sexta-feira, 9 de outubro de 2009

37 - Hospitalidade

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Mapa: Retirado da Net.

Sion, Nôtre Dame. Foto: mardecortesbaja.com

O amigo e regular visitante Santos Oliveira, enviou-me um pps com belas imagens de um lindíssimo país, a Suiça.
Algumas evocavam memórias pessoais de anteriores visitas e serviram de pretexto para a narrativa que se segue.

De uma maneira geral, quando lemos qualquer coisa sobre outros países e culturas, lá vem a sacrossanta frase garantindo que se trata de “um povo muito hospitaleiro”. Afirmação ilustrada com relatos que demonstram essa hospitalidade como oferta de presentes que chega a ser a própria mulher (??) ou artigos simbólicos como colares, grinaldas de flores ou peças de artesanato. E festas, muitas festas em honra dos forasteiros com representações de pseudo rituais de cariz religioso ou profano e muito folclore à mistura.
Creio que em muitos casos estas manifestações de hospitalidade podem ser genuínas. Porém, em muitos outros, atrevo-me a dizer, na maioria, não passam de bem montadas operações de marketing ou simples truques comerciais destinados a cativar o visitante, sacar-lhe uma porção dos seus euros ou dólares e transformá-lo num promotor gracioso de determinado paraíso turístico.
Infelizmente, não existe nenhum aparelho ou unidade de medida que nos permita aferir da hospitalidade de um povo ou comunidade.
Empiricamente falando, o caso muda de figura quando presenciamos gestos que pelo seu desinteresse e espontaneidade, nos fazem sentir credores de uma amizade inesperada.
A avaliar por aquilo que julgo ser consensual tanto para os indígenas como para os estrangeiros, o portuga é um indivíduo genuinamente hospitaleiro. Talvez porque desde há séculos nos habituámos a correr o mundo com a da mãe às costas, prezamos tanto o mandamento de ouro que diz: Faz aos outros aquilo que gostarias que te fizessem.
Há uns três para quatro anos, numa belíssima tarde ensolarada de primavera, encontrava-me em Génova a caminho da Sicília, quando a coisa bateu forte. Tinha que visitar um grande amigo e camarada de armas, o José Manuel Quintas que vivia e vive um pouco mais acima, na localidade de Conthey, perto de Sion na Suiça, onde é proprietário de um distintíssimo restaurante. Quando a pancada bate assim, não há nada a fazer senão seguir o impulso e … pés ao caminho. Cheguei a Turim ainda com sol e tempo para dar uma volta à cidade e pernoitar. Na manhã seguinte, retomei o rumo direito ao colo do Grande S. Bernardo cujo túnel atravessei acabando por desembocar perto da localidade de Martigny, onde se desenrolou a curtíssima história que passo a contar.
Eram cerca das onze da manhã de uma quinta-feira de Ascensão, dia da espiga em Portugal. Desconheço os antecedentes históricos, sei apenas que os suíços comemoravam aquela data com um feriado nacional. Pois bem, o meu primeiro objectivo ao chegar a Martigny foi contactar o Quintas para reservar mesa! Dirigi-me a um caixa automático onde levantei uma porrada de francos e com as notas no bolso, procurei a estação de correios para fazer o telefonema já que o meu Tm não tinha rede. Como era feriado, bati com o nariz na porta, os correios estavam encerrados. Pensei em adquirir o cartão pré pago, mas quiosques ou papelarias, estavam igualmente fechados. Como último recurso, entrei num bar, bem afreguesado àquela hora, e esperei que a proprietária me pudesse dar uns segundos de atenção. Expliquei-lhe no meu francês domingueiro por que precisava de fazer a chamada (local), que estava disposto a pagar o que quisesse cobrar-me e para que não tivesse dúvidas, mostrei-lhe o macete dos francos. A resposta foi do mais seco, deselegante, direi mesmo xenofóbico, que se possa imaginar: Nãão!
A senhora poderia estar num daqueles dias, pensei eu. Saí sorumbático, mas logo encontrei um estabelecimento idêntico que se encontrava a uns cinquenta metros, rua abaixo. A cena foi em tudo parecida, só a resposta foi a mesma: Nãão!
Eu nem queria acreditar no que me estava a acontecer. Para mais, num país que se julga dos mais civilizados do mundo! Então nós, portugas da costa, se topamos um gringo qualquer em apuros somos capazes de lhe oferecer o telefone, a casa, o almoço e até o ajudamos a empurrar o carro se for preciso … algo devia estar errado! Para tirar as dúvidas, parei numas bombas à saída da Vila. Depois de abastecer (self), perguntei ao empregado que se encontrava sentado num sofá com os pés em cima de uma mesa, se podia fazer a tal chamadita. Nem vos digo qual foi a resposta do bacano para não ferir os vossos sentimentos patrióticos!
De maneira que, um dos meus mais ardentes desejos é encontrar um cidadão suíço em dificuldades para o poder ajudar no que precise e depois contar-lhe esta história. Mostrar-lhe que não sou dado a generalizações, mas que há sem dúvida diferenças entre os uns e os outros.
Já agora …
Como se sabe, encontram-se milhares e milhares de portugueses e portuguesas a trabalhar na Suiça. Ao que parece, são estimados e gozam da consideração tanto do patronato como da vizinhança. Porque será que não há casamentos mistos como acontece na França, Alemanha, Luxemburgo …?
A terminar, esta viagem ficou concluída um mês e meio depois, após passar pelo norte da Escandinávia. Continuo a querer visitar a Sicília!

Juan

1 comentário:

  1. Juan e aos visitantes do Sítio
    Embora não tenha qualquer mandato Suisso (só possuo um Canivete e uns quantos chocolates), nem tenho familiares ou Amigos no País (que saiba), quase posso afirmar que os "negas" acerca da liberdade de ser feito um qualquer telefonema, tem a ver com uma recomendação (já muito antiga) da Polícia Helvética acerca da clonagem de telefones, através da inserção de um código que é também conhecido da nossa PJ. Mas isto não desculpa as atitudes que, igualmente, são frequentes com os demais "estranhos" que por lá passam e em situações diversas. Coisas de suissos...

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