terça-feira, 20 de outubro de 2009

43 - Tramou-se!

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Foto retirada de: tribunadonorte.com

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Não saberia dizer exactamente onde ou quando, sei que foi um texto que encontrei na Net, haverão uns meses, que me deixou a pensar.
Dizia o seu autor que acreditar em Deus é uma espécie de pulsão, algo para que estamos geneticamente condicionados, como se no genoma humano existisse um código que nos empurra para os braços de Deus.
Sou um daqueles (raros) casos que vivenciaram situações que nenhuma teoria humana que eu conheça conseguiria explicar. Por outro lado, tive oportunidade de assistir aos últimos instantes de pessoas em condições dramáticas, e nesse contexto, posso testemunhar o seu profundo, derradeiro e irreprimível apelo a Deus. Também já encontrei agnósticos e ateus militantes que no momento da aflição renegam a militância e, como toda a gente, imploram o divino. De modo que, estou seriamente inclinado a admitir a existência de Deus, não o reconhecendo contudo nos deuses inventados pelo homem, vestindo por um figurino que algumas ilustres figuras de pensadores acham completamente fora de moda.
Entre elas, encontra-se o nosso Nobel, José Saramago. Na apresentação do livro Caim, o contumaz escritor até teve o culot de afirmar que a Bíblia era um manual de maus costumes de todo desaconselhável à educação de uma criança. Na sua opinião, se não tivesse existido nós seríamos eventualmente melhores pessoas. Nesse livro estamos nós todos, os humanos, retratados através daquilo que temos de pior, obedientes a um Deus pouco recomendável.
Ocorre-me aqui um livro da minha adolescência, o “Drama de João Barois” de Martin du Gard, em que um sujeito passa a vida toda a negar a existência de Deus para, no momento em que está a bater a bota … mandar chamar um padre, confessar-se, comungar e pedir-lhe a extrema unção!
Antecipando um hipotético final como o João de Barois, lá foi dizendo que não era contra Deus mas sim contra a ideia que dele fazemos, já que um Deus vingativo e caprichoso só poderia ser uma invencionice humana, concebido à nossa própria imagem e por isso, vítima potencial de parricídio.
Dizem alguns que não se deve misturar ciência com religião. Talvez não, mas a tentação é grande. Se do ponto de vista científico nada nem ninguém conseguiu até hoje provar ou excluir a existência de Deus, com a mesma segurança podemos afirmar que muitos dos dogmas em que assentam as diversas religiões têm vindo a ser paulatinamente desmontados pela ciência. E aí reside o conflito que já motivou, por exemplo, que creacionistas e darwinistas chegassem às últimas.
Por aquilo que deu a entender, Saramago não será ateu e muito menos anti- Deus. Nisso parece estar certo já que cuidado e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, e na sua provecta idade, ser prudente é uma virtude, não vá o diabo tecê-las. O que ele parece repudiar é uma relação próxima com O representante do Deus dos cristãos, o que não deixa de ser curioso dado que o nosso Nobel está neste plano muito mais próximo de Cristo do que aparenta. Pois não foi O Emanuel que expulsou os vendilhões do templo? E que revelou aos homens do seu tempo um Deus compreensível e compreensivo de face e coração humano, preocupado com a nossa condição de mortais e pecadores?
Como fazê-lo hoje sem beliscar um establishement com vinte séculos de mentiras, erros, hipocrisia, apropriação de bens alheios, genocídios etc., etc.? Difícil, não é? Por isso, em boa verdade vos digo, o nosso Zé abanou o vespeiro e agora está feito. Nem a sua condição de grande homem das letras de Nobél ao pescoço o poderá livrar das ferroadas!
Juan_jovi@sapo.pt

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