quinta-feira, 1 de maio de 2014

128 - À terceira, foi de vez!

.
Sei-o através do feedback que me chega, os meus amigos e visitantes ficam algo desiludidos quando veem ao Kurt e não encontram novidades. Acreditem que alimentar este animal dá mais trabalho do que parece! Pois fiquem sabendo que é pensando no enorme respeito a todos devido e sobretudo para corresponder à consideração dispensada que, invariavelmente rebentado no final de cada dia de visitas, no "silêncio" constrangedor dos murmúrios que chegam até ao meu quarto de hotel, impessoal e algo solitário, frente ao computador cheio de manhas ou amuado com o router local me disponho, até altas horas da noite, a teclar um texto que vos dê gosto ler. Aqui vai, então, algum material novo.
Estava farto do frio, da chuva e do verde quase açoriano da nossa da paisagem. Desta prima vera sem vergonha que de há uns anos a esta parte, nem é nem deixa de ser, concubinada que anda com os manos Verão e Inverno. Entendi as primeiras olheiradas de sol de Março como sendo o sinal de partida. Rumei a sul com o intuito não muito firme confesso, mas provável, de fazer o meu ponto de partida no Cabo de S. Vicente, ligando-o a outro no sul de Marrocos, talvez Agadir ou por aí assim. Após dois dias de descanso na Fuseta, meu poto de abrigo desde há décadas, o Senhor mandou tal caldeirada de água que não tive outro remédio senão regressar a casa, fiel ao lema de que, viajar é do melhor mas com bom tempo. Interpretei a coisa como aviso dos céus e duas semanas depois propus-me sair, desta feita pelo norte. De Chaves para Verin e depois … um destino qualquer da Europa que entretanto começava a sair da ressaca da invernia. Famalicão, ponto de paragem obrigatória por aí residir a filhota Isabel com os seus conforme mencionei no post anterior, esta não foi ainda a terra do adeus à família. Padecendo de recaída de mal antigo, a minha draga (Land Rover) ficou subitamente incapacitada pelo que tive de trazê-la de volta a Pombal para a entregar aos cuidados do especialista Fernando Carvalho que não há maneira de dar com a carraça! Bem, se não pude sair pelo norte nem pelo sul, vou expatriar-me pelo centro, foi a minha decisão. E foi assim, de mercedes, de Pombal a Castelo Branco, Escalos de Baixo, Ladoeiro, Zebreira e fronteira de Segura. Esta fronteira que hoje regista fraquíssimo movimento, teve o seu apogeu nos anos sessenta aquando da emigração clandestina e em massa para França. Dada a orografia com as suas barreiras naturais, patrulhá-la era difícil. E assim sendo, os carneiros como eram chamados em linguagem de passador os candidatos a emigrante com passaporte de coelho, conseguiam, nem sempre, fazer umas faenas à Guardia civil, Fiscal e GNR. Apóse Segura temos Piedras Albas, Zarza la Mayor e Moraleja onde se toma a autovía da Extremadura em direcção a Plasencia, Talavera de la Reina e Madrid. Próximo desta fronteira existem vários pontos de atravessamento de e para Espanha, alguns bem conhecidos como Monfortinho, outros outrora muito utilizados pelas populações locais nem sequer aparecem no mapa. O trajecto que acabo de efectuar, não sendo comum, oferece algumas vantagens e recomenda-se porque: É bastante prático para quem reside na zona centro sendo o mais curto em termos de quilómetros percorridos, permite uma breve visita a belas localidades da Beira Baixa desconhecidas da maioria dos portugueses, atravessa zonas de paisagem fabulosa, as estradas são excelentes e nesta altura do ano bordejadas por arvoredo frondoso e o trânsito é mínimo para não dizer quase nulo. Aqui fica a sugestão!
 Ladoeiro, vila do rio Ponsul. Pequeno largo frente à Igreja Matriz.
 Igreja do Ladoeiro.
 Ladoeiro. Muitas da vilas e aldeias do nosso interior raiano apresentam esta aspecto de abandono e decadência.
 Ladoeiro. Uma porta típica do tempo da judiaria
 A Escola, uma preciosidade. Obra do tempo do Estado Novo na localidade da Zebreira
 Aproximação a Segura.
 Segura, vista do alto do seu castelo.
 Uma casa antiga típica dentro da localidade.
 O "Castelo" de Segura.
Um residente, na casa dos sessentas, gozava a sombra do lado da fachada norte do castelo sentado num daqueles banquinhos que se vêm na foto. Compenetrado, ar intelectual e de poucas palavras, molhava na saliva a  extremidade do indicador com que folheava "A Bola".
- Boa tarde! Desculpe interromper a sua leitura. Gostaria de saber se esta pequena torre é o que resta de algum castelo que aqui existiu?
- Hum ... se existiu não é do meu tempo- Não me lembro de aqui haver castelo algum!
- Mas há placas com a indicação "castelo" que nos encaminham para aqui. Como se explica isso?
- Deve ser porque "isto" fica num alto, respondeu o cicerone.

.
Bonita ponte sobre o rio Erges.

Marco de fronteira e painel indicando que esta vila se encontra dentro do perímetro do parque natural do Tejo internacional.. Nesta altura viam-se pairando nos céus alguns grifos entregues à azáfama de caçar para alimentar os filhotes.

Paisagem dura, agreste e bela ao mesmo tempo-.

Uma bonita mata de chaparros do lado espanhol. De repente, temos solo "desossado", de boa qualidade, sem pedregulhos nem matacões. Ai que os gajos nos enganaram mais uma vez escolhendo a melhor terra para eles!

Zarza la Mayor.

Suaves ondulações da estrada tornam a condução bastante divertida.

Temos  a sensação  de estar rodeados por montanhas seja qual for o lado para o qual dirigirmos o olhar.

Cumes da Serra da Gata. Vista com zoom, a foto mostra os picos cobertos de neve.

Fortificação de Oropesa.

1 comentário:

  1. Mais um texto extraordinariamente realista que, à semelhança dos anteriores, o torna um verdadeiro retrato escrito de paisagens. Apreciei também a evocação da "carraça", como verdadeiro ícone da metáfora irónica - talvez de outros tempos!
    Um abraço com votos de boa viagem


    ResponderEliminar