos olhos e costumam acertar. Nao foi o caso!
Tear manual e amostra de tecido confeccionado por familiares do mestre construtor de totoras.
Fotografias expostas na sala de visitas do Sr. Paulino.
Mais fotografias exposta na pequena e vestusta sala onde o mestre recebe as embaixadas de navegadores estrangeiros.
Esta foto mostra em pormenor as únicas ferramentas utilizadas por mestre Paulino na construção das suas embarcações.
Com o Luís, mestre Paulino e mulher no seu atelier. Nesta foto, o nosso anfitrião pediu uns segundos para se compor ... vestindo o poncho por cima da roupa de trabalho que envergava no momento da nossa chegada.
Uma segunda foto, idêntica.
Ao centro, o senhor Paulino Estebán tal qual o encontrámos envolvido nos trabalhos de reparação de uma totora.
Grande abundãncia de juncos ou totora, nas margens do lago.
Ao centro, o senhor Paulino Estebán tal qual o encontrámos envolvido nos trabalhos de reparação de uma totora.
Grande abundãncia de juncos ou totora, nas margens do lago.
Com o Luís e o Martin, de costas para o grande Titicaca.
Um encontro inesperado.
Concluída a exploração da capital boliviana e seus arredores, chegou a altura de programar a visita ao lago Titicaca, um ponto alto desta viagem na minha opinião. Para isso solicitámos mais uma vez ao Martin, bom profissional como motorista mas também um guia de primeira água, à nossa disposição desde o momento em que nos instalámos no hotel Columbus, que nos conduzisse à região do lago, situado a cerca de uma centena de quilómetros de La Paz. Deixámos a cidade pelas 07h30 da manhã de 7 Dez., o dia a seguir às eleições, seguindo durante um quarto de hora pela via rápida que faz a ligação ao aeroporto até atingirmos o planalto, rumando depois para leste durante mais uma hora. A viagem foi tranquila através de uma estrada asfaltada e em bom estado, embora com alguns troços em obras. A manhã bastante fria mas ensolarada convidava ao passeio. A paisagem praticamente nua de arvoredo, plana, vasta, e seca, a fazer lembrar uma imensa estepe, apresentava a espaços pequenos tugúrios, isolados ou em aglomerados de não mais do que uma dezena de habitações, à volta das quais se vislumbravam pequenos rectângulos verdejantes irrigados pela água de furos “cooperativos”, onde cresciam favas, batatas, cenouras e outra hortícolas que entram na frugal dieta deste povo. Os aldeãos praticam uma agricultura de subsistência e também criam algum gado vacum, para além dos inestimáveis bichos autóctones (lamas, iaques e vicunhas). Como curiosidade, refira-se que a maior parte do solo se encontra disponível e pertence ao estado e que as zonas cultivadas se encontram a considerável distância da estrada (+ de 500 mts) para desincentivar os ladrões de hortas que por aqui se abastecem. Percorridos uns cem quilómetros, entrámos numa região acidentada, mais quente e húmida, onde pudemos apreciar a existência de uma agricultura relativamente desenvolvida e boas manadas de gado bovino da raça frísia. Sem o saber, estávamos nas margens do lago Titicaca que a minha imaginação tinha pintado como um lugar ermo e gélido, paraíso de antropólogos e caçadores de múmias, mas impróprio para gente comum se estabelecer e prosperar. Afinal havia pousadas, restaurantes, locais para eventos, lojas de souvenirs e tudo aquilo que habitualmente faz as delícias de um turista mais ou menos exigente. Segundo o Martin, o nome do lago deriva do facto de o seu contorno sugerir um puma, titi, numa língua local, a abocanhar um coelho kah-kah, com h aspirado no final. Fizemos a primeira paragem numa localidade chamada Hutajata (lê-se Utagata) e a propósito permitam-me que transcreva uma parte do texto que publiquei em 11 de Agosto de 2009, post nº 4.
“Amigos e futuros companheiros de viagem,
Eu tenho tanta vontade de dar à palheta que nem sei por onde começar. O melhor será entrar pelo princípio e explicar melhor porque é que há muito me apaixonei pelo tema das viagens. Pois, era eu um chavalito de 12 ou 13 anos, muito mais interessado no enigma situado entre as pernas das raparigas do que em lições de história ou geografia, quando certo dia dei de caras numa carrinha da Gulbenkian, com um livrito que relatava as aventuras da Kon Tiki. Este nome, evocativo de uma prestigiada divindade Inca, foi dado a uma jangada que em 1947 participou numa expedição destinada a provar que ainda antes do Cristóvão Colombo ter chegado à América, já os índios sul-americanos se teriam aventurado pelo Pacífico aberto até às ilhas da Polinésia. Construída no Peru segundo o método e com materiais idênticos aos supostamente usados por estes exploradores pré-colombianos, a Kon Tiki teve cerca de três meses de glória até se espatifar nuns baixios do Pacífico Sul. Ao comando, o explorador norueguês Thor Heyerdahl secundado por cinco marinheiros arvorados.
A descrição do quotidiano a bordo falava de peixes voadores que de sua livre e espontânea vontade saltavam para cima dos troncos de balsa, acabando no tacho da deliciosa caldeirada. Bebiam gotas de chuva e refrescavam-se mergulhando livremente nas águas tépidas do oceano com as cores do caleidoscópio, na companhia amigável dos golfinhos. O brilho das estrelas balizava-lhes o rumo em noites de calma, e dos dias tormentosos eu conseguia ouvir o ribombar do trovão e o silvo do vento. O meu deslumbramento foi tal que ainda hoje tenho o “filme” gravado minha memória. Esta leitura foi o clic que despertou em mim o viajante / aventureiro que existe dentro de cada homem. Dizem os especialistas que o pico desta pulsão se situa entre os 15 e os 45 anos. Onde é que eles já vão, e no entanto, a pica não esmoreceu!
Todos e cada um dos anos seguintes da minha vida se subordinaram à utopia de conhecer o mundo. Tanto quanto aquele que cabe nos sonhos.
E aqui estou, semi-novo, semi-tonto e completamente apanhado pela febre da vadiagem como aos 15 anos”.
É sabido que os povos de língua castelhana não são lá grande coisa no que toca a línguas. Desconheço o motivo, mas este é um facto que constatei inúmeras vezes enquanto piloto náutico, quando se tratava de comunicar com outros navios. Ainda em La paz, o Martin tinha-me falado vagamente na “condique”, palavra que na altura não consegui ligar a nada que eu conhecesse. Em Hutajata, insignificante lugarejo das margens do Titicaca, entrámos num pequeno e modesto atelier de paredes forradas com posters alusivos à expedição do navegador norueguês Thor Heyerdahl e uma bancada repleta com as primeiras edições autografadas das obras do famoso navegador e outros aventureiros que fazem da casa do senhor Paulino Estebán, uma espécie de santuário dos lobos do mar de todo o mundo. Percebi então, para meu espanto e grande alegria, que apertava a mão ao homem que construíra a Kon Tiki, em grande medida responsável pela transformação que em mim se operou quando adolescente, acontecimento que nem em sonhos previra. Por este simples facto, poderei sempre dizer que a viagem valeu a pena.
A prová-lo, ali estavam as fotografias obtidas durante as diversas fases da construção da jangada, entre elas uma que mostra o senhor Paulino empoleirado sobre a sua proa, galhardetes, cartas de navegação, planos e insígnias de outras embarcações igualmente imortais. Paulino Estebán, agora a rondar os oitentas, já passou o testemunho aos filhos, mas continua activo e é o principal mestre-construtor de totoras. A totora recebe o seu nome do junco ou totora que cresce espontaneamente nas zonas alagadas das margens do lago entre o sapal e os campos de papas (batatas). Sendo a embarcação típica do Titicaca, a totora é utilizada principalmente na pesca artesanal de que os locais retiram o seu principal sustento. O lago é muito rico em peixe, destacando-se a trucha (truta) introduziada pelos espanhóis e que aqui adquire tamanho invulgar. Degustámos um saboroso espécimen à la plancha num restaurante local, o Pan Americano.
De Hutajata seguimos até S. Pablo, pequena vila situada junto ao estreito de Tiquina. Aqui, o lago que na sua maior dimensão tem 200 Km de comprimento por setenta de largo e quatrocentos metros de profundidade, é dividido por um estrangulamento natural em duas partes, o grande Titicaca e pequeno Titicaca, separados por um istmo de 1 Km de largura. Da sua área total, 45% estão sob a soberania da Bolívia e os restantes 55% pertencem ao Peru. De notar que a Bolívia não possui qualquer acesso ao mar. A partir de S. Pablo segue-se de balsa para S. Pedro, a povoação situada do outro lado do estreito e daí, até à intensamente turística península de Copacabana, é um pulinho em autocarro. Podem fazer-se excursões de barco até às ilhas flutuantes, visitar os quechuas ou seguir para a fronteira bolívio-peruana.
Nota: as restantes fotografias relativas a esta etape da viagem serão publicadas logo que possível dado que neste momento a velocidade do servidor não o permite. Então até breve e saudações do,
juan_jovi@sapo.pt
Um encontro inesperado.
Concluída a exploração da capital boliviana e seus arredores, chegou a altura de programar a visita ao lago Titicaca, um ponto alto desta viagem na minha opinião. Para isso solicitámos mais uma vez ao Martin, bom profissional como motorista mas também um guia de primeira água, à nossa disposição desde o momento em que nos instalámos no hotel Columbus, que nos conduzisse à região do lago, situado a cerca de uma centena de quilómetros de La Paz. Deixámos a cidade pelas 07h30 da manhã de 7 Dez., o dia a seguir às eleições, seguindo durante um quarto de hora pela via rápida que faz a ligação ao aeroporto até atingirmos o planalto, rumando depois para leste durante mais uma hora. A viagem foi tranquila através de uma estrada asfaltada e em bom estado, embora com alguns troços em obras. A manhã bastante fria mas ensolarada convidava ao passeio. A paisagem praticamente nua de arvoredo, plana, vasta, e seca, a fazer lembrar uma imensa estepe, apresentava a espaços pequenos tugúrios, isolados ou em aglomerados de não mais do que uma dezena de habitações, à volta das quais se vislumbravam pequenos rectângulos verdejantes irrigados pela água de furos “cooperativos”, onde cresciam favas, batatas, cenouras e outra hortícolas que entram na frugal dieta deste povo. Os aldeãos praticam uma agricultura de subsistência e também criam algum gado vacum, para além dos inestimáveis bichos autóctones (lamas, iaques e vicunhas). Como curiosidade, refira-se que a maior parte do solo se encontra disponível e pertence ao estado e que as zonas cultivadas se encontram a considerável distância da estrada (+ de 500 mts) para desincentivar os ladrões de hortas que por aqui se abastecem. Percorridos uns cem quilómetros, entrámos numa região acidentada, mais quente e húmida, onde pudemos apreciar a existência de uma agricultura relativamente desenvolvida e boas manadas de gado bovino da raça frísia. Sem o saber, estávamos nas margens do lago Titicaca que a minha imaginação tinha pintado como um lugar ermo e gélido, paraíso de antropólogos e caçadores de múmias, mas impróprio para gente comum se estabelecer e prosperar. Afinal havia pousadas, restaurantes, locais para eventos, lojas de souvenirs e tudo aquilo que habitualmente faz as delícias de um turista mais ou menos exigente. Segundo o Martin, o nome do lago deriva do facto de o seu contorno sugerir um puma, titi, numa língua local, a abocanhar um coelho kah-kah, com h aspirado no final. Fizemos a primeira paragem numa localidade chamada Hutajata (lê-se Utagata) e a propósito permitam-me que transcreva uma parte do texto que publiquei em 11 de Agosto de 2009, post nº 4.
“Amigos e futuros companheiros de viagem,
Eu tenho tanta vontade de dar à palheta que nem sei por onde começar. O melhor será entrar pelo princípio e explicar melhor porque é que há muito me apaixonei pelo tema das viagens. Pois, era eu um chavalito de 12 ou 13 anos, muito mais interessado no enigma situado entre as pernas das raparigas do que em lições de história ou geografia, quando certo dia dei de caras numa carrinha da Gulbenkian, com um livrito que relatava as aventuras da Kon Tiki. Este nome, evocativo de uma prestigiada divindade Inca, foi dado a uma jangada que em 1947 participou numa expedição destinada a provar que ainda antes do Cristóvão Colombo ter chegado à América, já os índios sul-americanos se teriam aventurado pelo Pacífico aberto até às ilhas da Polinésia. Construída no Peru segundo o método e com materiais idênticos aos supostamente usados por estes exploradores pré-colombianos, a Kon Tiki teve cerca de três meses de glória até se espatifar nuns baixios do Pacífico Sul. Ao comando, o explorador norueguês Thor Heyerdahl secundado por cinco marinheiros arvorados.
A descrição do quotidiano a bordo falava de peixes voadores que de sua livre e espontânea vontade saltavam para cima dos troncos de balsa, acabando no tacho da deliciosa caldeirada. Bebiam gotas de chuva e refrescavam-se mergulhando livremente nas águas tépidas do oceano com as cores do caleidoscópio, na companhia amigável dos golfinhos. O brilho das estrelas balizava-lhes o rumo em noites de calma, e dos dias tormentosos eu conseguia ouvir o ribombar do trovão e o silvo do vento. O meu deslumbramento foi tal que ainda hoje tenho o “filme” gravado minha memória. Esta leitura foi o clic que despertou em mim o viajante / aventureiro que existe dentro de cada homem. Dizem os especialistas que o pico desta pulsão se situa entre os 15 e os 45 anos. Onde é que eles já vão, e no entanto, a pica não esmoreceu!
Todos e cada um dos anos seguintes da minha vida se subordinaram à utopia de conhecer o mundo. Tanto quanto aquele que cabe nos sonhos.
E aqui estou, semi-novo, semi-tonto e completamente apanhado pela febre da vadiagem como aos 15 anos”.
É sabido que os povos de língua castelhana não são lá grande coisa no que toca a línguas. Desconheço o motivo, mas este é um facto que constatei inúmeras vezes enquanto piloto náutico, quando se tratava de comunicar com outros navios. Ainda em La paz, o Martin tinha-me falado vagamente na “condique”, palavra que na altura não consegui ligar a nada que eu conhecesse. Em Hutajata, insignificante lugarejo das margens do Titicaca, entrámos num pequeno e modesto atelier de paredes forradas com posters alusivos à expedição do navegador norueguês Thor Heyerdahl e uma bancada repleta com as primeiras edições autografadas das obras do famoso navegador e outros aventureiros que fazem da casa do senhor Paulino Estebán, uma espécie de santuário dos lobos do mar de todo o mundo. Percebi então, para meu espanto e grande alegria, que apertava a mão ao homem que construíra a Kon Tiki, em grande medida responsável pela transformação que em mim se operou quando adolescente, acontecimento que nem em sonhos previra. Por este simples facto, poderei sempre dizer que a viagem valeu a pena.
A prová-lo, ali estavam as fotografias obtidas durante as diversas fases da construção da jangada, entre elas uma que mostra o senhor Paulino empoleirado sobre a sua proa, galhardetes, cartas de navegação, planos e insígnias de outras embarcações igualmente imortais. Paulino Estebán, agora a rondar os oitentas, já passou o testemunho aos filhos, mas continua activo e é o principal mestre-construtor de totoras. A totora recebe o seu nome do junco ou totora que cresce espontaneamente nas zonas alagadas das margens do lago entre o sapal e os campos de papas (batatas). Sendo a embarcação típica do Titicaca, a totora é utilizada principalmente na pesca artesanal de que os locais retiram o seu principal sustento. O lago é muito rico em peixe, destacando-se a trucha (truta) introduziada pelos espanhóis e que aqui adquire tamanho invulgar. Degustámos um saboroso espécimen à la plancha num restaurante local, o Pan Americano.
De Hutajata seguimos até S. Pablo, pequena vila situada junto ao estreito de Tiquina. Aqui, o lago que na sua maior dimensão tem 200 Km de comprimento por setenta de largo e quatrocentos metros de profundidade, é dividido por um estrangulamento natural em duas partes, o grande Titicaca e pequeno Titicaca, separados por um istmo de 1 Km de largura. Da sua área total, 45% estão sob a soberania da Bolívia e os restantes 55% pertencem ao Peru. De notar que a Bolívia não possui qualquer acesso ao mar. A partir de S. Pablo segue-se de balsa para S. Pedro, a povoação situada do outro lado do estreito e daí, até à intensamente turística península de Copacabana, é um pulinho em autocarro. Podem fazer-se excursões de barco até às ilhas flutuantes, visitar os quechuas ou seguir para a fronteira bolívio-peruana.
Nota: as restantes fotografias relativas a esta etape da viagem serão publicadas logo que possível dado que neste momento a velocidade do servidor não o permite. Então até breve e saudações do,
juan_jovi@sapo.pt
muito bom o seu texto!
ResponderEliminarSaludos de lago titikaka Bolivia
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