segunda-feira, 21 de junho de 2010

73 - Tempo de convívios.

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No início era assim, o animal estava "composto" e recebia os cuidados churrasqueiros do João Palomas e do primo Luís.

A lataria "antiga" estacionada em frente à residência do Mota, nosso anfitrião.

À mesa ...

Monsieur et Mme Mota (no meio) e a sobrinha Elisabete.

Uma gaitada pelo Carvalho, presidente do Quatro As (Assossiação dos Amigos dos Automóveis Antigos).
E no fim ... sobrava o esqueleto!

A portuguesada não precisa que chegue o Verão para se lançar nos mais variados programas de convivialidade. Está-nos na massa do sangue, gostamos de estar com os familiares e amigos, em casa, no campo ou na praia, de preferência à volta de bem guarnecida mesa. E para isso qualquer pretexto é bom, pode ser porque a selecção nacional espetou uma abada de sete a zero à Coreia do Norte, porque o padrinho do puto mais novo faz anos ou a pincher da Analisa pariu três saudáveis cachorros. Nesta altura do ano então … a sardinha está que é uma delícia, as lentriscas a pingar na brasa convertem qualquer muçulmano e se ainda não há melão de Almeirim, há cereja do Fundão! Para desenfastiar, usamos por aqui o leitãozito assado clandestinamente no clandestino forno de cozer a boroa da D. Inês (ai se os paneleiros da – S A E descobrem !). E o arroz doce? As tartes disto e daquilo, o pão de ló, pudins de leite, de ovos ou ambas as coisas, babas de dromedário, secos e areados, cobertos a morango ou chantilly …? Quem é que pode? Quanto a libações não me pronuncio já que no meu currículo consta aquela mácula de que nunca conseguirei libertar-me, sou abstémio. Mas a julgar pelos àaahs acompanhados dos característicos estalidos dos lábios (ou será da língua a bater no céu da boca ?), Bacco teve residência por estes lados.
E a crise? Caros amigos, não costumo escrevinhar palavrões no “Kurt”, mas desta vez aqui vai: Eu quero que a crise se foda! Se é verdade que o Estado está de tanga, constatamos que o povo se vai governando. Já o inverso seria de todo indesejável, sempre ouvi dizer. Tenho muito respeito e compaixão por aqueles que estão a passar menos bem, ou mesmo mal. São meus irmãos, porque também eu de lá venho. Em rigor, nunca de lá saí! Mas é para que esses não sofram que devem servir os meus impostos e os de muitos portugueses que os liquidam honrada e orgulhosamente a tempo e horas. E não para pagar submarinos e subornos, missões militares fora de portas ao serviço dos bandalhos que levaram guerras assassinas para o seio de povos inocentes que estão a pagar com a morte e a tortura o crime de terem nascido em cima de jazidas de petróleo, gás, diamantes e, soube-se agora, de triliões de toneladas de minérios que vão do ferro ao zircónio, do cobalto ao urânio. Por isso vos digo, são as carroças que têm de abrir os olhos já que as mulas vão cegas!
Ontem domingo, o amigo Mota do Outeiro da Ranha convidou a malta dos “carros antigos” para um frente – a – frente no pátio da sua residência onde uma vintena de convivas se bateu galhardamente com um belo carneiro assado no espeto, depois de umas lasquinhas de saboroso presunto, entremeadas grelhadas e mais uns petiscos para fazer lastro. As convidadas encarregaram-se da doçaria e a prata da casa composta pela Mme (frrancese !) mulher do Mota, uma irmã deste e mais uma sobrinha de ambos e respectivo marido, fizeram as honras da casa, mostrando como se recebe bem quando se combinam a amizade com a vontade de conviver. Uma tarde cuja lembrança perdurará nas nossas memórias, fechada a chave de ouro com um torneio de sueca e uma gaitada pelo presidente Carvalho . Em nome de todos, muito obrigado amigo Mota e família e que em breve voltemos à estrada.
Juan_jovi@sapo.pt

terça-feira, 8 de junho de 2010

72 - O regresso.

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Rio de Onor. Rua que segue para a castelhana Rihonor situada a uma centena de metros.

Em Rio de Onor. Espanha para a esquerda, Guadramil para a dtª.

O Luís ...

... o Juan, em Rio de Onor.

Miranda do Douro.

Castelo de Miranda.

Aldeias de Montesinho.

Sábado, 29 de Maio. Com pouca vontade, temos que regressar à base (Pombal). As boas férias são assim, quando terminam o pessoal está de rastos. Depois, até a rotina do casa-trabalho, trabalho –casa sabe bem.
Entrámos no quarto dia de folguedo intenso que por certo deixará marcas. E saudades! Despedimo-nos de Miranda com uma visita ao seu cais fluvial de onde partem e chegam os afortunados turistas que a bordo de um bateau mouche (espanhol), passeiam nas águas tranquilas da albufeira desfrutando de uma panorâmica única, onde o Douro corre entre arribas e penhascos de causar vertigem. Infelizmente para nós, a próxima saída marcada para as 11h30 não nos permitiria concluir o programa estabelecido para este dia, parco em visitas mas com muitos quilómetros pela frente. Tomámos por isso a EN218 em direcção a Vimioso de onde partimos após curta paragem em direcção a Bragança. São apenas oitenta e tal kms mas dado o traçado da estrada seria prudente contar com uma boa hora de viagem para chegar à capital transmontana a uma hora decente para almoçar. Chegou a ser considerada outra opção que consistia em tomar a direcção de Zamora , ali mesmo ao lado, e chegar lá acima através da carretera 122. No final, acabou por imperar na decisão o interesse pelo pitoresco da paisagem do lado de cá. Ainda não eram 14h00 quando abancámos no restaurante “O Abel”, nos subúrbios da cidade. Ementa: Borrego grelhado, costeleta de novilho ou posta. Tudo na brasa e até se lhe chegar com o dedo! Realmente por estes lados come-se muito bem, com qualidade e a preços à medida da bolsa dos indígenas.
Neste ínterim, Bragança ficou para trás, mas por uma boa razão quero acreditar. Ainda que tenha que reconhecer que sendo a decisão minha, causei um grande desgosto à Maria da Luz, a única que pelos vistos não conhecia a cidade. Mas quando o soube, era tarde de mais. A explicação é a seguinte:
Saindo do “Abel” em direcção à cidade, teríamos percorrido algumas centenas de metros quando encontrámos o desvio para Rio de Onor, esta aldeia mítica, irmã de Rihonor de Castilha, do outro lado da fronteira. Em pleno Parque natural de Montesinho, até parece que os últimos quinhentos anos não passaram por uma meia dúzia de aldeias que teimosamente continuam a resistir ao “progresso”. A política local é decidida pelos locais, a comunidade une-se para partilhar tarefas maioritariamente ligadas ao cultivo da terra e criação de gado, os limites das propriedades ignoram os marcos que traçam o risco da fronteira e até as famílias mistas, de portugueses e espanhóis, são a norma. A ruralidade do lugar está bem evidenciada nas construções onde impera o quinal de xisto e a lage nas coberturas. A bosta de vaca dispersa sobre o empedrado da rua principal e o cheiro a feno fresco, recordam-nos a cada passo que aqui domina a harmonia entre o homem e a natureza. Juntamente com Aveleda, Varge, Guadramil e Montesinho na vizinhança, estas aldeias devem ser the last frontier de um paraíso perdido que a maioria dos portugueses já não conhece nem reconhece.
Bem perto, Puebla de Sanábria, uma pitoresca localidade espanhola que visito sempre que se apresenta a oportunidade. E pelos vistos, a julgar pelo número de visitantes que por ali se perdem, há muita gente a gostar deste povoado muito parecido com o nosso Piódão com a diferença de que se encontra no alto de uma colina voltada para o rio Requejo Castro. Depois de uma demorada visita a pé por ruas e ruelas que nos permitiu apreciar todos os pormenores de uma reconstrução primorosa incluindo a do seu castelo, nada cairia melhor do que um lanche num dos inúmeros botequins da terra. Repostas as calorias e dado o adiantado da hora, apresentei a tal ideia que tendo merecimento causou pesar à Mª da Luz. Ou seja, em vez de voltarmos a Bragança, percurso demorado e contrário em direcção, ao nosso objectivo, seguiríamos de Puebla para Verin pela autovia A-52 (40 minutos) sendo a distância desta a Chaves de apenas 10 Km! E assim foi, em menos de 1 hora estávamos na capital das termas do norte em cujo balneário os interessados tomaram um medicinal copo de água quente a cheirar a enxofre. Em compensação e no seguimento de um contacto telefónico efectuado durante o percurso, aguardava-nos a mesa de um restaurante típico onde saboreámos (para desenfastiar), uma bela pescada acompanhada de hortaliça e batata cozida, a melhor de Portugal. Mais duas voltas à cidade, não tanto por preocupação com as honras da despedida mas porque devido a um evento musical a decorrer ao ar livre, várias ruas se encontravam interditadas ao trânsito. E eis-nos a caminho de casa, onde chegámos pouco depois da meia noite, com alternância de motoristas e sempre por excelentes vias, rios de vida e progresso, a desmentir críticas daqueles que acham que investir em infra-estruturas no interior do país são um esbanjamento de recursos.
juan_jovi@sapo.pt

domingo, 6 de junho de 2010

71 - O fim de um passeio ou "não há bem que sempre dure".

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No terraço da pousada de juventude de V. N. de Foz Côa na manhã de 28/5. Da esqª. para a dtª: Júlio, Mª da Luz, e de óculos este vosso amigo, o escriba.
Matriz de Torre de Moncorvo.

Fole de antiga forja, no Museu do Ferro em Torre de Moncorvo.

Ainda uma vista de Torre de Moncorvo.
Paisagem duriense. Um trecho do Douro Internacional.

Lá em baixo, Barca D'Alva. O rio, a barragem, um barco atracado no porto fluvial.

Castelo de Mogadouro.

Ceia na feira medieval de Miranda do Douro.

Um animador do certame.

De V. Nª de Foz Côa a Miranda do Douro.

Sexta feira, 28 de Maio. Acordar em Foz Côa numa manhã luminosa como a de hoje é um daqueles pequenos acontecimentos da vida que não é possível descrever apenas com palavras. E as imagens saltam da retina para o cérebro, procurando a segurança da casa forte onde se guardam as recordações e a saudade dos momentos felizes. É o que sinto nesta manhã ao contemplar a partir da janela do meu quarto as esplendorosas arribas do Douro e do Côa, batidas pelos primeiros raios de sol. Vestida a rigor, numa altura do ano em que predomina o verde ainda vicejante dos vinhedos com “benefício” e das frágeis florestas de amendoeiras e olivais, a região revela-nos a generosa prodigalidade de uma terra onde os menos atentos apenas destrinçariam mato, enormes fragas e solos de xisto ressequido. Aqui, o ar puro não pesa! É tão fino que penetra nos pulmões sem ruído nem esforço. Recomendá-lo-ia como um daqueles locais onde os citadinos podem vir fazer uma cura de “descarbonização” para limpeza das vias respiratórias entupidas pela poluição das suas “privilegiadas” cidades. Aqui, o sossego não significa apenas quietude, mas também paz, daquela que inunda a alma e empresta outro significado à vida. Quanta pena me faz a ignorância de certos “lisboetas”, alguns com responsabilidades, que parecendo nunca terem viajado para norte de Vila Franca de Xira, se referem ao Portugal interior como uma espécie de “traseiras” da capital. Que lástima!
De novo en route, a nossa primeira paragem ocorreu no momento em que as comportas da eclusa do Pinhão encerravam para dar passagem a um barco–hotel vindo de Barca de Alva, rumando a Vª Nª de Gaia. Um espectáculo da engenharia humana que nunca cansa admirar e … fotografar. Na vila de Torre de Moncorvo e para abrir, dedicámos parte da manhã ao primeiro cafezinho do dia, tomado na esplanada de um pequeno jardim onde florescem os únicos especímenes de azevinho arbóreo que conheço. Deambulámos pelo centro histórico, com passagem obrigatória pelo largo da matriz, que visitámos e, dado que nos encontrávamos no centro de uma importante região mineira, não poderíamos perder uma eloquente exposição sobre a matéria com que nos presentearam na visita guiada ao Museu do Ferro.
A barriga começava a dar horas quando nos pusemos a caminho dos Carviçais onde, no restaurante “O Artur”, nos foi servida uma monumental posta mirandesa, como é tradição da casa. E que nota dar às entradas onde não faltaram as alheiras, das legítimas, nacos de queijo da serra, fatias de presunto e paio? Tudo por conta do casal, nossos companheiros Manuel Ferreira e Mª da Luz que nesse dia festejavam o seu 32º aniversário de casamento. Muitas felicidades para eles e que possam dar um forte rombo nas estatísticas!
Freixo de Espada à cinta, agora moderna e airosa e Barca de Alva foram os destinos seguintes. Em pleno parque natural do Douro internacional e entre esta duas localidades, existe um ponto no mapa que é proibido falhar. Chama-se ele Penedo Durão, um miradouro sobranceiro ao Douro onde, pontuando uma paisagem deslumbrante, podemos observar uma espécie da família dos abutres, aves majestosas tanto pela envergadura como pela serenidade do voo fazendo-se elevar à altura dos penhascos mais altos impulsionadas pelas colunas de ar quente. Lá em baixo, Barca de Alva, o rio, a central hidroeléctrica, os barcos, os turistas (poucos), e a azáfama, quase nenhuma. Nesta vila existe um dos mais notáveis testemunhos do que pode ser a morte mais do que anunciada de uma importantíssima localidade raiana; a sua estação de caminho de ferro. Tratando-se de uma estação de fim de linha, internacional, não será difícil adivinhar a sua importância para a região e para o país no tempo em que as pessoas e a economia do interior contavam. Do imponente edifício de dois pisos apenas resta a cor branca da sua alvenaria, que não conseguiram roubar. Entregue ao abandono, esventrado, violado, ali jaz, sem portas nem janelas, qual cadáver rejeitado pelos cães vadios. A seu lado, um imenso hangar construído em sólida madeira, onde outrora mercadoria valiosa ou o simples cabaz de hortícolas destinado à família da cidade aguardavam o apito da partida, serve de abrigo à bicharada, completamente vandalizado. Uma tristeza! Não poderiam ao menos entregá-lo a uma associação de juventude, daquelas que buscam a região para a prática de desportos radicais como a escalada, canoagem ou rafting? Ali poderiam guardar material, instalar a sua sede ou um albergue, por exemplo. Não pode ir longe um país onde os responsáveis apresentam tal nível de negligência. Grosseira, mesmo.
De regresso ao entroncamento com a EN220, fizemos 36 kms de curvas e contracurvas, já o sol se aproximava do ocaso. Ainda com luz do dia subimos à muralha do castelo da buliçosa Mogadouro, moderna, forte em comércio e prestação de serviços à população das redondezas. A chegada a Miranda do Douro deu-se já com os faróis acesos! Para trás, espero que não por muito tempo, ficou a patrimonial e historicamente rica Sendim. Escolhido e convenientemente negociado o local da pernoita, restava-nos um bom par de horas para dedicar à bela cidade que nos acolhia. Por sorte nossa, decorria na mesma o primeiro dia de um festival medieval com a graça e o rigor histórico que os participantes quiseram emprestar-lhe. Resolvemos participar! Sentados num banco corrido, tendo à frente uma mesa tosca, fomos fartamente tratados à base porco na brasa, moelas guisadas, pão de centeio e vinho servido em malgas. Os estalajadeiros fardados a preceito, tipo albornoz de burel apertado na cinta com uma espécie de cordão de estopa, capuz e tudo, mostraram uma simpatia sem limites para com este grupo de esfaimados forasteiros. Estudantes uns, trabalhadores outros, fazem parte do grupo de pauliteiros do lugar de Malhadas e estavam ali para angariar fundos para mais uma digressão; acabavam de chegar da Venezuela. Quanto a nós, sobrou-nos alento para uma volta pela feira onde predominava o artesanato das navalhas e facalhões, tanoaria e peles. No palco exibia-se uma banda medieval francesa que tocava música do seu tempo enquanto saltimbancos, bobos e malabaristas atraíam a atenção dos visitantes. A noite estava a ficar bem fria, meteorologicamente falando, quando regressámos ao hotel para uma noite sem sonhos. Digo eu!
Juan_jovi@sapo.pt

quarta-feira, 2 de junho de 2010

70 - Na rota das aldeias históricas.

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Ceia no tourist kitchen da pousada de juventude de V. Nª de Foz Côa. Da esquerda para a direita: Maria da Luz, Júlio, pai do Luís (fotógrafo de serviço!), Manuel, marido da Mª da Luz e moi-même, o Juan.
Uma praça de Trancoso.

Castelo de Trancoso. O Júlio segura a base do cruzeiro.

O grupo junto à Sé da Guarda.

Viaturas estacionadas no parque da GNR da Guarda.

Restaurante típico "O Viveiro".

No restaurante.

O Luís entrega ao vilhena o "diploma" da condecoração que lhe foi outorgada por mérito turístico.

C.M. de Almeida.

Caminhando numa rua da sua "cidade", o Henrique Vilhena.

O grupo de passeantes em Almeida.

Militar e montada (manequins) à entrada do museu histórico-militar de Almeida.
Sentinela (manequim) apresentando arma à entrada do mesmo museu.

Vista do Hotel Parador de Almeida.

Segundo dia do passeio em carros antigos. De Almeida a Vila Nova de Foz Côa.

No dia 27, quinta feira, o toque de alvorada previsto para as 08h00 da manhã só à custa de muito peito conseguiu arrastar de vale de lençóis para a sala do pequeno almoço os estremunhados passeantes, após um dia exaustivo para homens e máquinas a exigir uma noite bem dormida. Como o dever não perdoa e o combinado é para se cumprir, lá estava para dejejuar connosco no Hotel Parador de Almeida o Henrique Vilhena, distinto filho da terra e cicerone de mão cheia. Com ele percorremos todos os recantos da pequena localidade prestando especial atenção às explicações que nos dava acerca da concepção arquitectónica da fortaleza, sua finalidade e vicissitudes a que esteve sujeita, fruto de guerras e revoluções.
Terminada a visita, a caravana rumou à cidade da Guarda onde nos aguardava o almoço num restaurante típico, propriedade de uma família amiga do Vilhena. Mas antes, havia que merecê-lo e, para isso, foi necessário palmilhar, com muito gosto diga-se, a maioria das ruas e vielas da cidade dos cinco efes: Forte, farta fria, fiel e formosa! Por gentileza do comando da GNR local, as viaturas ficaram “retidas” no respectivo parque de estacionamento enquanto, empunhando “armamento” digital, atacávamos parques, jardins, igrejas e tudo o que mostrasse a patine dos anos corridos, recolhendo lembranças para mais tarde recordar. Foi um regalo para a vista e um estimulo para o apetite, de maneira que, à mesa do restaurante “O Viveiro” jaquinzinhos, fêveras, lentriscas e outros petiscos tardavam em acalmar o “lobo” que havia dentro de nós! A meio da tarde, era hora de pensar no regresso pois circular durante a noite com viaturas tão idosas pode tornar-se numa aventura com final menos feliz. Antes, havia que passar por casa de certos “contactos” para levar para casa generoso fornecimento de queijo, pão de centeio, cerejas e outros mimos. E foi aqui que se deu uma espécie de “cisão”. Enquanto uns, contrafeitos, tiveram que regressar a casa por força das suas obrigações, tanto mais que estávamos a meio da semana, um pequeno grupo do qual tive o prazer de fazer parte decidiu ampliar o âmbito geográfico e temporal da digressão. A boa disposição, o maravilhoso bom tempo que fazia na altura e o gosto pelas viagens incitavam-nos a continuar. Despedidas e promessas de breve reencontro deram-se ali mesmo à porta do restaurante, tomando o grupo “rebelde” o caminho de Trancoso. Nesta vila apreciámos um dos seus ex-líbris, as sardinhas doces, e visitámos outro, a casa onde viveu o padre Costa, o tal que fez filhos na mãe, irmãs, madrinha, tias e tudo quanto usasse saia! Duzentas e noventa e nove crianças no total, que lhe valeram o perdão de D. João II e a comutação da pena de morte a que foi condenado por comportamento indecente, dado o contributo que representaram para o processo de colonização da Beira Alta que então arrancava. O padre Costa quase me fez esquecer outra ilustre figura desta terra, o sapateiro/poeta/profeta António Bandarra (1500 – 1556) que aqui possui túmulo e estátua.
De Trancoso partiríamos tarde mas a boas horas em direcção a Vila Nova de Foz Côa onde chegámos a tempo de buscar alojamento numa excelente pousada de juventude já minha conhecida, construída a pensar nos visitantes das gravuras dos quais não se vê nem rasto. Na tourist kitchen da pousada partilhámos uma ceia “opípara” constituída por queijo da serra, chouriço, pão e fruta … e lá se foi o farnel – para as emergências - do companheiro Júlio! Ainda houve tempo para um reconhecimento by night à localidade após o que nos entregámos a Morfeu.
juan_jovi@sapo.pt