sábado, 6 de fevereiro de 2010

59 - O Império Inca. Um pouco de História.

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Imagem (Net): Chefe inca.


Tudo terá começado há cerca de vinte mil anos quando grupos de caçadores provenientes da Ásia oriental atravessaram o estreito de Bering, penetrando no continente americano através do território do actual Alasca. Durante milénios, estes caçadores recolectores vão “descendo” até atingirem o território hoje denominado América do sul. Ocupam uma faixa ao longo da costa do Pacífico que vai desde o sul do Peru até meio do que é actualmente o Chile. Sabe-se que por volta do ano 5000 aC já cultivavam alimentos, tendo estabelecido os primeiros povoados permanente. Habitando três vales a norte de Lima, um povo civilizacionalmente avançado prospera durante 12 séculos, a partir de 3000 aC. Praticam o comércio (algodão, peixe) e a agricultura, são exímios arquitectos, conhecem a arte da tecelagem e fabricam a cerâmica que utilizam no seu quotidiano. Cerca de 1800 aC, este povo deixa a região levando consigo conhecimentos que vão servir de alicerce, séculos mais tarde, a novas culturas e civilizações política e administrativamente organizadas em reinos como aqueles que, no litoral, têm a capital em Moche e Nazca. Ao mesmo tempo (800dC), surge na região montanhosa de Chavin de Huantar, o embrião da mais antiga civilização andina da era pré-colombiana, a que se seguiram outras (Paracas, Uari), que por volta do ano 1000 dC se fundem num grande reino cuja capital era Tiahuanaco, núcleo do futuro império inca (Séc. XIII a XVI).
O povo inca ou dos incas, designação dada pelos espanhóis a cerca de 10 milhões de seres humanos baixotes, de pele bronzeada a escura, cabelos negros e lisos e quase imberbes, era composto por várias etnias com centenas de idiomas entre as quais se destacam os quechuas, matriz da família real, os aymaras, yunka etc. Ocupavam uma extensa região da cordilheira andina onde se inclui o Peru actual, Equador, sul da Colômbia, norte do Chile e da Argentina. Politeístas, acreditavam na divindade do imperador, filho do deus sol. Adoravam a lua, o condor e o jaguar, e praticavam ritos sacrificiais (animais e humanos). Muito activos, os incas dinamizam o comércio (troca) com os vizinhos da planície, desenvolvem a agricultura (batata, milho, mandioca amendoim e hortícolas) para o que concebem redes de canais de irrigação, são excelentes arquitectos distinguindo-se na construção de grandes edifícios cerimoniais e dominam a metalurgia. Possuem conhecimentos de aritmética (quipos) e farmacologia; conhecem algumas plantas medicinais, tratam a malária com quinino e usam a folha da coca como analgésico por ex. Domesticaram animais e usaram o lhama como besta de carga, mas nunca ouviram falar da roda e nada sabem sobre a utilização de cavalos. Não obstante, possuem uma rede viária com cerca de 4500 Km, percorrida pelos mensageiros (tiasques) à velocidade de 225Km/dia. Esta rede de estradas e caminhos, muito importante para as trocas comerciais, foi também decisiva para a expansão do império, pois permitia a movimentação rápida de forças militares, bem organizadas, que viriam a subjugar os outros povos andinos, acabando estes por absorver, sem grande resistência, os valores da cultura inca, acrescentando terras, riqueza (tributos) e força ao império. Tinha a sua capital em Cusco, a cidade mais antiga do continente americano, tão desenvolvida para a época que “na Europa não existe nada que a possa igualar” e cujo nome significa em quechua “umbigo do mundo”. Em Cusco vivia a família real e a sua corte, lustrosa e educada em boas escolas, albergada em palácios a condizer, mentora de grandes festivais, uns de cariz profano, outros em honra dos seus ícones religiosos.
A civilização inca atinge o apogeu no séc. XV, sob o domínio do imperador Pachacuti. Mas os maus augúrios acerca do seu declínio não tardaram em confirmar-se. Uma cascata de acontecimentos nefastos culminaria em 16 de Novembro de 1532 com a capitulação perante as forças de Francisco Pizarro, o barbudo conquistador espanhol que aprisionou e assassinou o imperador Atahualpa, acusando-o de feitiçaria e conspiração contra a coroa espanhola! O desgraçado para não morrer na fogueira, aceitou converter-se ao cristianismo e como “recompensa”, foi morto por estrangulamento.
Entre os acontecimentos que ditaram a morte da civilização inca, podemos elencar os seguintes:
a) Uma razia demográfica causada por doenças “importadas”, contra as quais a população não possuía imunidade. As epidemias sucederam-se logo após os primeiros contactos com os europeus e terão causado centenas de milhares de mortes.
b) O desmoronamento moral e ético da sociedade civil, que em contacto com os estrangeiros, aprendeu rapidamente valorizar mais os metais preciosos e o que com eles podia adquirir, do que o duro trabalho no campo. Resultado: Carestia de alimentos, preços elevados, fome generalizada.
c) Com o poder central enfraquecido devido a uma longa guerra de sucessão (guerra dos dois irmãos) entre o imperador Atahualpa e seu irmão Huascar, várias regiões do império se rebelaram e os seus “governadores”, movidos pela ganância, não hesitaram em aliar-se aos invasores.
E o declínio foi tal que, ao Francisco Pizarro bastou uma centena de homens e uns vinte cavalos para limpar o sebo aos combatentes incas que ofereceram alguma resistência. A partir daí, foi o que se sabe, genocídio, escravização, aculturação etc., tudo matérias em que nós, portugueses, também não deixámos créditos por mãos alheias. Escaparam as línguas quechua e aymara porque os missionários se serviram delas como veículo para a evangelização dos povos nativos.
Este pequeno resumo não poderia ficar concluído sem uma alusão, ainda que breve, à figura de um ilustre chefe indígena. Foi ele Tupac Amaru, sumo sacerdote de Vilacabamba situada a norte de Cusco. Numa altura em que praticamente todo o império já havia sucumbido aos invasores espanhóis, Tupac Amaru continuava a resistir. Isto valeu-lhe um ataque ao seu reduto o que o obrigou a empreender a fuga para a região amazónica, onde veio a ser capturado e assassinado pelo vice-rei de Espanha em 24 de Setembro de 1572.
Tupac Amaru é a figura inspiradora de alguns movimentos revolucionários contemporâneos, de pendor maoista, entre eles os Tupamaros uruguaios, o MRTA e Sendero Luminoso no Peru.
Fontes: Diversas (Net).
juan_jovi@apo.pt

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