quinta-feira, 26 de abril de 2012

90 – Varanasi: Cancelled!

Tanto quanto sei, Varanasi é uma cidade situada na margem do rio Ganges (Ganga), seiscentos e tal Km a sueste de Delhi. É um destino turístico procurado por muitos estrangeiros mas é sobretudo um local de peregrinação para milhões de indianos. Acreditam que banharem-se nas águas do Ganges lhes faz bem ao corpo e devolve a pureza à alma. Aqueles para quem o fim está próximo, veem ou são trazidos a Varanasi para aqui falecerem na crença de que assim estarão no bom caminho para a salvação e a vida eterna. A cidade transforma-se diariamente numa espécie de palco onde vida e morte desempenham os seus papéis em íntima ligação com o público assistente. Neste imenso necrotério, os remediados ou ricos são cremados em piras funerárias à medida das suas posses e as cinzas lançadas ao rio. Enquanto isso, os familiares dos mais humildes, não dispondo de meios para comprar a lenha para a fogueirita (mais ou menos 50 euros), despedem-se dos seus entes queridos deixando-os flutuar livremente na corrente de vida que é o Ganges. Leva o seu tempo, mas a Natureza fará o resto até que de cada corpo não restem mais do que as imutáveis partículas que constituem este Universo a que todos pertencemos. Este espectáculo macabro onde se vêm corpos semidevorados pelos bichos deslizando à tona de água é muito apreciado pelos turistas que a ele assistem ao nascer e pôr do Sol em passeios de barco alugado para o efeito. Não se perca de vista que a morte também é um negócio! Pois foi tudo isto que li e que me contaram, mais a descrição das áreas adjacentes ao local dos rituais onde a crónica falta de higiene pública pode ser chocante, que me fizeram cancelar o “projecto” Varanasi. No entanto, os meus arrojados companheiros de viagem cumpriram o roteiro até ao fim. No dia 21/04 fui despedir-me deles à plataforma nº 15 da New Delhi Railway Stn., aqui à porta do hotel onde me encontro alojado. Embarcaram pelas 20h10 numa viagem de mais ou menos 11 horas até uma pequena cidade próxima de Varanasi, sendo que o restante trajecto terá sido feito de táxi, suponho. Espero que tenham aproveitado a noite para descansar já que viajaram numa cabine “sleeper” de quatro lugares, óbviamente sem a qualidade dos comboios europeus mas ainda assim, de um nível muito acima do standard. Pernoitaram (duas noites) próximo do “local dos acontecimentos” daí tendo regressado por via aérea ao aeroporto internacional de Delhi de onde a Lufthansa os trouxe de volta à Europa. Quanto a mim, fico ansioso por encontrar-me com eles e saber dos detalhes. Entretanto, aproveito para descansar enquanto vou teclando estas prosas. Contrariando uma certa impressão inicial, comecei a gostar desta cidade que é uma das maiores capitais do mundo e que vou conhecendo cada dia melhor. Por mais uma semana apenas!
Juan_jovi@sapo.pt

segunda-feira, 23 de abril de 2012

89 - Agra.

Chegámos a Agra a meio da tarde de 17 de Abril depois de mais uma viagem épica. Não pela distância, pouco superior a 200 Km, mas pela lentidão do tráfego perfeitamente caótico (para nós ocidentais), que aqui na Índia se arrasta a passo de caracol através de inimagináveis “autoestradas”. São os veículos em contramão, as bermas esburacadas e poeirentas transformadas em faixas de rodagem, as incompreensíveis portagens, os muitos troços em reparação que obrigam a que numa única via se concentrem 5 ou mais filas de automóveis, camiões, tractores e tudo o que tenha rodas, viajando em sentidos opostos … Incredible Índia!
Alguns motivos para fotografia que fomos encontrando ao longo do trajecto:
Posto de abastecimento de combustível.
Os omnipresentes ceirões para transporte da casca do cereal.
Oficinas especializadas na reparação de tuck-tuck's.

O tráfego habitual nas estradas indianas.

Dentro da viatura ... muitos! Empoleirados no pára-choques ... outros tantos!
Dizem que o subsolo é rico em água. Deve ser assim a julgar pelo numero imenso de aerobombas que avistámos.

Entrada para um restaurante de beira de strada "especializado" em camones, gringos e pessoal de outras origens.

O nosso hotel em Agra.
Tudo isto sob um sol abrasador num país onde, curiosamente, não se vê ninguém de “sombrero” ou simples boné a proteger a cabeça. Excepto os Siks que transportam metros de tecido sob a forma de turbante para marcar a diferença (superioridade) da casta e esconder um toutiço de cabelo enrolado logo acima da testa. Também vi alguns muçulmanos usando o característico barrete branco. Verdade seja dita, as cabeleiras deste povo são fartas e lustrosas, não sendo invulgar ver um cavalheiro sacar do seu pente para ajeitar a trunfa de que certamente se orgulha. As calvícies são raras, facto que pode ter explicação na genética ou mais prosaicamente porque esta população é muito jovem. Na rua quase não avistamos pessoas no escalão médio da vida, tendo esta uma esperança à nascença muito mais baixa do que nos países do primeiro mundo. Ao ser interrogado quanto à minha idade - 64 primaveras -, notei algum espanto na cara dos meus interlocutores que esperariam ver um velhote meio alquebrado à semelhança dos seus concidadãos. Permitam-me o conselho: Aqueles que se insurgem facilmente quanto às deficiências do nosso SNS ou protestam contra as taxas moderadoras, que vociferam pelo atraso nas consultas ou pela forma menos cortez do atendimento … venham cá! Garanto que uma viagem a este país, ou melhor ainda, através deste país, lhes fará um enorme bem à cabeça. A começar pela dissipação dos medos mais ou menos latentes que todos temos quanto à velhice, doença e morte, evolução da crise, situação financeira futura etç. Por apenas esse momento de reflexão, a viagem terá valido a pena.
Voltando ao tema: Em Agra ficámos alojados num 4 estrelas, o Royal Residence. Aqui começaram os meus problemas com a Internet só disponível no lobby e, por acaso ou talvez não, sob o escrutínio de várias câmaras bem visíveis no teto. E como acedi a determinados sites, o meu computador entrou em quarentena e não tive mais Net até ao final da viagem! Deste assunto e de outros correlativos haverei de falar noutro post.
Agra é uma cidade pequena, diz Sanjay, o nosso motorista. Nela vivem “apenas” dois milhões de seres humanos, mais os cães, pombos, ratazanas, corvos e macacos que a população alimenta devotamente. Alimentar estes bichos é, na crença dos hindus, uma forma de agradar aos seus Deuses e atrair boa sorte. Vi homens cuspindo sangue e saliva, com apenas a pele a cobrir os ossos, retirando forças não se sabe de onde para transportar vários passageiros às vezes famílias inteiras, em rikshaws puxados a pedal. Mas não vi um único cão que não estivesse gordo! Dormem em matilha o dia todo sob as melhores sombras sem que ninguém ouse incomodá-los. Neste como em muitos ouros aspectos esta cidade é um caso de “dejá vu”, não se distinguindo das outras que já visitámos. Comércio e turismo vibrantes na zona dos hotéis e das principais lojas, algumas avenidas largas no centro onde o trânsito flui, mas muito longe da “nossa” normalidade e, a pequena distância, a mesma arquitectura colonial decrépita ou mesmo em ruína, os omnipresentes indícios das deploráveis condições de vida da sua população. Que distância entre o que observámos e as belas frases e fotos dos cartazes turísticos! Mas afinal, porque é que aqui afluem turistas às “manadas”? Porque é nesta cidade que se situa o mais famoso dos monumentos da Índia, o Taj Mahal. Um “produto” que continua a vender bem, e de que maneira, como pudemos constatar. Provavelmente porque para além da sua indiscutível magnificência, a ele está associada uma história romântica capaz de fazer chorar as pedras! Não vou contá-la porque está muito bem descrita na Wikipédia – leitura obrigatória. Património da Humanidade (Unesco) e uma das sete maravilhas do mundo (Lisboa), o Taj Mahal … impressiona! Apenas um curto comentário: O Shah, ou era podre de rico e não sabia o que fazer ao dinheiro, ou a paixão lhe toldava as ideias, ou ambas, para gastar uma tal pipa de massa com uma mulher, ainda por cima, depois de morta. O segundo motivo de interesse nesta cidade, situado à vista do Taj Mahal (2,5 Km), é o seu Forte ou Forte Vermelho de Agra, assim chamado devido à cor do tijolo com que o edifício original foi construído e que mantém. Imponente exemplo da arquitectura militar de outrora, dele se ouve falar desde 1080 da nossa era. Era mais propriamente uma cidade fortificada (380.000 m2) e aqui viveram, morreram ou foram executados, Imperadores, Shahs e Moghals. Objecto de vários actos de conquista e reconquista, passou igualmente por fases de destruição e reconstrução até chegar à forma actual. Gostei muito de ter tido a oportunidade de o visitar.
Em Agra existe um grande parque de estacionamento para as viaturas dos visitantes do Taj Mahal. Daí até á entrada do monumento, o percurso é feito nestes simpáticos e agradáveis carros eléctricos.

A "portaria" do Taj Mahal.
Grandes espaços ajardinados e estruturas de apoio rodeiam o monumento.

Uma das duas mesquitas que ladeiam o Taj.

Os meus companheiros de viagem. Perdidos na multidão ... !
O Taj Mahal em todo o seu esplendor.
Luís, o "Pensador".


De frente e de  ... costas!

Luís no átrio de onde se acede ao Taj.
Novas tecnologias: Um puxa e o outro empurra!
Pormenor de um mosaico interior do mausoléu.
Depois da  visita ao Taj, esta é a alameda de saída.

Segundo comentário, bem rapidinho: Quando os europeus empilhavam pedras e lhes davam a forma de castelos, já este povo construía fortes e cidades fortificadas como as que visitámos (Jodhpur, Agra). No tempo em que os europeus construíam igrejas e catedrais, os indianos erigiam o Taj Mahal e outros edifícios de índole religiosa, igualmente impressionantes. Eu, que sei pouco de História, pergunto: O que (quem) eram os gentios? Quem, por nosso intermédio, recebeu a luz da civilização ou a esperança da fé, (quantas vezes à espadeirada)? Claro que não ignoro o contexto!
No Forte de Agra, o mais importante da Índia.

Forte de Agra.
Os Claustros onde o marajá recebia e falava às massas.
No interor do Forte.

Belos espaços relvados e ajardinados rodeiam os principais edifícios no interior do Forte de Agra.
Voltarei.

sábado, 21 de abril de 2012

88 - Em Panne!

Caros amigos e visitantes,
Estou com as calças na mão! E se o problema não e do c* é porque é mesmo das calcas! O meu computador liga à rede mas nao acede a internet. Diz que o DNS nao responde. Até ja mudei de hotel na esperança de que o problema se resolvesse, mas ficou tudo na mesma. Utilizei a pesquisa e resolução automática de problemas do windows, reconfigurei placas, verifiquei o adaptador de conectividade etc. e ... nada! Alguém sabe como e que isto se resolve? Quem souber deixe um comentário neste post p.f.
Como e óbvio estou a utilizar um computador configurado para indianos, não tem acentos e é uma grande bosta. Obrigado pela vossa paciência.
Editado em 16/05/012.

terça-feira, 17 de abril de 2012

87 - Ranthambhore.


Atenção: Esta fotografia é falsa! O Luís Ferreira, nosso repórter fotográfico, saltou da cama às cinco e trinta da manhã com o objectivo de ir para a selva fotografar tigres comedores de homens. Não lhes viu nem as pegadas. Não querendo deixar créditos por mãos alheias, admitindo o desaire, fez uma foto de um quadro existente no restaurante do hotel. E com essa habilidade,enfiou o barrete, ainda que apenas por momentos, a uma série de papalvos, eu entre eles!
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Ranthambhore é pouco mais do que um ponto no mapa. A sua importância está ligada ao facto de ser porta de entrada para um parque nacional onde se encontra uma importante reserva animal, sendo os tigres de Bengala o ex-libris do parque. Chegámos hoje pela hora de almoço. O hotel onde nos encontramos alojados é um "resort", uma espécie de “lodge” procurado pelos muitos turistas que diariamente demandam o parque para um safari fotográfico.
O nosso hotel em Ranthamhhore.
 Na falta de praia - a mais próxima ficava a mais de 1000 Km - as piscinas eram uma boa forma de "quebrar o galho".

Nestas grandes alcofas que encontrámos por todo o estado, é transportada a pragana do trigo que entre outras possíveis utilizações, serve para alimentar os fornos onde é cozido o tijolo de barro vermelho usado na construção.

Camelo também puxa carroça!
Confraternizando com um "cameleiro".
A jornada, contando com 200 Km demorou as previsíveis quatro horas (média de 50 Km/hora), através de estradas ora nacionais ora rurais, de terra batida, orladas por charcas que se formaram com as águas da chuva que caiu durante a noite. A paisagem, essa sim, mudou e muito, relativamente àquela que descrevi em posts anteriores. Nos primeiros 100 Km viajámos através de um vale estreito onde a provável abundância de água fez dele um oásis onde culturas verdejantes de hortícolas, fruteiras e restolhos de cereais denunciam uma agricultura próspera e porventura condições de vida mais desafogadas das suas populações. Depois voltámos à extensa planície mais seca e árida. Mas não podemos esquecer que estamos nas barbas do deserto Thar.
Em Rantambhore parece que toda a gente vive de alguma forma das rupias que os turistas aqui deixam. E estes são aos mihares, apesar de a época baixa ter começado … hoje, 15 de Abril! Por todo o lado se vêm as barraquinhas dos agenciários que vendem os “tickets” para os safaris no parque. E estes fazem-se duas vezes ao dia, às seis da manhã quando os animais se tornam activos e às duas da tarde quando fazem o seu período de repouso sob um calor que continua (cada vez mais) abrasador. A reportagem fotográfica do safari que tenciono apresentar no Kurt – logo que tenha Internet capaz - será efectuada pelo companheiro de viagem Luís Ferreira, caso não se torne refeição de algum tigre esfomeado! Aguardemos.
Vegetação típica do parque, ressequida nesta altura do ano.

Animais do parque.

Organização, planeamento e contabilidade!

No parque: Manuel com a mulher, Mª da Luz

Passarinho valente e ... curioso!

O "bus" utilizado no safari.
juam_jovi@sapo.pt

sábado, 14 de abril de 2012

86 - Jaipur.

 
 
Forte de Amer (ou Amber), cidade situada cerca de 11 km a nordeste de Jaipur

Fachada do Hawa Mahal também conhecido como Palácio dos Ventos, em Jaipur.

Templo hindu, em Amer.

Restaurante de luxo no meio de um lago em Jaipur.

Jantar Mantar, um dos cinco observatórios astronómicos da India com este nome.

Avenida em Jaipur.
O nosso hotel em Jaipur.
O Luís ferreira com o nosso motorista Sanjay Kumar.
O Boss ... em Amer.
Vai um copo (de água)?
Elefantes em Amer.

Mãe e filho. Uma praga!

Sexta feira, 13 de Abril.
Deixámos esta manhã o nosso hotel (Heritage) na cidade de Jodhpur para uma viagem de sete horas e trezentos e sessenta e cinco quilómetros. Depois de uma tarde e noite abafadas com tempo soturno, relâmpagos e alguns pingos de chuva grossa a ameaçar tempestade, o dia amanheceu com uma atmosfera cristalina e fresca. E uma vez na estrada, nada de particularmente relevante ocorreu para além dos dois primeiros acidentes de viação que observámos, resultado do embate entre pesados tendo estes ficado em muito mau estado. Chegámos a Jaipur perto das quatro da tarde e mais uma vez fomos presenteados com alguns trovões e um tímido aguaceiro que teve o efeito de trazer de volta ao solo uma nuvem de pó que pairava sobre a cidade. O tempo refrescou muito e o ar tornou-se mais respirável.
Jaipur, capital do Rajastan, quer ser uma cidade moderna! Assim o provam algumas das infraestruturas em construção de que são exemplo as obras de uma nova linha de metro suportada por pilares que cortam a cidade no sentido leste-oeste. Mas o antigo está lá, no imenso património urbano bastante dele construído no período da ocupação colonial e no modo de vida de muitos do seus habitantes, desde sempre exímios na arte do comércio. Encontrámos avenidas largas muito movimentadas com centenas de lojas de um e outro lado da via onde todas as grandes marcas, da joalharia aos telemóveis, das roupas caras aos automóveis de luxo, se encontram representadas.
Jaipur é também chamada a cidade cor de rosa. Em mil oitocentos e tal, um príncipe Inglês visitou a urbe e os seus habitantes acharam que seria uma manifestação de elevada cortesia recebê-lo numa cidade toda pintada com aquela cor. A moda pegou e ainda hoje se vêm muitos edifícios pintalgados a ocre. Do ponto de vista monumental, a cidade é rica e tem muito para visitar: O forte Amer ao qual se pode aceder através de uma rampa íngreme montado num palanquim sobre o dorso de um elefante (mas também de automóvel), o Palácio-Museu da cidade, o Observatório Astronómico de Jantar-Mantar e muitos outros.
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Hoje, 14 de Abril, concluímos a nossa visita à capital do Rajastan. Amanhã cedo partiremos para Rantambhore, sede de um parque nacional onde se encontra a maior reserva de tigres da Índia. De lá, voltarei ao contacto.