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Imagem da Net.Para os ferrenhos das grandes expedições (terrestres), o continente euro-asiático oferece tantos destinos de sonho quantos se quiserem. Nem uma vida inteira chegaria para levar a cabo uma ínfima parte dos projectos de grandes viagens que aqui se poderiam conceber. Infelizmente, o viajante tem razões para se sentir ofendido na sua liberdade de movimentos e espoliado no seu direito à cultura e à confraternização com outros povos que desde há muito se habituou a considerar como amigos. Numa boa parte deste imenso território, é-lhe negado o acesso livre e seguro a locais considerados berço da civilização que partilhamos. Certos países do próximo oriente, vastas regiões do Irão, Iraque, Afeganistão, Paquistão e norte da Índia, são alguns destinos de todo desaconselháveis, onde até o viajante mais temerário se mete nas encolhas dado que, perder a vida, pode não ser o pior dos desfechos.
E porquê? Em poucas palavras, algumas causas:
- Gula das potências industriais do ocidente por matérias primas consideradas estratégicas, em que aquela região é rica.
- Delimitação de esferas de influência, de forma tão ou mais exacerbada do que durante o período da guerra fria, entre as forças hegemónico-imperialistas.
- Interferência nos assuntos internos dos países da região por parte de serviços especializados estrangeiros, tendo como objectivo dividir para reinar.
- Erros políticos do passado, cristalizados em acordos e tratados internacionais sem qualquer sustentação, para cuja solução nunca foi encontrada a necessária abertura política.
- Desconhecimento generalizado por parte dos ocidentais acerca dos perfis religioso e sócio-cultural dos povos que aí habitam, tornando-os presa fácil de políticos manipuladores e sem escrúpulos, acolitados por comunicadores sociais ignorantes crassos.
Como resultado, temos em curso um número obsceno de guerras abertas, larvares e potenciais.
Como se sabe, os mandantes ficam á distância e são sempre os mexilhões que se lixam. Depois do 11 de Setembro e em consequência do ímpeto revanchista dos ianques e seus aliados, os mortos e estropiados contam-se pelas centenas de milhar, entre vítimas inocentes e combatentes das diversas facções.
No caso do Iraque, a coligação dos vendidos fez a bulha e escaramunha. Agora, com o rabo entalado, meteu-se em copas e recolheu a quartéis. E a carnificina continua! Onde é que pára a tal promessa de ao menos deixarem um país livre, democrático e pacífico, desenvolvido à medida das suas riquezas? Foi pelo cano, naturalmente, como a maioria das promessas vindas daquele lado.
O Jornal de Negócios de ontem, publicou um texto de João Carlos Barradas em que o jornalista se interroga acerca do que fazer com a gigantesca fraude que retirou qualquer vestígio de credibilidade às recentes eleições no Afeganistão. Estas eleições, encomendadas e telecomandadas pelo ocidente, controladas por uma comissão presidida por um canadiano e da qual fazem parte um americano, um holandês e duas marionetas afegãs, uma das quais acabou por se despedir, deviam fazer reflectir o Mundo. Porque de uma vergonha se trata para o mundo inteiro e em particular para um circo chamado Nações Unidas.
Avizinha-se um Inverno dramático para as forças da Nato e associados, naquele teatro de operações. Os últimos meses foram os mais mortíferos nesta guerra que era para durar seis meses no máximo e já leva oito anos de combates assimétricos e cada vez mais ferozes. Os comandantes militares gritam desesperadamente por reforços, que as opiniões públicas estão cada vez mais relutantes em consentir. Os responsáveis políticos, jogam tudo por tudo, gritando ao seu povo que a segurança nas ruas de Londres se joga nos vales e montanhas do Afeganistão, como ainda ontem ouvi da boca de um cretino europeu. Um trampolineiro do outro lado do Atlântico usou a mesma retórica, mas esse, ainda há-de ir à barra do tribunal responder pela morte de milhares de rapazes e raparigas do seu país, sacrificados no altar da pulhice e da mentira. O processo está em andamento.
E nós portugueses, que papel nos cabe no seio desta chafurdice? O que mandam os nossos maiores? Em que estado fica a segurança nas ruas de Lisboa ao tornar-nos cúmplices, colaborando nestas bandalheiras?
Escreve o jornalista:
[Uma companhia de comandos partirá para o Afeganistão em 2010 para integrar a "Força de Reacção Rápida" do contingente internacional e os custos da participação portuguesa, iniciada em 2002 e centrada sobretudo no treino da polícia e exército afegãos, superarão os 80 milhões de euros no final deste ano].
E termina o João Carlos Barradas com a seguinte reflexão:
“Não serão só os 40 mil militares que Barack Obama possa vir a destacar como reforço do contingente dos Estados Unidos, como pede insistentemente o seu comandante no Afeganistão, o general Stanley McChrystal, que acabarão por se interrogar sobre o sentido da sua presença na Ásia Central. Também as tropas portuguesas dificilmente compreenderão o que se quer nesta guerra”.
Agora a(s) minha(s) pergunta(s):
Será que esta gentinha ainda não percebeu que está irremediavelmente derrotada? E que fugas para a frente como mandar mais tropas para o teatro de operações só servem para dilatar a extensão do desastre? E que os duros que pretendem fazer a vontade ao patrão, mantendo e reforçando até os seus contingentes no terreno, o fazem mais por cobardia do que por convicção?
Algum destes iluminados já pensou nas consequências a médio prazo de um fogo que todos os dias avança mais para além das fronteiras do Afeganistão e já chega ao Punjab e a vastas zonas no coração do Paquistão?
Dos noticiários de hoje da Net, retiro:
“The Times newspaper reported on Thursday that Italy's secret services paid the Taliban "tens of thousands of dollars" to keep the Sarobi area in Afghanistan safe for its troops, but did not tell Nato allies about the deal.It accused Italy of misleading the French, who took over control of the district in mid-2008, into believing the area was safe, leaving them unprepared for the attack in which the (10) soldiers died”.
Ou seja, segundo a notícia, os serviços secretos italianos compraram aos Taliban o sossego das tropas que guarneciam um posto avançado. Não avisaram os franceses que os substituíram o que teve como consequência a morte de dez soldados gauleses num único ataque.
Mas há mais e mais grave! Notícias da Al Jazeera:
Hoje também, a sede da secreta paquistanesa em Lahore ( porventura um dos locais mais bem guardados do país), foi assaltada por quatro guerrilheiros que abateram quatro funcionários. Na mesma cidade, um ataque a uma academia de polícia deixou seis oficiais mortos, havendo ainda a referir um ataque às “Pakistani Elite Force Headquarters in Bedian” e outro a uma esquadra de polícia.
E os ataques suicidas contra edifícios públicos, incluindo hospitais e escolas, mercados, autocarros, hotéis … ? Quando é que isto vai parar? O que podemos fazer junto dos nossos governantes para ajudar a pôr um ponto final nesta chacina?
E já agora, porque será que os nossos pivots, sempre tão pressurosos a noticiar as façanhas dos rambos, parecem menos interessados em dar o devido relevo ao maior flagelo dos nossos dias?
juan_jovi@sapo.pt
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