segunda-feira, 31 de agosto de 2009
13 - O "Kurt" está de parabéns
O autor com a neta Carolina ao colo.
Os padrinhos e co-fundadores - faço questão! - deste Blog , Carlos Vinhal e Paulo Santiago, enviaram uma prenda ao “pequeno”. Ficou muito feliz e deseja partilhá-la com os visitantes, incentivando-os a participarem também, pelo modo que entenderem.
Não faço apresentações porque acho bem mais interessante que seja cada um dos seus leitores a descobrir a personalidade que está por detrás dos respectivos textos e fotografias. O que significa que esperamos por muito material deles, no futuro. Mas não deixo de levantar uma pontinha do véu para aguçar curiosidades. O Carlos, nortenho de Leça, é um gentleman que aprecia a boa comidinha, cá dentro e lá fora, cama confortável e nada de foles nos pés. Quanto a trabalhos de casa, nem pensar. Isso é com os guias, que também necessitam de garantir o seu emprego. Já o Paulo – olhem só para aquela bigodaça –, é duro como o cerne de um carvalho. Dá umas calcinhas a quem o queira acompanhar a pé, limpa o cu a um caco se não tiver alternativa e não se chateia nada se o jantar for apenas pão com chouriço, desde que a pinga seja boa. Tanto dorme na tarimba de um albergue como sobre a raiz de um castanheiro. Representam por isso os dois extremos do binómio Turista/Viajante.
Parabéns aos dois e obrigado.
Juan
12 - Caminhos de Santiago, 2006 - I
P.S. - À saída de Astorga para Santiago de Compostela, com a mobília às costas.
-Ponte de Lima- Santiago, feito em 2000, em BTT, três dias até chegar às portas da Catedral.
-Valença-Santiago, no ano de 2003, a pé,durando 4 dias
Para este percurso a começar em Astorga,fui a um mapa do Camino, vi que eram 255 km até Santiago, e daí meti na cabeça...25,5 Km por dia, dá 10 dias...erro..
Como estava em pleno Verão, reduzi o conteúdo da mochila ao mínimo: 4 pares de meias para caminhada, de secagem rápida, 4 t-shirt técnicas, deixam passar a transpiração, 2 pares de calções, 3 boxer's, também de secagem rápida, 1 camisola, 1 poncho impermeável. A estas peças de roupa há que juntar, toalha, equipamento para higiene, saco- cama e uma pequena farmácia que terá de incluir agulha e linha para o caso de aparecer alguma bolha. Diminui-se o aparecimento de bolhas usando o velho Vicks Vaporub, untando os pés, logo de manhã antes de calçar as meias.
Em Astorga, onde existem belas ruínas romanas, arranjei a Credencial, onde se vão colocando carimbos diversos, e que dá para a admissão nos Albergues. Mentalizado e equipado, iniciei a caminhada em 9/08/06, tendo feito neste dia 22,65 km, ficando no Albergue de Rabanal del Camino, onde cheguei por volta das 13.00 horas. Durante a tarde, lavei meias, t-shirt, cuecas, e passado pouco tempo estava tudo seco. Convém sempre lavar, pode chover um dia ou dois, e nesses dias terá que se guardar conforme chegou.
O Caminho, nesta altura do ano, tem um movimento apeado e bêtêtista impressionante...conheci uma jovem belga, tinha partido de Roncesvalles, neste primeiro dia, e ao longo dos dias fui conhecendo pessoas interessantes...um exemplo, no dia 10, encontrei um holandês que à minha pergunta"vens de Roncesvalles"me respondeu"venho de Amsterdam, saí de lá em 8 de Abril" Tinha 61 anos...
No 2º dia, fiquei em Ponferrada, os primeiros 10 km, a seguir a Rabanal foram a subir, dos 1200 metros até aos 1500 do monte Cruz de Ferro, iniciando aqui a descida, 22 km até Ponferrada, situada a 400 metros de altitude. A descida parte um gajo, é um trilho de montanha, com muita pedra solta, onde é necessário grande esforço para não escorregar ...pisei as unhas dos dedos grandes dos pés.
Nos outros dias fui ficando em Villafranca del Bierzo ( tem um vinho tinto excelente), Cebreiro, Triacastela, Sarria, Portomarin. Aqui chegado...parei...faltavam cinco dias para Santiago de Compostela, e as férias estavam a acabar. Iria fazer estes cinco dias em Dezembro...ficam para outro dia.
Abraço
Abrantes Santiago
Foto 1-partida de Astorga
Foto 7-amanhecer saindo de Rabanal del Camino
Foto 22-Castelo dos Templários em Ponferrada ( em obras de recuperação)
Foto34- não encontrei eucaliptos...,carvalhos e castanheiros
Foto 55- que tronco...umas centenas de anos
Foto72- Igreja em Sarria
Foto60-Mosteiro de Samos ( entre Triacastela e Sarria)
11 - Viagem à Ilha da Madeira
CV: Madeira - Vista geral de Machico.
Andei uns poucos de anos a convencer a minha mulher a acompanhar-me numa visita à Ilha da Madeira, parcela do território português que me diz muito, pois foi dali que saí, em 1970, com destino à Guiné para fazer a minha comissão de serviço, integrado numa Companhia composta maioritariamente por naturais desta Ilha.
Como se devem lembrar, a pista existente na altura, no Aeroporto da Madeira, situado em Santana, era muito reduzida em extensão, sendo preciso alguma perícia dos Pilotos para lá meter um avião em segurança e sem assustar os passageiros.
Depois de muita acção psicológica, ao fim de treze anos a massacrar-lhe o juízo, a patroa lá concordou. Ia ser para ela uma aventura. Andar de avião pela primeira vez e logo ter de aterrar naquele aeroporto tão peculiar.
Tratados os pormenores na Agência, antes que ela se arrependesse, lá nos pusemos a caminho, voando calmamente numa, felizmente, agradável viagem do Porto para o Funchal, com uma aterragem relativamente suave para desmistificar.
O meu coração ia em pulgas, regressava ao fim de 15 anos àquela linda terra, das mais bonitas que Portugal tem.
Devidamente instalados no “luxuoso” Hotel Santa Maria, após o jantar, quis ir ver o Funchal à noite e o Café (Apolo) que frequentava no meu tempo de militar. A minha mulher sem saber o que a esperava, saiu com sapatos de salto alto. Quem conhece o Funchal, deve lembrar-se daqueles passeios feitos de godo pequeno, espetados ao alto em massa de cimento, formando alguns desenhos pitorescos. Por sua vez a distância, a pé, do Hotel até ao centro do Funchal ainda é um bom bocado. Dispenso os pormenores, mas ao outro dia tivemos que fazer uma visita urgente a uma sapataria, a fim de comprarmos uns sapatos mais confortáveis e práticos. Ainda hoje se fala desta aventura com um riso amarelo.
- Não me avisaste que era tão longe e que os passeios não eram iguais aos nossos!!!
Passámos os dias em visitas por toda a ilha, em táxi alugado, partilhado com mais um jovem casal de Famalicão.
Subimos até ao Pico do Areeiro (1810 metros de altitude) de onde se vê o Pico Ruivo (1862 metros de altitude) que é a terceira maior elevação do território português. Como se sabe, o ponto mais elevado é o Pico, na Ilha do mesmo nome, com 2351 metros.
Percorremos perigosas e escorregadias estradas, hoje substituídas por seguras autoestradas à borla. Tive o prazer de regressar recentemente à Madeira e pude constatar a evolução da Ilha no que respeita a estradas.
Tive ainda oportunidade de visitar a minha antiga Unidade (BAG 2) e de ficar a saber que o então Comandante, Capitão Morais, tinha falecido em combate em Angola. Esta parte não foi nada agradável.
Num dia em que passeávamos os dois pelos belos jardins do Funchal, entrámos num que tinha um belo palacete lá no meio. Vimos as árvores, lemos as respectivas etiquetas para ficarmos a saber o seu nome e sua origem. A determinada altura a minha mulher entra pelo edifício adentro, mas é delicadamente impedida de entrar, com a indicação que ali era a residência oficial do Presidente Regional da Madeira, não sendo permitidas visitas. Ficamo-nos pelo jardim já que o Jardim não nos queria receber.
Fiz algumas fotografias, mas como a maioria delas será igual a milhares que outras pessoas fizeram, dos mesmos locais e com os mesmos ângulos de objectiva, envio estas ao “Juan” para ele publicar se assim entender.
1 - Vista panorâmica de Machico
2 - Ponte no Monte
3 - Vista panorâmica do meu antigo Quartel, a partir do Pico dos Barcelos
4 - Piscinas naturais de Porto Moniz, um instantâneo feliz em que uma jovem se atira para mergulhar nas límpidas águas.
5 - Mais alto que as nuvens, algures a caminho do Pico do Areeiro
6 - Mais alto que as nuvens, algures a caminho do Pico do Areeiro
7 - Pico Ruivo, ao longe, visto a partir do Pico do Areeiro
8 - Residência oficial do Presidente Regional da Madeira
sábado, 29 de agosto de 2009
10 - Quantas estrêlas?
Arqº pessoal: Avenida central de Maputo
Em contraste, o viajante – que não está a fazer conta de dissipar o seu tempo sentado na borda da piscina com os pés de molho, toalha ao pescoço e copo de whisky na mão –, tem a este respeito, três desejos muito simples de satisfazer. Pretende:
- Um quarto limpo, lençóis lavados e preferencialmente, casa de banho privativa.
- Em climas tropicais, ar condicionado para maior conforto e porque mantem a mosquitada sossegadinha. Que não seja muito ruidoso.
- Localização adequada, na proximidade daquilo que há para conhecer, permitindo economias de tempo e nos gastos com transportes. A este respeito deve ter-se presente o aforismo que diz “o que é barato sai caro”.
Entre o turista extremamente preocupado com o sítio onde vai alijar os ossos e que entra em paranóia se a meio da tarde não tiver uma reserva confirmada e o back packer que já deu duas voltas ao mundo enrolado no seu saco-cama seboso, estão as pessoas comuns, como eu!
Modus faciendi:
Suponhamos que se quer conhecer uma capital europeia. Primeiro passo, escolher a época do ano em que se pretendo fazê-lo. A maioria das pessoas prefere viajar com bom tempo e é sabido que dos Pirinéus para cima, a Europa passa uma parte do ano debaixo de gelo. No entanto, cada época tem a sua beleza e as cidades podem ter ainda mais atractivos no Inverno, em quadras especiais. Um Natal ou Fim de Ano em Paris, Roma ou Copenhaga, são inolvidáveis. Outro bom exemplo é a nossa Serra da Estrela: Esplendorosa no Inverno, divina e misteriosa no verão.
Nas épocas baixas, turisticamente falando, tudo é mais acessível. Dentro da Europa podemos viajar numa low cost para certos destinos ao preço de 1 (um) euro por trajecto mais taxas! E o alojamento pode custar um terço do seu valor na época alta. É uma boa opção, pois garante-nos poupanças que podemos desviar para …compras, por ex. De resto, nada mais fácil do que encontrar um hotel, guest house, pousada ou hospedaria que sirva os nossos intentos. Quanto à qualidade não há que temer, pois todas são devidamente controladas pelas autoridades. E quanto á localização? Também não há qualquer problema visto que, graças à Internet, temos à disposição mapas detalhados, geográficos, por satélite e mistos de todo o território Europeu. Neste momento até já existe o mapeamento fotográfico das principais cidades. Depois é só delimitar o respectivo casco histórico (mais uma espanholice ...) e dentro deste, a proximidade da estação central de caminhos de ferro (Hauptbahnhof) ou da catedral (Dom) da cidade, são garantia de que se está excelentemente localizado. Escolhida a unidade hoteleira segundo a categoria, preço, popularidade ou qualquer outro índice, é só telefonar ou enviar um mail a pedir a reserva. Se receia facultar o número do seu cartão de crédito – eu nunca tive qualquer problema –, a sua agência de viagens também se encarregará dessa missão e com muito prazer! Pelo sim pelo não, e dependendo da duração da estadia, não é asneira nenhuma fazer uma reserva para a primeira noite e, caso a unidade não corresponda às expectativas ou existam alternativas mais vantajosas na mesma área, ficamos com todas as opções em aberto. Além disso, e ainda que a idade da chavalice já tenha passado há muito, leve no bolso o cartãozinho das Pousadas de Juventude. Custa apenas seis euros e disponibiliza uma vasta rede de estabelecimentos de boa qualidade, onde pode encontrar excelente companhia, e tudo a bom preço! Viajando de carro sem destino definido, não precisa de se preocupar. Confie nos postos de turismo (Rep. Checa, Alemanha etc.). Procure um e diga-lhes qual é o seu plafond para a pernoita e eles tratarão do resto com cortesia e profissionalismo. Se viajar de avião, também não tem muito que pensar sobre os tranfers, pois os outros europeus não brincam em serviço e possuem uma abrangente rede de transportes públicos a ligar os aeroportos ao centro das cidades.
Com algumas adaptações, estas dicas aplicam-se às viagens intercontinentais com a ressalva de que, em certas regiões do Globo nada substitui a exploração in loco.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
9 - Fazer Turismo ou Viajar?
Arqº pessoal: Berlin - Uma vista da cidade a partir do alto da torre das telecomunicações.
Meu caminho pelo Mundo – eu mesmo traço.
domingo, 23 de agosto de 2009
8 - Viajar a baixo custo
Arqº pessoal: Praia de Calangute, Goa
Arqº pessoal: Almoçando com um amigo num "restaurante de rua" no centro de Mumbai
Não m'invejo de quem tem
Parelhas, éguas e montes;
Só m'invejo de quem bebe
A água em todas as fontes
Canção pop.
Nem todos os viajantes dispôem dos meios de fortuna que supostamente alimentam as carteiras daqueles que fazem das viagens o leitmotiv da sua existência. Pergunta-se então, como conseguem?
Para dar uma explicação cabal, que pudesse inclusivamente servir de dica a alguém desejoso de aderir ao clube, seriam necessárias várias páginas e muita paciência da vossa parte. Por isso, vou aflorar apenas alguns tópicos garantindo desde já que para esta disciplina não existem professores, e a única forma de aprender é … fazendo!
O primeiro item a ter em consideração, é o da destrinça clara entre aquilo que se pretende: Fazer turismo ou viajar?
Qualquer viajante pode ocasionalmente virar turista, mas, nem todo o turista se pode tornar viajante, ainda que o queira ardentemente! Ser viajante, exige ser-se portador de um conjunto de condições físicas e psicológicas na ausência das quais viajar pode ser sinónimo de verdadeiro tormento. Isto não significa que esteja fora do alcance das pessoas comuns, com sentido prático e mediana capacidade de adaptação. Então:
O viajante não tem sítio nem hora para comer, tanto pode enganar o estômago com uma chamussa confeccionada à la porcalhota numa rua de Mumbai (Bombaim) como deliciar-se com um belo churrasco em Mendoza, na pampa Argentina, antes de começar a subida para os Andes onde irá tremer com o esforço e o frio. Em África (Guiné Bissau por ex.), tem que estar disposto a uma dieta mais pobre, bianda (arroz) com dentes e…vamos indo! Como já comeu os sete alqueires e meio de caca que a mãe natureza atribui a cada ser vivente da espécie humana, adquiriu por isso um certo grau de imunização que lhe permite beber água em todas as fontes, como diz a canção. Com efeito, não teme o brandy del cano (água da rede ou poço) e come saladas e frutas cruas em qualquer latitude, sem a preocupação de que daí a umas horas possa estar a cagar fininho (com diarreia), e se estiver, será uma coisa passageira. Quando regressa a Portugal e vai ao supermercado, o viajante não mais deixará de contemplar com devoção as latinhas do Bom Petisco ou Ramirez. Abençoados sejam quem as fabrica! Lá por fora, come-se muita mixórdia com o nome de conserva, mas posso afiançar que não há em mais parte nenhuma do mundo conservas como as nossas. Daí esta sugestão entre outras que hão-de vir, lá no fundo da vossa mochila, metam umas latitas, just in case.
Passa dias sem lavar os dentes ou tomar banho, desinfecta feridas, arranhões e foles dos pés com a sua própria urina ou dos companheiros. Se é picado por uma mamba negra (S. Tomé), adoece gravemente ou sofre um acidente em local remoto, que Deus tenha piedade da sua alma. Espanta os mosquitos à palmada e guarda religiosamente o mephaquin que o médico mandou tomar como profilático da malária para uma situação de emergência em que já tenha contraído as sezões. Não está muito preocupado com a morte. E quando acontecer, que seja com os olhos e a alma cheios!
Dorme pouco. Procura viajar de noite para poder cochilar um ratito (gosto desta palavra espanhola!) nos assentos do autocarro, avião ou comboio e assim poupar algum em hospedagem. Como bagagem, leva apenas aquela que pode transportar às costas. Assim não há o perigo de se extraviar nos aeroportos ou ser roubada. Daí ter de usar as mesmas roupas semanas a fio e, quando o desconforto (ou o cheiro ou ambos) se tornam insuportáveis, rapa do pedaço de sabão azul e branco que transporta consigo e arranja maneira de fazer uma geraldina (barrela geral).
Traz consigo o télélé carregado a fundo antes de sair de casa que servirá apenas para, uma vez por semana e sempre através de sms, informar a família do seu paradeiro. Ou onde terão de procurá-lo em caso de não dar à costa na data prevista. Fora isso, é ligado durante cinco minutos à hora e com a periodicidade combinada para receber qualquer mensagem ou chamada de emergência.
Em futuro post, falarei de outros normativos por mim próprio estipulados a que obedeço religiosamente nas minhas andanças. Porém, e antes de terminar, quero responder à dúvida que insidiosamente se foi instalando na mente dos meus amigos à medida que passavam os olhos por este pequeno texto:
Será que vale a pena? Qual será o gozo de viajar nestas condições?
Meus caros, como dizia a famosa loira (sem ofensa para as loiras!), estar vivo é o contrário de estar morto. Nesta perspectiva, nada nos pode fazer sentir mais vivos do que viajar. Lembro a propósito, uma afirmação que ouvi a um professor nos meus tempos de chavaleco. Dizia ele que durante uma vida normal, cada um de nós terá deambulado pelo planeta cerca de trinta mil quilómetros. Ora, o acto de viajar multiplica esse valor por n, expandindo a nossa vida muito para além da sua duração cronológica. É como se adicionássemos mais vida à vida.
Quanto ao retorno, ele é imenso. O prazer resultante da ultrapassagem das vicissitudes de uma viagem é idêntico ao do atleta que se supera a si mesmo, batendo o seu próprio record. Haverá emoção mais forte? Existirá maior alegria?
Com votos de boas viagens para todos,
Juan
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
7 - Viajar em tempo de crise
Notícia de hoje:
Contrariando todas as estimativas (mais uma vez), a zona OCDE saiu em bloco da recessão.
Notícias da semana:
1 - Contra as previsões e expectativas de todos analistas, França e Alemanha apresentam um crescimento do PIB de 0,3% no segundo trimestre de 2009. Conjugando este dado com outros anunciados nas semanas precedentes, pode inferir-se que estão a dizer adeus à crise e, provavelmente, a arrancar para mais um ciclo de crescimento no cenário de “um maravilhoso mundo novo”, em que a ciência será rainha e as novas tecnologias as princesas, montando potentes cavalos de energias renováveis.
Portugal, um tigre (!) da economia da Europa dos vinte e sete – porque também há a Europa do Norte, do Sul e do Leste –, não podia ficar atrás, e no mesmo período, minhas senhoras e meus senhores, segundo o INE, cresce também uns fantásticos zero, vírgula, três por cento
2 - A Tap air Portugal está este verão a recuperar dos quase quatrocentos milhões de euros de prejuízos do ano passado, palavra de Fernando Pinto.
3 - O fiscalista Medina Carreira, que dispensa apresentações, diz em entrevista à Sic Notícias que o País está transformado num enorme BPN.
4 - Um deputado estadual brasileiro, é acusado de mandar executar comparsas seus e mostrar o trabalhinho em directo, num programa de TV de que era apresentador.
Notícias de semanas e meses recentes:
Portugal tem uma economia de Casino (!), afirmam reputadas vozes dos diversos quadrantes políticos.
E dado que apresenta défices estruturais gigantescos, só lá para 2011, mais seguramente em 2012, poderá respirar de alívio ao olhar a crise pelas costas.
Concordo que pode parecer bizarro estabelecer ligação entre estas notícias. Mas vamos por partes.
Dizia George Clemenceau (1841-1927): “A guerra é uma coisa demasiado séria para ser confiada aos militares”. Parafraseando-o, eu digo que a economia é uma área demasiado séria para que possamos confiá-la aos economistas. Que fique bem claro que não quero nem posso entrar em generalizações numa matéria de que percebo nickles e, nem por um momento, me passa pela cabeça por em causa a honorabilidade da classe, não desconhecendo que em todas elas há maçãs bichosas.
Como é sabido, a economia está longe de ser uma ciência exacta. Pese embora o facto de se servir de uma ferramenta que lhe confere alguma, direi mesmo, muita, fiabilidade – a matemática –, lidar com a volatilidade de variáveis como “estados de alma” ou níveis de confiança deve ser fogo! Sou o primeiro a compreender que não será nada fácil criar algoritmos previsionais, sobretudo a partir do momento em que os meios de CS passaram a cavalgar a onda do pessimismo, para não dizer do desespero. Não é novidade para ninguém que as boas notícias não fazem notícia. O “share”, a luta desesperada pela conquista de audiências, porque disso depende a sobrevivência do grupo e o salário ao fim do mês, levaram quantas vezes, à astuciosa manipulação de dados fornecidos pelos experts, já de si sombrios qb. Mas ser sombrio não basta. É necessário adjectivar, ler com determinada entoação, arquear as sobrancelhas, franzir a testa, abanar o queixo enfim, torná-los terríficos aos olhos e ouvidos dos telespectadores. Por outras vias, radiouvintes e leitores também apanham pela medida grossa. Porque só é verdadeiramente notícia o que é escandaloso, chocante, trágico, medonho, assustador, tenebroso, catastrófico, dantesco! E que melhor material do que este, o da “maior recessão de sempre”, com previsões qual delas a pior, lidas em tom dramático e sisudo com tiques de orgasmo iminente?
Mas voltemos aos nossos economistas …
Nos anos oitenta e noventa, ainda os alunos de economia e gestão marravam o sebentórium, ressacando de memoriais latadas, queimas e semanas académicas e já os melhorzinhos eram abarbatados pelas empresas de maior gabarito, como as financeiras e de leasing, bancos, seguradoras, multinacionais, transnacionais, brokers etc., tal era a carestia destes profissionais. Um pouco mais tarde, já as vagas não chegavam para as encomendas, o que levou uns tantos a empreenderem a fuga para a frente. Mandaram-se para Oxford e Cambridge, passaram pelo MIT, Harvard, Yale e várias outras catedrais do saber, onde realizaram trabalhos de post graduação, mestrado e doutoramento. Os mais sortudos por lá ficaram e fizeram nome, carreira e fortuna ao serviço das melhores congéneres da Europa e dos States. Em tempo de vacas gordas, houve quem recebesse “prémios de gestão” obscenos em cima de salários magestáticos. Apreciadores de marcas como patek philippe ou hugo boss, gozavam férias em hotéis de sete estrelas e pilotavam desportivos de alta gama. Nem todos nasceram em berço de ouro, mas a incondicional vassalagem prestada ao “vil metal” pela geração yuppie, teve as suas consequências. Fiel ao lema “aos trinta, estás rico ou esquizofrénico”, esta geração veio também dar notável contributo para a popularidade do prozac.
E o que é que estas cabecinhas pensadoras fizeram? A nível interno, nada de relevante até porque, se a perna é curta, o coice não pode ser grande. Mas lá fora, Senhor, o que é que eles não fizeram? Para não me esticar demasiado, direi apenas que fizeram merda e da grossa. O pontapé de partida terá sido dado há uns anos por um alto funcionário a trabalhar numa filial do extremo oriente de um grande banco francês. Em poucos meses, aquele brilhante executivo pôs o banco de pantanas, muito próximo da falência. Quando alguém se apercebeu que havia gato com rabo de fora, o puto montou-se na sua elevadíssima noção da responsabilidade e deu ao slaide. De então para cá, tem sido do melhor! Eles inventaram as engenharias financeiras mais estrambólicas, os “produtos estruturados” pouco saudáveis, tóxicos e letais, serviram Donas Brancas aos balcões de casas respeitáveis, abriram caminho a fluxos financeiros com altíssimo défice de higiene através de paraísos fiscais. Fico até na dúvida se a ideia da bolha e o ká-te-kéro não terá partido de uma destas mentes prodigiosas.
Aquilo de que não restam dúvidas a ninguém, é que chegados ao final das férias do ano passado constatámos que o país estava como o resto do Mundo, atascado até ao pescoço. Atascado em dúvidas, temor, pessimismo. Quem não se inquietou acerca da segurança no emprego, das prestações da casa, da mensalidade do jardim de infância ou das propinas dos filhos. Haveria o que comer amanhã? Funcionariam as instituições do estado, como escolas e hospitais? A fome e a miséria acarretariam níveis insuportáveis de insegurança? A tudo isto respondiam os nossos especialistas com análises e previsões, as mais negras que se possa imaginar. As aves agoirentas profetizaram anos de escuridão para a nossa economia. E quando o mundo inteiro já estivesse a festejar uma nova primavera económica, nós, porque abertos, estruturalmente mais fracos, blá, blá, blá, ainda teríamos que passar pelas penas do purgatório. Talvez lá para 20012 …13 …14!!! Quantos casamentos adiados, quantas casas, mobílias, electrodomésticos e carros ficaram por comprar, quantas obras paradas, quantos negócios cancelados graças a esta lenga-lenga da treta? Quem foram afinal os ajudantes de coveiro da nossa economia? Que credibilidade merecem estes senhores, a quem servem e que tipo de marosca os anima?
Neste Agosto pouco soalheiro, as nossas praias estão apinhadas, as estradas e auto-estradas sofrem engarrafamentos diários, nos estacionamentos dos cafés e restaurantes não há mais lugar. Os aviões da Tap voam para destinos exóticos com a lotação esgotada. Hoteleiros e agências de viagens estão caladitos, o que até nem é mau sinal, apesar de se saber que em Portugal quem não berra não mama. Os homens da distribuição (Sonae, Jerónimo Martins), vêm os seus negócios crescer e a cotação dos respectivos papéis é o dobro de há um ano.
Os portugueses têm e sempre tiveram recursos que as estatísticas e o senhor ministro das finanças desconhecem, graças a Deus!
Pelo meu lado, bem ao contrário do apregoado ano horribilis tem sido um ano fantásticus! Depois dos mini crash's de 10, 24 e 27 de Outubro, deprezando as ponderosas análises mais ou menos catastrofistas que vaticinavam o fim do mundo e o colapso da BVL, meti tudo. Até fui à cave, como no jogo do póquer. E querem saber? Trintinha por cento já cá moram! A ser bicho, prefiro morrer de estocada como o touro a desempenhar o papel de urso de circo. Boa noite e procurem ser felizes.
Juan
terça-feira, 18 de agosto de 2009
6 - Viagem ao passado
Imagem: blog.cancaonova.com
Em Agosto, Fátima é o centro do meu pequeno mundo. Habito a poucos quilómetros, o que me permite avaliar a mudança no ritmo de vida da região à medida que se aproxima o dia treze. As estradas principais e secundárias enchem-se de peregrinos de todas as idades e condições. Enfiados em coletes reflectores, como dita a moda e as regras de segurança, movem-se desde o clarear até altas horas como uma serpente gigantesca que vai engordando à medida que a cabeça se aproxima da foz deste rio humano, a Cova da Iria. Velhinhas rijas de negro vestidas, arrastam-se num silêncio doloroso e penitente, sussurrando litanias redentoras. Vozearia e brincadeiras, animam os grupos dos mais jovens que naturalmente não vêm nenhum inconveniente em aliar a devoção ao prazer, fazendo da peregrinação uma aventura festeira. Alguns ostentam um andar novo, de pernas escarcalhadas e foles nos pés, anseiam pelo próximo ponto de apoio ou pela carrinha conduzida pelo familiar onde seguem as ligaduras, os comes e bebes, ás vezes uma enxerga para descansar os ossos durante um par de horas, até o impiedoso calor do sol de Agosto amainar um pouco. Chegados ao mais santificado torrão do solo lusitano, aguardam-nos as enchentes que jorrando por outros caminhos, se espraiam procurando espaço onde ele já não existe. No dia 12 haverão de chegar às centenas, os autocarros apinhados com gente vinda do mundo inteiro. E muitos automóveis com matrículas da França, Suiça, Bélgica, Alemanha, Luxemburgo, Holanda … Tantos são os países onde os filhos da nação foram procurar melhores condições de vida. À noite, na procissão das velas, lá estarão todos. Unidos pela fé, agradecem à Senhora a graça recebida ou imploram a Sua protecção.
Sou adepto da teoria de que mais do que o berço ou o local onde se nasceu, aquele onde passámos a nossa meninice, talha-nos o carácter e baliza-nos o destino até ao último suspiro. O Antoninho nunca deixaria de usar botas, mesmo se tivesse vivido por longos anos em Nova Iorque. Eu nunca deixei de ser rústico militante, apesar de ter absorvido uma certa cultura parisiense. Ao escrever este despretensioso texto que dedico aos amigos, em particular aos crentes, acodem-me à memória quadros da minha própria infância e juventude. Recordo aqui, porque vem a propósito, duas figuras que conheci no Pontão (Chão de Couce), quando ainda era menino: o Aquiles velho e o ti Augusto da Francisca. Dei-me mais com o ti Augusto, pois na qualidade de jovem taberneiro, servi-lhe o pequeno almoço um número incontável de vezes. De Verão, matava o bicho com um branquinho dourado e fresco, obtido pela fermentação de uva fernampires e servido num copo de três. A acompanhar, um figo lâmpado ou pingo de mel, retirado do açafate em cima do balcão. Na sua falta, um bravo de esmolfe engelhado, desertada habitação de uma família de lagartas, servia de lastro. No Inverno, a alimentação tornava-se um pouco mais variada para fazer face aos rigores do tempo e dos muitos anos de vida. Podia ser então um abafadito servido no mesmo copo de três, um eduardinho ou um traçado. Para ensopar, duas passas de caparrota ou umas bolachas maria a um tostão cada. Com este regime, viveu o Ti Augusto da Francisca até se cansar! Com este regime e mais o cigarrito que lhe fazia companhia permanente aos lábios. Tabaco de onça Duque e livro de mortalhas zigzag, que resguardava debaixo de um carapuço de merino preto, fabricado na Castanheira de Pêra. Conheci-os, eram já muito idosos, a rondar os oitenta anos. O Aquiles, entroncado, baixote, pletórico, e reservado. O Augusto, todo branquinho, lacrimoso e falador. Eu, um puto de dez anos, de uma curiosidade insaciável, o melhor ouvinte de ambos.
Eram colegas de profissão, almocreves. Descreveram-me vezes sem conta como tinha sido dura e aventurosa a sua vida de homens jovens e activos. Os relatos sobre assaltos, mulheres e vinho, interessavam-me de uma forma especial.
Começaram como carreiros. Bois pela assoga, aguilhão ao ombro, sofriam as inclemências do tempo, transportando os quinais de pedra calcária das serras da Nechebra ou dos Carrascos, com que se construíam as habitações. As meduras de azeitona, os moios de trigo ou a tina das uvas não conheciam naquele tempo outro meio de transporte que não fosse o carro de bois. Os caminhos, atapetados de matacões ou transformados em lamaçais de barro onde animais e carros se atascavam, retiravam-lhes as forças e horas de sono. Fora isso, tinham a vantagem de viver ao ritmo dos bichos e assim, as horas para comer, beber ou descansar eram sagradas. Mais tarde, com os adequados meios financeiros, adquiriram as viaturas com que se dedicaram ao transporte de longo curso. Para Lisboa, seguiam de carroça puxada à força de mula, bens de que a terra era excedentária, como vinho, azeite, batatas, cereais, carvão etc. Nas charretes, traccionadas por parelhas de cavalos galantemente ajaezados, com antrolhos de cabedal e guizos ao pescoço, viajavam pessoas e, se não estou em erro, as malas do correio. Faziam a ligação entre a região hoje designada por Pinhal Interior Norte e a capital, passando por cidades como Tomar, Torres Novas, Entroncamento e Santarém.
Corria o ano de 1917. Nos anos precedentes, uma série de acontecimentos à escala nacional e internacional, entre os quais cito o assassinato do rei e do príncipe herdeiro, o derrube da monarquia, a instabilidade governativa e sobretudo, a participação de Portugal na 1ª grande guerra, tinham criado o caldinho propício ao exacerbamento dos fervores religiosos. Neste contexto, o rumor de que Nª Sª tinha aparecido a umas crianças, pastores na região de Fátima, espalhou-se como rastilho de pólvora. A ansiedade e as expectativas geradas pela notícia tornaram-se difíceis de conter, tanto mais que corria o “boato” de que aos pastorinhos havia sido entregue uma certa mensagem e a Senhora tinha prometido voltar uma última vez para se despedir.
Aqui, entraram os meus amigos almocreves que de Maio a Outubro de 1917 e nos anos seguintes, não tiveram mãos a medir tal era o número de pessoas a solicitar os seus serviços como transportadores. Foram por isso testemunhas presenciais, directas e suponho eu neutras, de todos os fenómenos relacionados com as aparições, tão amplamente divulgados. E disso me deram conta quando eu era um menino de dez ou onze anos.
Claro está que os meus amigos estão mortos de curiosidade para saberem o que é que os “velhos” me contaram. Mas isso, eu não posso revelar, pois é matéria que constitui o 4º segredo de Fátima!
Juan
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
5 - Passeio de Carros Antigos à Ilha da Madeira
Câmara de Lobos - Madeira (wwwmadeiraislands.travel)
Pois isto não pode ser apenas rebéu-béu-béu. Há que mostrar serviço, ou seja, passar da teoria à prática! Assim, emite-se mais um aviso geral à navegação, informando que no próximo dia 6 de Setembro de 2009 partirá de Portimão a bordo do ferry Volcán de Tijarafe, uma expedição de carros antigos cujos proprietários residem na zona centro. No entanto, para aqueles que possuindo uma "relíquia" quiserem associar-se ao passeio, aqui vão alguns elementos de carácter informativo:
Saída de portimão ao meio dia de domingo, 6 Set.
Chegada ao Funchal: 09h00 de segunda feira, dia 7.
Alojamento (APA): Hotel Four Views, ex Monumental Lido.
Durante a estadia, passeios diversos a combinar e organizar localmente, por nós participantes. Entre eles, e para os interessados, uma deslocação à lilha de Porto Santo.
Regresso pela mesma via, com partida do Funchal no sábado seguinte, dia 12 Set.
Custo do estrago: 350 € por "bico". Quem for montado, paga mais 100 euros para cada lado correspondentes ao transporte do bólide.
Pequeno historial destes passeios em carros antigos:
Há cerca de dez anos nasceu em Pombal o clube 4 Ases (Associação dos Amigos dos Automóveis Antigos). Trata-se de um grupo de carolas que aproveitam qualquer oportunidade para arejar máquinas do tempo dos nossos avós (e mais recentes!), devidamente restauradas. Além do prazer de conviver e passear em ambiente de saudável camaradagem, os nossos raides são uma alegria para os olhos dos nossos conterrâneos dado que se realizam de uma maneira geral dentro dos limites do concelho. Este será o 2º passeio de "longo curso" tendo o primeiro ocorrido há dois anos com uma ligação entre Pombal e Biscarrosse, na região de Bordéus. Foi de facto um passeio memorável, planeado aqui pelo Juan, que os participantes recordam com saudade e alguma água na boca.
Só para terem uma ideia do trajecto, aqui vai: Pombal - Caminha (ferry) - Baiona (Sta. Tecla) - Vigo - Pontevedra - Sanxenxo (Rias Baixas) - Santiago de Compostela - Cabo Finisterra - Corunha - El Ferrol - Rias Altas - Oviedo - Gijón - Cangas de Ónis - Picos da Europa e Santuário de Nª Sª de Covadonga - Santander - Bilbau - Gernika ou Guernica - S.Sebastian - Biarritz - Bayonne e finalmente Biscarrosse, cidade geminada com Pombal, onde fomos recebidos pelo presidente do Município, tendo havido troca de presentes, encontros com pombalenses residentes naquela região e umas almoçaradas que nem vos conto. O regresso foi directo e de acordo com as possibilidades de cada uma das "velhas senhoras".
Para o ano, haverá mais!
Juan
terça-feira, 11 de agosto de 2009
4 - Viajar é bom, em boa companhia ainda é melhor.
Fotografia da Kon Tiki com tripulação a bordo.
No Kon Tiki Museum em Oslo, encontra-se uma réplica desta embarcação.
Amigos e futuros companheiros de viagem,
Eu tenho tanta vontade de dar à palheta que nem sei por onde começar. O melhor será entrar pelo princípio e explicar melhor porque é que há muito me apaixonei pelo tema das viagens. Pois, era eu um chavalito de 12 ou 13 anos, muito mais interessado no enigma situado entre as pernas das raparigas do que em lições de história ou geografia, quando certo dia dei de caras numa carrinha da Gulbenkian, com um livrito que relatava as aventuras da Kon Tiki. Este nome, evocativo de uma prestigiada divindade Inca, foi dado a uma jangada que em 1947 participou numa expedição destinada a provar que ainda antes do Cristóvão Colombo ter chegado à América, já os índios sul-americanos se teriam aventurado pelo Pacífico aberto até às ilhas da Polinésia. Construída no Peru segundo o método e com materiais idênticos aos supostamente usados por estes exploradores pré-colombianos, a Kon Tiki teve cerca de três meses de glória até se espatifar nuns baixios do Pacífico Sul. Ao comando, o explorador norueguês Thor Heyerdahl secundado por cinco marinheiros arvorados.
A descrição do quotidiano a bordo falava de peixes voadores que de sua livre e espontânea vontade saltavam para cima dos troncos de balsa, acabando no tacho da deliciosa caldeirada. Bebiam gotas de chuva e refrescavam-se mergulhando livremente nas águas tépidas do oceano com as cores do caleidoscópio, na companhia amigável dos golfinhos. O brilho das estrelas balizava-lhes o rumo em noites de calma, e dos dias tormentosos eu conseguia ouvir o ribombar do trovão e o silvo do vento. O meu deslumbramento foi tal que ainda hoje tenho o “filme” gravado minha memória. Esta leitura foi o clic que despertou em mim o viajante / aventureiro que existe dentro de cada homem. Dizem os especialistas que o pico desta pulsão se situa entre os 15 e os 45 anos. Onde é que eles já vão, e no entanto, a pica não esmoreceu!
Todos e cada um dos anos seguintes da minha vida se subordinaram à utopia de conhecer o mundo. Tanto quanto aquele que cabe nos sonhos.
E aqui estou, semi-novo, semi-tonto e completamente apanhado pela febre da vadiagem como aos 15 anos.
Fiel ao lema “viajar é bom, em boa companhia ainda é melhor”, conto com a hipotética visibilidade do Blog para encontrar os parceiros certos, entre aqueles que sabem que viajar é trabalho e trabalho duro e nada tem a ver com “fazer turismo”.
Juan
sábado, 8 de agosto de 2009
3 - O Raúl Solnado, kinou.
Ainda se eu pudesse contar com a ajuda do nosso Carlitos !?
Pois, Carlos Vinhal, Santos Oliveira, Joaquim Mexia Alves, deixem-me encostar o meu ao vosso peito. E dizer-vos que quero mais. Quero publicar textos e fotografias sobre as vossas experiências de viagens, planos ou simples sugestões para passeios, encontros, actividades, como agora se diz. Quero sonhar que hei-de navegar no Ganges ou voltar a descer o Amazonas, partir à desbunda levando às costas a mochila, nos olhos o horizonte e a vós como companhia.
Instantes:
« Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Bem mais tolo ainda do que tenho sido. Na verdade bem poucas coisas levaria a sério.... Seria menos higiénico..... Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.... Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e comeria menos lentilha. Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida; claro que tive momentos de alegria... Mas se eu pudesse voltar a viver trataria de ter somente bons momentos. Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.... Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termómetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se eu voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças...... se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas vejam, já tenho 85 anos, estou cego e sei que vou morrer...
Jorge Luiz Borges »
Não posso contudo deixar de fazer uma referência à notícia do dia: O falecimento do Raúl Solnado. Fiquei triste, mais por mim do que por do que por ele. Não porque fosse um especial apreciador do tipo de humor que praticava, bem ao gosto do portuga, que desancava com mestria através das suas personagens. Mais do que qualquer outra figura, o Raúl Solnado foi um ícone da minha geração que acompanhou praticamente até ao fim. Com a sua morte, não ficamos só mais pobres, ficamos também mais conscientes de que se aproxima o momento de sabermos o que é que se passa do lado de lá. Já agora , podióó ... chamá-lo? Com esta fala e o título, pretendo deixar um sinal do quanto eu respeito a sua memória.
Juan
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
2 - Está a vestir-se ...
Juan
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
1 - Estado de necessidade.
Foi devido a um inequívoco estado de necessidade que entrei no mundo dos Blogs, carregando o título com palavras-chave, utilizando algumas que não fazem parte do meu léxico habitual como kurt, curtir, que acho até um pouco bicholas, (como ouvi dizer há dias a um humorista na TV). A questão é a seguinte: Se é verdade que existem milhares de milhões de Blogs, activos serão muito menos. Depois de uma volta prospectiva pela Net, cheguei à conclusão de que uma boa parte deles estão à míngua, há muitas chuvas abandonados pelos progenitores, definhando sem terem conhecido a alegria de meia dúzia de visitas. Na minha perspectiva, um Blog não pode ser uma espécie de diário pessoal. Deve ser interactivo, pedagógico, já que todos temos qualquer coisa para aprender e ensinar, gerador de polémicas, prazeiroso, tanto para o seu autor como para os visitantes, etç. O que pretendo dizer é que deverá ter algum objectivo socialmente relevante. A não ser assim acho que nem merece existir! O Kurt tem um objectivo não dissimulado: Congregar aquelas pessoas que apreciam o tema (e a prática!) das viagens, ou de uma simples almoçarada entre amigos, de preferência com uma suecada a rematar. E tanto faz que se trate cotas como eu, como de jovens que por um qualquer acaso caíram na armadilha do Kurt e curtir. Capisce?
P.S. - começo a ficar preocupado porque este néo-nato já tem mais de 24 horas e ainda não consegui visualizá-lo no Google. Terei cometido alguma argolada?
Tenham uma boa tarde.
Juan
domingo, 2 de agosto de 2009
0 - Proclamação à Cidade e ao Mundo!
estimados seguidores ocasionais:
Invocando o laço de paternidade que a autoria deste Blog me confere, declaro que acabei de assinar a certidão de nascimento do "Kurt" que ocorreu hoje, dia dois de Agosto de 2009, pelas 17 horas e nove minutos. Prometo acompanhá-lo e cuidar dele com desvelo, contando com as sugestões dos tios (vós todos!), para que cresça escorreito, tanto no conteúdo como nos aspectos técnico e gráfico.
E agora vou descansar um pouco, já que este foi um parto complicado. Há sempre uma primeira vez!
Abraços.
Juan