domingo, 3 de abril de 2016

145 - Tailândia: O Triângulo Dourado.


O Triângulo Dourado

Principal objectivo da nossa visita ao norte da Tailândia, o Triângulo Dourado merece uma abordagem um pouco mais elaborada dada a importância que assumiu até há poucos anos (Séc XXI) como maior produtor mundial de ópio, troféu actualmente na posse do Afeganistão. É uma região com cerca de 950.000 km2, quase dez vezes a superfície de Portugal continental, situada na confluência de dois grandes rios (Ruak e Mekong), abrangendo território (montanhoso) de 4 países: Myanmar, Vietname, Laos e Tailândia. Na parte tailandesa, situa-se no extremo norte do país a cerca de uma hora de distância da capital provincial, Chang Rai. Até há poucos anos (Séc. XXI), era considerada terra sem lei, dominada pelos senhores da guerra com seus exércitos privados, traficantes, mafiosos sem alma e aventureiros de todo o mundo. A sua áurea cresceu e preencheu o imaginário de gerações alimentado pelo cinema de acção. Do ponto de vista da geografia humana, o Triângulo Dourado tem sido desde há séculos refúgio para povos oriundos da China, Tibete e Birmânia e seus descendentes, que assim escaparam a perseguições, genocídio ou ditaduras brutais. São comunidades transfronteiriças que aqui encontraram algum sossego e um modo de vida baseado na cultura da papoila do ópio. Não se misturam, mantêm as respectivas identidades linguísticas e culturais assim como as ricas e diversificadas tradições das suas origens. Em anos recentes, trocaram o ouro do ópio pelo dos turistas e, deste modo, o seu pão nosso de cada dia está hoje muito dependente dos proventos que aí deixam as multidões de visitantes, nacionais e estrangeiros. Além disso, onde antes havia campos de papoilas, existem hoje boas pastagens onde criam gado. Com a ajuda de fundos da fortuna pessoal do próprio rei (dizem!), mais um empurrão vindo da União Europeia, reflorestaram grandes áreas onde hoje crescem árvores cuja madeira possui elevado valor comercial e excelentes pomares de fruteiras. São conhecidos na linguagem turística internacional por “Tribos das Montanhas” das quais visitámos algumas comunidades. 

Na localidade de Chang Saen, onde os rios Ruak e Mekong confluem, existe um velho museu dedicado ao tema do ópio. Foi este que visitámos, embora exista outro, ultra moderno, que recorre aos mais avançados meios multimédia. Fica situado cerca de 10 quilómetros a norte de Chag Saen e é uma iniciativa da Fundação Mae Fah Luang.


 Entrada para o museu.



 Representação fotográfica de elementos das diversas etnias que povoam o Triângulo Dourado.

Cultivo extensivo da papoila do ópio. Fotografia de cartaz existente no museu.

 Representação de um campo de papoilas com flores artificiais (museu).

Aqui está o Jaime, empolgado, dando explicações acerca do que foi a vida e obra de Khun Sah, a  personagem que vemos retratada no quadro (museu).*

Marcas da heroína consoante a origem da sua produção.

Estátua em cera de algum conhecido traficante que acabou atrás das grades.

Khun Sa, foto real (Wiki).

*Quem foi este homem, Chang Chi-fu, conhecido pelo nome de guerra de Khun Sah? Sabemos que faleceu em Rangoon capital da Birmânia de causa desconhecida a 26 de Outubro de 2007 aos 73 anos de idade. Na memória de uns, ficará para sempre como o herói, lutador pela liberdade de um povo. Os livros oficiais recordá-lo-ão no entanto como o “Rei do Ópio”, o pior dos bandidos, procurado pelas autoridades do mundo inteiro. Foi traficante, polícia e guerrilheiro. Rico e poderoso, comandou um exército bem armado e municiado pelos governos legítimos da Tailândia e da Birmânia que se serviram da sua força militar para combater rebeldes e opositores aos respectivos regimes! Escapou a emboscadas, ciladas da CIA, conspirações. Uma vida que não caberia num filme mas é evocada no seu próprio museu em Thoed Thai, onde colhe a reverência da população local e de muitos visitantes. Quanto aos seus antigos soldados, dedicam-se hoje à pacífica tarefa da colheita de folhas de chá!

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