Chegámos a Agra a meio da tarde de 17 de Abril depois de mais uma viagem épica. Não pela distância, pouco superior a 200 Km, mas pela lentidão do tráfego perfeitamente caótico (para nós ocidentais), que aqui na Índia se arrasta a passo de caracol através de inimagináveis “autoestradas”. São os veículos em contramão, as bermas esburacadas e poeirentas transformadas em faixas de rodagem, as incompreensíveis portagens, os muitos troços em reparação que obrigam a que numa única via se concentrem 5 ou mais filas de automóveis, camiões, tractores e tudo o que tenha rodas, viajando em sentidos opostos … Incredible Índia!
Alguns motivos para fotografia que fomos encontrando ao longo do trajecto:
Posto de abastecimento de combustível.
Os omnipresentes ceirões para transporte da casca do cereal.
Oficinas especializadas na reparação de tuck-tuck's.
O tráfego habitual nas estradas indianas.
Dentro da viatura ... muitos! Empoleirados no pára-choques ... outros tantos!
Dizem que o subsolo é rico em água. Deve ser assim a julgar pelo numero imenso de aerobombas que avistámos.
Entrada para um restaurante de beira de strada "especializado" em camones, gringos e pessoal de outras origens.
O nosso hotel em Agra.
Tudo isto sob um sol abrasador num país onde, curiosamente, não se vê ninguém de “sombrero” ou simples boné a proteger a cabeça. Excepto os Siks que transportam metros de tecido sob a forma de turbante para marcar a diferença (superioridade) da casta e esconder um toutiço de cabelo enrolado logo acima da testa. Também vi alguns muçulmanos usando o característico barrete branco. Verdade seja dita, as cabeleiras deste povo são fartas e lustrosas, não sendo invulgar ver um cavalheiro sacar do seu pente para ajeitar a trunfa de que certamente se orgulha. As calvícies são raras, facto que pode ter explicação na genética ou mais prosaicamente porque esta população é muito jovem. Na rua quase não avistamos pessoas no escalão médio da vida, tendo esta uma esperança à nascença muito mais baixa do que nos países do primeiro mundo. Ao ser interrogado quanto à minha idade - 64 primaveras -, notei algum espanto na cara dos meus interlocutores que esperariam ver um velhote meio alquebrado à semelhança dos seus concidadãos. Permitam-me o conselho: Aqueles que se insurgem facilmente quanto às deficiências do nosso SNS ou protestam contra as taxas moderadoras, que vociferam pelo atraso nas consultas ou pela forma menos cortez do atendimento … venham cá! Garanto que uma viagem a este país, ou melhor ainda, através deste país, lhes fará um enorme bem à cabeça. A começar pela dissipação dos medos mais ou menos latentes que todos temos quanto à velhice, doença e morte, evolução da crise, situação financeira futura etç. Por apenas esse momento de reflexão, a viagem terá valido a pena.
Voltando ao tema: Em Agra ficámos alojados num 4 estrelas, o Royal Residence. Aqui começaram os meus problemas com a Internet só disponível no lobby e, por acaso ou talvez não, sob o escrutínio de várias câmaras bem visíveis no teto. E como acedi a determinados sites, o meu computador entrou em quarentena e não tive mais Net até ao final da viagem! Deste assunto e de outros correlativos haverei de falar noutro post.
Agra é uma cidade pequena, diz Sanjay, o nosso motorista. Nela vivem “apenas” dois milhões de seres humanos, mais os cães, pombos, ratazanas, corvos e macacos que a população alimenta devotamente. Alimentar estes bichos é, na crença dos hindus, uma forma de agradar aos seus Deuses e atrair boa sorte. Vi homens cuspindo sangue e saliva, com apenas a pele a cobrir os ossos, retirando forças não se sabe de onde para transportar vários passageiros às vezes famílias inteiras, em rikshaws puxados a pedal. Mas não vi um único cão que não estivesse gordo! Dormem em matilha o dia todo sob as melhores sombras sem que ninguém ouse incomodá-los. Neste como em muitos ouros aspectos esta cidade é um caso de “dejá vu”, não se distinguindo das outras que já visitámos. Comércio e turismo vibrantes na zona dos hotéis e das principais lojas, algumas avenidas largas no centro onde o trânsito flui, mas muito longe da “nossa” normalidade e, a pequena distância, a mesma arquitectura colonial decrépita ou mesmo em ruína, os omnipresentes indícios das deploráveis condições de vida da sua população. Que distância entre o que observámos e as belas frases e fotos dos cartazes turísticos! Mas afinal, porque é que aqui afluem turistas às “manadas”? Porque é nesta cidade que se situa o mais famoso dos monumentos da Índia, o Taj Mahal. Um “produto” que continua a vender bem, e de que maneira, como pudemos constatar. Provavelmente porque para além da sua indiscutível magnificência, a ele está associada uma história romântica capaz de fazer chorar as pedras! Não vou contá-la porque está muito bem descrita na Wikipédia – leitura obrigatória. Património da Humanidade (Unesco) e uma das sete maravilhas do mundo (Lisboa), o Taj Mahal … impressiona! Apenas um curto comentário: O Shah, ou era podre de rico e não sabia o que fazer ao dinheiro, ou a paixão lhe toldava as ideias, ou ambas, para gastar uma tal pipa de massa com uma mulher, ainda por cima, depois de morta. O segundo motivo de interesse nesta cidade, situado à vista do Taj Mahal (2,5 Km), é o seu Forte ou Forte Vermelho de Agra, assim chamado devido à cor do tijolo com que o edifício original foi construído e que mantém. Imponente exemplo da arquitectura militar de outrora, dele se ouve falar desde 1080 da nossa era. Era mais propriamente uma cidade fortificada (380.000 m2) e aqui viveram, morreram ou foram executados, Imperadores, Shahs e Moghals. Objecto de vários actos de conquista e reconquista, passou igualmente por fases de destruição e reconstrução até chegar à forma actual. Gostei muito de ter tido a oportunidade de o visitar.
Em Agra existe um grande parque de estacionamento para as viaturas dos visitantes do Taj Mahal. Daí até á entrada do monumento, o percurso é feito nestes simpáticos e agradáveis carros eléctricos.
A "portaria" do Taj Mahal.
Grandes espaços ajardinados e estruturas de apoio rodeiam o monumento.
Uma das duas mesquitas que ladeiam o Taj.
Os meus companheiros de viagem. Perdidos na multidão ... !
O Taj Mahal em todo o seu esplendor.
Luís, o "Pensador".
De frente e de ... costas!
Luís no átrio de onde se acede ao Taj.
Novas tecnologias: Um puxa e o outro empurra!
Pormenor de um mosaico interior do mausoléu.
Depois da visita ao Taj, esta é a alameda de saída.
Segundo comentário, bem rapidinho: Quando os europeus empilhavam pedras e lhes davam a forma de castelos, já este povo construía fortes e cidades fortificadas como as que visitámos (Jodhpur, Agra). No tempo em que os europeus construíam igrejas e catedrais, os indianos erigiam o Taj Mahal e outros edifícios de índole religiosa, igualmente impressionantes. Eu, que sei pouco de História, pergunto: O que (quem) eram os gentios? Quem, por nosso intermédio, recebeu a luz da civilização ou a esperança da fé, (quantas vezes à espadeirada)? Claro que não ignoro o contexto!
No Forte de Agra, o mais importante da Índia.
Forte de Agra.
Os Claustros onde o marajá recebia e falava às massas.
No interor do Forte.
Belos espaços relvados e ajardinados rodeiam os principais edifícios no interior do Forte de Agra.
Voltarei.