quarta-feira, 30 de setembro de 2009

32 - Carta aberta

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Arqº pessoal: Pico nevado nos Andes.

Arqº pessoal: Valparaíso, Chile.

Arqº pessoal: Porto pesqueiro de Valparaíso.

Arqº pessoal: A zona das "Docas" de Buenos Aires, Argentina.

Arqº pessoal: A "Casa Rosada", sede da presidência da República Argentia.

Caros visitantes e amigos,

Quando há cerca de dois meses me lancei nesta aventura que foi dar vida a um Blog subordinado ao tema das viagens, referi de forma bem clara que o seu primo movens era um certo estado de necessidade. Aludia então a uma situação que afecta muitos dos que se consideram ou dizem viajantes. De facto, e pelas razões mais diversas, muitas pessoas que apreciam as (grandes) viagens, acabam por fazê-lo em regime solitário, o que é uma pena, pois retira prazer a uma experiência que para ser vivida em pleno deve ser partilhada. Paradoxalmente, um passeio pela Net, revela-nos a existência de muita gente que gostaria de se aventurar por outros trilhos que não apenas os que se encontram expostos nas montras das agências de viagens. E não se atreve, por lhe faltar o apoio e a experiência de um viajante ou, no limite, de uma companhia confiável.
Julguei então ser possível através deste sítio e com a colaboração dos aficcionados, juntar as pontas de uma espécie de cadeia por forma a constituir grupos interessadas em iniciar algum tipo de relacionamento, criando laços de confiança mútua entre pessoas de todos (agora já não se pode dizer ambos!) os sexos, idades, formação académica, estatuto social, se é que isso interessa a alguém, e assim darmos início a alguns projectos.
Continuo a pensar da mesma forma e, tendo em conta o número de visitantes, o meu optimismo sai até reforçado. Naturalmente, considero que este espaço é nosso. Tal como uma casa sem mobília não tem alma e não pode ser considerada um lar, também este não é um sítio para falar, discutir e projectar viagens se não puder contar com a vossa opinião, histórias e fotos das vossas viagens, e tudo o mais que queiram enviar-me para publicação. Basta remeter o material para juan_jovi@sapo.pt e ele ficará disponível para toda a comunidade.
Entretanto, e por sugestão do Paulo Santiago, especialita em trekking, rappel, escalada, cannyoning e tudo o que sejam actividades de ar livre em contacto com a natureza, bem podíamos aproveitar este tempo fabuloso que tem feito, antes que apareça o general Inverno. Desfrutar de saudáveis práticas de lazer, ao mesmo tempo que nos vamos conhecendo e quem sabe, ganhando confiança para outros voos, seria óptimo. Mas nada impede que nos fiquemos por um simples almoço de convívio, para o qual se pedem sugestões quanto a data e local.
A terminar, está na altura de começar a alinhavar a próxima grande viagem da Primavera. Este ano, estou a pensar fazer um tour pela Europa, praticamente inexplorada para a maioria dos portugueses. Sem esquecer que o bom tempo está a chegar ao hemisfério sul; que tal uma escapadinha? Quanto a pormenores … mostrai primeiro o vosso interesse! Para o suceso da empresa, leiam e divulguem o sítio.
Abraços às carradas,

Juan

terça-feira, 29 de setembro de 2009

31 - Cannyoning.

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PS: A maioria são mulheres!

PS: Caminhando...

PS: Saltando...

PS: Fazendo rappel.

Por: Paulo Santiago

Com o calor que se tem sentido apetece fazer cannyoning...e o que vem a ser essa "coisa"? É a pergunta que alguns farão. Explicação rápida: Cannyoning, como o nome dá a entender, relaciona-se com "cannyon", desfiladeiro e consiste na descida de um rio de média ou alta montanha, caminhando, saltando ou fazendo "rappell".
Em Portugal conheço três rios excelentes: o Teixeira, na zona de Oliveira de Frades, o Fafião e o Arado no Gerês.
A actividade é feita obrigatoriamente com fato isotérmico (surf), porque mesmo em pleno Verão, a água destes rios é bem fria. Este ano fiz um cannyoning com os meus filhos, no dia 16 de Agosto, no rio Arado, e com a pressa do regresso não fizemos uns alongamentos no final da actividade. Daqui resultaram algumas dores musculares durante dois ou três dias, para eles, com vinte e poucos anos, e para mim, com sessenta e um. Acontece que estando na água, o fato nos protege do frio, depois saímos e caminhamos pelas rochas, e graças ao fato, os músculos aquecem fortemente. Depois, voltamos a saltar para a água e os músculos arrefecem, são estas mudanças bruscas que no final têm de ser compensadas.
As fotos (não foram tiradas este ano) falam por si...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

30 - E o mar aqui tão perto!

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Mapa indicando a localização de algumas das melhores praias da Costa de Prata.

Praia da Leirosa.

Praia do Osso da Baleia.
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Inês, 7 anos.

A inês e a irmã, Carolina, 5 anos. Sâo primas da Mariana.

O avô Juan com a Mariana, 6 meses.

O avô com a Carolina ao colo.

A Mariana molha os pézitos no mar pela primeira vez.

Bom tempo!

Ontem fui à praia, e no dia anterior também! Facto perfeitamente irrelevante não fosse o pretexto para falar de algumas das melhores praias da Costa de Prata. E já agora, porque não, apresentar as minhas netas à comunidade.
Neste Outono de cores e temperaturas estivais, uma ida à praia melhora o astral, faz bem à saúde e é como que um prolongamento das férias. Claro que esta é uma situação que não deixa de ter o seu reverso. Será que as primeiras chuvas de Outono não estão já a fazer falta à agricultura? E as barragens onde se armazena o precioso líquido, como é que estão quanto a níveis? Este aparente prolongamento do Verão, tem algum significado pernicioso em termos climatológicos? São dúvidas de resposta fácil para os entendidos, talvez, que de qualquer modo não me retiram o prazer de gozar este bom tempo, como a maioria das pessoas o classifica.
Voltando às praias, tenho o privilégio de residir a uma distância de trinta minutos de carro das seguintes:
- Cabedelo, Hospital, Cova, Gala, Costa de Lavos e Leirosa, todas no concelho da Figueira da Foz;
- Osso da Baleia, a praia do concelho de Pombal;
- Pedrógão e Vieira, no concelho de Leiria.
Dizer qual a melhor, é impossível. Todas têm os seus frequentadores indefectíveis que lhes reconhecem virtudes que outras não possuem. Para mim, a proximidade da residência, a excelente qualidade da água e os areais limpos e suficientemente extensos para que não tenha de estender a toalha debaixo do chapéu do vizinho, seriam razão bastante para não ir a banhos para outras paragens. Mas há pelo menos outra razão, a temperatura da água! Como é sabido, as águas da costa oeste são acentuadamente mais frias do que as do Algarve por exemplo, e nisso encontro uma vantagem.
Uma grande percentagem da nossa população com idade acima dos quarenta a quarenta e cinco anos, sofre de insuficiência venosa profunda, uma patologia do foro circulatório que se caracteriza pelo aparecimento de nódulos e rolos vasculares a nível dos membros inferiores. São as chamadas varizes, tão inestéticas quanto incomodativas, chegando mesmo a ser incapacitantes. As queixas mais comuns consistem na sensação de cansaço, pernas pesadas, dormência ou ardor e nos casos extremos, prurido, exsudação, flictenas e úlceras. Pois bem, há um bom par de anos, quando um quadro bastante avançado quis tomar conta dos meus andantes, resolvi iniciar um tratamento conservador, que não só fez regredir completamente a sintomatologia como devolveu às minhas extremidades a aparência de tempos idos.
Para os interessados, aqui vai a descrição do tratamento que tão bons resultados me proporcionou. Tão simples quanto expor os membros ao sol durante 15 a 20 minutos e depois, mergulhá-los subitamente na água do mar, caminhando numa zona de rebentação com água pela coxa, durante um quarto de hora. Repetir tantas vezes quantas o horário de trabalho o permita, e quanto mais fria estiver a água, melhor. E pronto, logo no primeiro ano, os efeitos benéficos podem sentir-se por largos meses. Mas atenção, pessoas com patologia do foro ósteo-articular, não costumam dar-se bem com o frio nos ossos. Do mesmo modo, os insuficientes coronários (angina de peito), também não devem expor-se a alterações bruscas de temperatura.
Depois não me venham cá dizer que não avisei!
São duas as praias onde gosto mais de chapinhar. A da Leirosa, que é também a praia da minha juventude e de tudo o que eu lá vivi, situada junto à fronteira sul do concelho da Figueira da Foz. É uma vila (aldeia?) pequenina, habitada por gente que antigamente se dedicava à pesca – arte de xávega –, e hoje alberga duas das maiores unidades industriais dedicadas à produção de pasta de papel. A proximidade da Figueira da Foz e Leiria, assim como a existência de boas vias de comunicação, EN109, A17 e IC8, trouxeram-lhe algum desenvolvimento e cosmopolitismo. Mas é sobretudo nos dias solarengos de Inverno que o pequeno burgo se torna irresistível para um passeio de domingo à tarde. Dezenas de automóveis estacionam ao longo da sua marginal e, enquanto alguns dos seus ocupantes ouvem música baixinho ou dão asas aos avanços de um namoro mais febril, outros deliciam-se com lufadas de ar marítimo a cheirar a maresia, e um sol esplendoroso de uma luminosidade ímpar, com a Figueira e a Serra da Boa Viagem no horizonte.
A praia do Osso da Baleia, é a minha praia, porque “Osso da Baleia é sinónimo de sossego. O único areal do concelho de Pombal fica quase perdido na Mata Nacional do Urso, rodeada de dunas e árvores. Em estado quase virgem, não abdica das condições básicas, como vigia, bar e casas de banho, no entanto não tem quaisquer hotéis ou restaurantes perto. A qualidade da água do mar é certificada pela bandeira azul. Com um extenso areal, há até espaço para nudistas (in sairmais.com)”
No passado dia 4 de Junho, foi a primeira praia a hastear a Bandeira Azul na presente temporada. O secretário de estado do turismo, João Ferrão, presente na cerimónia, apontou-a como exemplo de preservação ambiental e expressou a sua satisfação por não existirem quaisquer construções num raio de vários quilómetros.
Que mais posso acrescentar? Apenas o convite para que visitem o meu concelho e a nossa praia.
Daqui endereço a todos uma cordial saudação de boas vindas.

Juan

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

29 - A razão de uma Greve

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Termina hoje à meia noite o segundo de dois dias de greve dos pilotos da Tap. Sei que esta greve tem por base uma disputa de natureza salarial entre sindicatos e administração, mas desconheço os argumentos de qualquer dos lados. À partida, a minha solidariedade pende para o lado dos pilotos. São pessoas responsáveis, ai de nós se não fossem, e se decidiram avançar para a guerra, foi porque acharam que tinham a razão do seu lado. O mesmo dirá o representante da administração, com o mesmo nível de seriedade. Entre os dois fogos ficaram, dizem, quarenta e dois mil passageiros e um coro de protestos. Uns, protestam contra os pilotos que consideram uma classe à parte, socialmente prestigiada e com remunerações acima daquelas que auferem profissionais de idêntico nível de diferenciação e responsabilidade. Outros sentem-se agastados com a manifesta (dizem eles) indiferença da empresa para com os contratempos e prejuízos que a situação lhes acarreta. E todos, temem que estes abanões mandem com a transportadora definitivamente para o charco. E nós, cidadãos e contribuintes, ocasionais utilizadores dos serviços da Tap air Portugal, o que é que temos a dizer?
Como não tenho procuração para representar quem quer que seja, só posso falar por mim. Então aqui vai a minha opinião, que de resto ninguém pediu, esquematizada em cinco princípios:
1º - Dado que o dinheiro dos contribuintes não pode almofadar as contas das empresas de transporte aéreo, este tem que ser um negócio rentável per si.
2º - Como qualquer outro negócio, deve ter uma gestão transparente e acima de tudo, competente. A sua administração não pode ser coito para boys cujas credenciais se resumem ao cartão do partido do governo.
3º - Há que acabar de vez com vaidades bacocas do género daquelas que suportam linhas altamente deficitárias, com o argumento de que é preciso manter a nossa presença etc. e tal. Não me admiraria se me dissessem que algumas dessas linhas e horários se mantêm por conveniência de determinados senhores.
4º - A Tap é um símbolo nacional, como a Torre de Belém ou o Mosteiro de Alcobaça. Em qualquer ponto do planeta, um escritório da Tap evoca território nacional, como se de uma representação diplomática se tratasse. Para a grande maioria dos portugueses, ela é a melhor e mais segura companhia aérea do mundo, e não deve ser alienada sob qualquer forma ou pretexto. Os nossos pilotos ficam logo abaixo de Deus e para fazer a manutenção dos aparelhos, não há mãos como as dos portugueses. Até a comidinha de puta que me servem a bordo, eu devoro de bom grado.
5º - Sendo a Tap uma questão nacional, tudo o que lhe diz respeito interessa aos cidadãos. Se as regras da concorrência dentro da EU não permitem a ajuda directa dos estados, havemos de encontrar uma forma de lhe restituir a saúde financeira e uma longa vida. Mas para isso, não é aceitável que alguns façam caretas ao tratamento. E quanto aos sacrifícios, se os houver, que sejam repartidos.
Analisemos agora as razões dos furibundos passageiros. Não têm razão! Naturalmente quando se está de armas e bagagens num aeroporto, com a legítima expectativa de que o contrato de transporte firmado com a empresa seja respeitado e tal não acontece, não há nervos que aguentem. Mas se pensarmos bem…
Não é verdade que vivemos num país democrático onde fazer greve (com regras), é um direito constitucional?
Não é verdade que a greve é a forma de luta mais extrema de que os trabalhadores se podem socorrer para fazer valer o que consideram ser os seus direitos? Qual seria a efectividade de uma greve no caso de ninguém sair magoado? Porque, meus senhores, declaração de greve é declaração de guerra. E as guerras fazem-se para provocar dor, destruição, sofrimento e angústia no campo adversário. Infelizmente, o sucesso deste combate está na extensão dos danos colaterais que uma das partes não quer nem pode evitar! Nesta guerra, as armas, são os braços caídos sendo as munições, a pressão e o clamor dos ofendidos e prejudicados, ou seja, os passageiros.
Está a decorrer neste momento uma conferência do G20. As notícias dizem que o ponto mais importante da ordem do dia, tem a ver com a discussão das remunerações das posições de topo nas administrações de empresas como bancos, seguradoras e participadas. Mesmo em Portugal, onde esses valores escapam frequentemente ao escrutínio popular, vozes se têm levantado, entre elas a do PR, contra a falta de razoabilidade de tais montantes quando comparados com o nível salarial médio dos restantes trabalhadores da mesma organização. A situação chega a ser obscena, quando a determinados figurões são atribuídos complementos astronómicos a título de prémios de gestão e outras alcavalas.
E na Tap, o que é que se passa? Será que há gente na administração, com os tomates no bem-bom, que nunca saiu de Lisboa a não ser em passeio e ainda por cima à borla, a ganhar n vezes o salário de um piloto?
Se não há, apelo aos senhores pilotos para que ponham a mão na consciência e aguardem pelo regresso das vacas gordas para exigirem o reforço do orçamento lá de casa.
Aos senhores administradores, tomo a liberdade de recordar que os bons exemplos vêm de cima e os sacrifícios são para repartir.
Aproveito para avisar que um dia destes vamos ter uma conversinha acerca das vergonhosas taxas de combustível, aeroporto e segurança com que somos massacrados. Quero saber quem é que se anda a abotoar com o bolo ou como é repartido, e quais as premissas que o justificam.
Juan

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

28 - Viagem aos Bijagós - 2ª parte

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Mapa da Guiné onde se pode visualizar a ilha de Bubaque.

Juan, na praia.
Rui Pedro ao balcão do bar da esplanadado Hotel Bijagós (abandonado).

Edifício de arquitectura original que terá servido de residência de férias a um chefe de estado guineense (informação recolhida no local)

No resort do Fontes.

A piroga da nossa aventura.

O arrastão adaptado, pronto a iniciar a carreira entre Bissau e as Ilhas.
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As peripécias de uma viagem marítima.
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Cupelão de Baixo, Cupelão de Cima, Stª Luzia, Amura, Bandim, foram os bairros da cidade por onde deambulámos no dia seguinte à épica expedição ao K3.
O nosso próximo objectivo, há muito traçado, consistia na deslocação ao arquipélago dos Bijagós. Já sabíamos que a viagem teria de ser feita por barco dado não existir qualquer ligação aérea entre Bissau e Bubaque, a ilha que pretendemos visitar. Contaram-nos até uma história algo rocambolesca que fica aqui pelo preço da compra:
Em tempos não muito recuados, teria aparecido um audacioso empresário cuja nacionalidade não me foi revelada, que a bordo do seu pequeno avião supria a falta de transporte aéreo entre o arquipélago e o continete. O serviço revelou-se tão efectivo quanto imprescindível e no momento em que a avioneta teve a sua primeira avaria, não foi difícil desbloquear os cinquenta mil euros orçamentados para a reparação. Na posse da taluda, o nosso piloto deu à sola e até hoje. Investigação posterior terá revelado que o homem nem brevet possuía. São histórias típicas de África, nas quais é sempre difícil distinguir a verdade da ficção.
De passagem pela zona portuária, foi possível apurar o seguinte:
- Transporte regular (carreira) entre as Ilhas e o continente, não existe.
- Pessoas e mercadorias, viajam de e para os Bijagós em pirogas com cerca de 9 metros de comprimento por três de boca e motor a diesel inbord, ao sabor da tabela de marés. A duração da viagem é de cerca de quatro horas e custa à volta de 900 cfa’s por pessoa.
- Os pilotos são práticos que governam as embarcações pelo tino e de acordo com a experiência adquirida, auxiliados por uma agulha magnética.
- É possível fazer a viagem em lancha rápida em fibra de vidro, actividade a que se dedicam alguns operadores informais, mas o custo é incomportável para o nosso orçamento.
- A época em que vamos viajar é particularmente propícia a acidentes. Duas semanas antes, uma embarcação que fazia a travessia naufragou tendo-se perdido trinta e tal vidas.
- Atracado ao cais, encontra-se um arrastão adaptado para navegação de cabotagem que, segundo informação do capitão, espanhol, deverá entrar brevemente em actividade. Disseram-me que era propriedade de um emigrante cabo-verdiano disposto a meter mais duas unidades ao serviço, caso o negócio corra bem.
Na posse destes elementos, aprazámos a partida para a quarta feira seguinte, ao meio dia.
O bulício que precede os preparativos para a largada é indescritível. No pequeno cais, para além das pirogas com destino a Bubaque e Bolama, atracam também as embarcações da pesca local. Pescadores, intermediários e vendedores de peixe, atropelam-se no frenesim do negócio, procurando abrir caminho à força de buzinadelas das decrépitas viaturas que conduzem. Ali mesmo, com o chão de cimento do cais a servir de expositor, montículos de peixe acabado de descarregar é apreçado por donas de casa que procuram algo com que guarnecer a panela, ao menor preço possível.
A tudo isto, somam-se os táxis e toca-tocas, carrinhas de nove lugares onde por norma viajam o dobro dos passageiros e respectivas bagagens. Chegam também as camionetas que vêm descarregar as mercadorias despachadas. Porque as pirogas não transportam apenas os passageiros e sua tralha. No porão seguem também materiais de construção (cimento, telha e tijolos, chapas de zinco, tintas e ferragens etc.), leitos, colchões e outras peças de mobiliário, paletes de bebidas, mercearias, sacos de batatas e cebolas, enfim, tudo o que uma população necessita tendo como única moeda de troca, o óleo de dendém ou peixe seco. Estes produtos ocupam praticamente todo o espaço livre da embarcação, acomodando-se os passageiros sobre a carga, como podem.
Quem vai ao mar avia-se em terra. Assim fizemos, o Rui Pedro e eu, ao decidir criteriosamente o que deveríamos levar dentro das mochilas nesta viagem de elevado risco. Pois, para além de um excelente colete salva-vidas para cada um, que tinha viajado connosco desde Lisboa – homem prevenido vale por dois –, nada, e até os sapatos foram substituídos por chinelos de enfiar o dedo, de forma a não constituir sobrecarga ou embaraço no momento da aflição se tal viesse a acontecer.
Na quarta feira, ainda não eram 11h30 e já estávamos instalados. Encontrei lugar a meia nau, sentado sobre uma espécie de banco corrido de borda a borda e pernas penduradas sobre o poço do porão. O Rui Pedro, a estibordo, rodeado de sacos de cebolas exalando um odor fétido a putrefacção que ele responsabilizou pelo desencadear do enjoo.
A manobra da largada decorreu normalmente e pouco depois estávamos a navegar num mar de senhoras sob um sol esplendoroso, praticamente sem vento. Era a bonança que precede a tormenta! Calculo que tenhamos navegado cerca de uma hora nestas condições, depois … Primeiro foi o vento, um vento suão de SE, moderado, que fazia com que o toldo de lona começasse a agitar-se ruidosamente contra a estrutura metálica de suporte. Não tardou a agigantar-se e em vez do flap, flap da lona, o que se ouvia era um silvo tão forte quanto o uivo do dragão de S. Jorge. O céu escureceu, ficou da cor do chumbo, anunciando um crepúsculo precoce. As primeiras ondas atingem a embarcação pelo través de estibordo e imprimem-lhe um movimento de rolling, ainda assim suportável, mas que começava a causar mal estar aos passageiros. Alguns começam a engodar! Subitamente, o ribombar de um trovão por cima de nós foi como que o sinal para que todos os elementos de um inferno tempestuoso se encarniçassem contra a frágil piroga e seus ocupantes. O vento soprando em rajadas violentíssimas rebentou com as peias que fixavam a capota à respectiva estrutura, a chuva fustigava-nos por todos os lados. Os tripulantes, empoleirados na borda e correndo o risco de serem projectados para o oceano, tentavam remediar os estragos. Vagas de mais de três metros atacam de proa e través, a barcoleta agitava-se num movimento complexo que pôs toda a gente a clamar pelo gregório. A chuva de tão intensa, deixa os pilotos às cegas; a guiá-los têm apenas a luz dos relâmpagos, agora contínuos. Percebo então porque é que não aproam à vaga para maior conforto dos passageiros e segurança da embarcação. Receiam perder-se, já que seguem um rumo fixo em cada um dos sentidos. Sem pré aviso, o desastre faz-se anunciar; num balanço mais forte, o lado de bombordo fica debaixo de água! Os receios passam a pânico quando três homens à proa e outros tantos à ré, formando uma cadeia de baldes, não conseguem dar vazão à água que a cada golpe do mar inunda o porão, tornando a embarcação mais pesada. O silêncio dos passageiros, na sua maioria Bijagós e habituados à monção, só é quebrado por uma espécie de litania que não entendo. Pergunto ao meu companheiro do lado, um natural das ilhas, professor primário de regresso em gozo de licença, o significado daquela espécie de murmúrio colectivo. Diz-me que sendo a maioria dos passageiros animista, imploram os espíritos, para que nos deixem chegar.
Foram três horas de verdadeiro calvário até começarmos a navegar ao abrigo das ilhas. Gradualmente, a meteorologia foi-se tornando mais favorável e a chegada ao cais de Bubaque dá-se pelas cinco horas da tarde, novamente com um tempo primoroso.
Percorremos as duas centenas de metros que nos separam do povoado subindo uma rua bastante inclinada, em cujas bermas as enxurradas abriram o leito de pequenos riachos que chegam a ser tumultuosos a cada bátega. Uma das primeiras casas é uma espécie de cantina onde se vende de tudo um pouco. Abastecemo-nos com pão e latas de atum para o lanche e partimos à procura de alojamento. Por mero acaso, dirigimo-nos ao resort do Fontes, logo ao dobrar da esquina. Recebe-nos com simpatia e diz-nos que por telefone recebeu informações de Bissau que punham em causa a possibilidade do nosso transporte chegar ao destino! Dado que é ele o responsável pelo único meio de comunicação existente na ilha, apressa-se a informar quem de direito que afinal tudo correu melhor do que o esperado. O Fontes é um homem simpático de cerca e cinquenta anos, antigo funcionário do Hotel Bijagós. Com o encerramento daquela unidade tentou a sua sorte e mandou construir quatro bungalows em alvenaria, de forma circular, semelhantes aos nossos moinhos de vento. Lá dentro, duas camas geminadas que se podem afastar, lençóis limpos, uma ventoinha de teto que só funciona do pôr do sol até às dez da noite. Na casa de banho, limpa e funcional, o chuveiro decorativo e o inevitável banho balanta, de púcaro e alguidar.
Fornece-nos os talheres para o lanche e, a nosso pedido, vai à zona do cais comprar peixe fresco para grelhar. Por sugestão sua, terá arroz de tomate como acompanhamento. Como ainda tínhamos perto de duas horas de luz solar, aproveitámos para dar um passeio a pé pelas imediações e fazer algumas fotografias.
É noite fechada quando regressamos ao resort. À nossa espera, numa espécie de esplanada coberta a capim, o Fontes luta com a teimosia de um fogo desmancha prazeres, obstinado em libertar mais fumo do que calor. O seu filho, um rapazito de onze ou doze anos, procura animar o ambiente substituindo cassete após cassete num rádio gravador. Sentadas a uma das mesas encontram-se três jovens na casa dos vinte anos, muito produzidas, que nos vieram dar as boas vindas. Quando o peixe a saber a fumo vem para a mesa, são as primeiras a espetar o garfo. Alto aí, digo eu, e peço ao Fontes que traga uma nova travessa para onde trasfego um certa quantidade de arroz. Sem peixe! Provavelmente por discordância com o cardápio, as jovens retiraram-se em silêncio e a noite serviu efectivamente para dormir e descansar da terrível viagem.
Dado que a terra pouco mais tinha para oferecer ao visitante para além do que já havíamos visto, resolvemos partir no dia seguinte. Pelas 7h30, já com o pequeno almoço tomado, uma manhã escorrida e soalheira convidava ao passeio, que retomámos no ponto onde havia sido interrompido no dia anterior. Às 11h00 estávamos de novo no cais, aguardando ordem de embarque. A viagem Bubaque-Bissau fez-se sensivelmente com o mesmo número de passageiros, cerca de trinta, mas muito menos carga, apenas alguns cestos de castanha de coconote. Largámos, e tudo indicava que iríamos ter uma viagem em que seríamos compensados da tormenta do dia anterior. E assim foi, enquanto tivemos as outras ilhas à vista, que àquela hora apresentavam uma beleza luminosa, com praias de areia muito branca bordejadas de palmeirais e águas tépidas de cor verde turquesa. Porém, logo que entrámos em mar aberto, tudo se precipitou tão rapidamente que nem houve tempo para interiorizar a mudança. As condições de mar e de vento eram idênticas às do dia anterior, para pior. Mas, dado que a piroga estava muito mais leve, parecia que rodopiava como uma casca de noz numa prova de rafting. A certa altura apercebemo-nos que os nossos companheiros começavam a libertar-se de todos os seus haveres. Muitos chegam a descalçar-se e tiram algumas roupas. As mochilas que tanto eu como o Rui Pedro levávamos traçadas sobre o peito, começaram a chamar perigosamente a atenção. Olhares repreensivos davam-nos a entender que o nosso comportamento não era do agrado dos demais. Pela nossa parte, receávamos dar a conhecer a existência dos coletes salva-vidas, os únicos existentes na embarcação, por receio de que na iminência de termos que abandonar o barco nos viéssemos a transformar num cacho humano com destino ao fundo do mar. Quando um dos passageiros deitou a mão a uma das correias da minha mochila e fez tenção de a retirar, fui forçado a abri-la e mostrar o seu conteúdo, um colete salva-vidas cor de laranja. Pois apesar do delicado da situação, as pessoas que se encontravam à nossa volta sorriram, um sorriso apaziguador como quem diz, estes brancos têm esperteza na cabeça, e aí, percebemos que todo aquele aparente desconforto dos nossos companheiros não era mais do que preocupação com a nossa sorte no momento de saltar para a água.
Já com o ilhéu do Rei à vista, o vento pareceu amainar um pouco, mantendo mesmo assim uma intensidade tal que a manobra de atracação foi tentada e repetida durante cerca de uma hora, tal era a força com que nos afastava do cais. Ao pôr o pé em terra, sãos e salvos, tivemos a nítida certeza de que a nossa hora não chegou por um irrepetível golpe de sorte. Desta viagem, para além da simpatia e preocupação dos Bijagós para com o nosso destino, guardo a imagem de um cais onde se apinhavam centenas de pessoas que gritavam e saudavam os recém chegados, porventura duvidando de que se tivessem salvo, tais eram as condições de tempo e de mar.
Como não há duas sem três, vamos esperar pela terceira, já que a segunda aconteceu numa descida do Amazonas, de Manaus para Belém. Fica para um próximo post.

Juan

terça-feira, 22 de setembro de 2009

27 - Por trilhos das Terras de Granito

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Fotos de: Paul0 Santiago

Novo trilho nas Terras de Granito.
Por: Paulo Santiago
Hoje, 20 de Setembro de 2009, foi aberto o Trilho das Terras de Granito, situado na freguesia de Macieira de Alcoba, concelho de Águeda.
Nesta freguesia com 110 habitantes, situada perto do Caramulo, predomina o granito, sendo as habitações construídas na íntegra com esta pedra.
O percurso pedestre Terras de Granito, tem cerca de 8,5km, é circular, e deve-se iniciar junto da Igreja Paroquial de Macieira de Alcoba. A dificuldade, apesar de umas subidas, é média/baixa, e demorei 2,00 horas a percorrê-lo. Os primeiros 700 metros são planos e em caminho pavimentado, depois flecte para a floresta e começam as subidas até à Urgueira, com passagem por Hortas Velhas, onde apenas existem ruínas de antigas construções. Junto à Urgueira, o trilho passa pela ermida da Nª Sª da Guia e pelo Forno Comunitário, construído em finais do séc xix. A este forno, com uma entrada da altura de um homem, e que tem de arder oito dias e oito noites para aquecer, estão ligadas
algumas lendas e histórias. Devido a estas histórias, em 1906,veio uma ordem régia que proibiu a romaria da Sª da Guia, e assim até 1998 não se voltou a acender o forno. Em 1999, no 3º Domingo de Agosto, e sempre neste dia nos anos seguintes, voltou a acontecer o" Milagre da Urgueira"...o pão de milho com centeio é colocado e retirado por um homem que vai dentro do forno, tarefa realizada com as próprias mãos, indo trajado com um fato de burel, lã e linho, e leva um cravo na boca.
A partir da Urgueira, o percurso é feito em descida suave, até chegarmos novamente ao ponto de partida: Igreja de Macieira de Alcoba.

domingo, 20 de setembro de 2009

26 - K3 ou Saliquinhedim (Guiné- Bissau)

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No avião: Da direita para a esquerda, Rui Pedro, Juan e Manuel Neves.

Interlúdio no prgrama da viagem aos Bijagós

Nos dois dias seguintes à nossa chegada, sábado e domingo, aproveitámos para descansar, conhecer melhor a cidade (Bissau) e fazer o roteiro do “onde comer e o que visitar”. Logo no início da semana partiríamos para o K3, uma tabanca situada a cerca de 3 km a sul de Farim na margem esquerda do rio Cacheu, à qual me ligam laços que vêm desde o tempo em que aí cumpri uma parte da minha comissão militar. Restavam-nos ainda dois dias de folga para preparar a viagem aos Bijagós.
Durante meses, fui enviando caixas com ajuda humanitária (roupas, calçado, brinquedos, material escolar e medicamentos) expedidos a conta gotas nos contentores do nosso amigo Manuel Neves, empresário do ramo exportador com negócios na Guiné, tendo ficado armazenados nas suas instalações de Bissau até ao momento da entrega. Para esse efeito, o Manuel Neves colocou ao nosso dispor, graciosamente, uma das suas carrinhas na qual carregamos cerca de 1000 kg em artigos diversos repartidos pelos 50 volumes vindos de Portugal
No parque de estacionamento do hotel "24 de Setembro": Carrinha carregada com a ajuda. Ainda na imagem, Júlio Yá, o condutor e Juan.

Da esquerda para a direita: Manuel Neves, Rui Pedro, Sarifo e Juan.
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Na manhã de segunda-feira, tomámos o pequeno almoço bem cedo e partimos rumo ao K3. À frente, seguia a Ford Transit conduzida pelo Júlio Yá tendo como ajudante o Sarifo, ambos funcionários do Neves. À rectaguarada, o Mercedes do M. Neves onde eu e o Rui Pedro seguíamos à boleia. Primeira paragem no controlo de Safim onde os guardas de serviço à barreira de corda se interessaram pelo conteúdo dos caixotes. Depois de curta conferência chega-se à conclusão que o melhor é contribuir com uma pequena propina, o que nos permite fazermo-nos de novo à estrada. A nossa pequena caravana avança no seio de um trânsito intenso, cruzando com inúmeros veículos de todos os tipos e buzinas afinadas. Quase sempre a velocidade excessiva para o estado do pavimento, demandam a capital. Nas cabines ou caixas de carga, apertadas como sardinhas em lata, pessoas de todas as idades e etnias vão em busca da consulta médica que lhes pode melhorar a saúde ou salvar a vida, ou do trabalho mal remunerado que não encontram no mato. Algumas fazem-se acompanhar pelos parcos bens que esperam comercializar na grande cidade. Carregam sacos de carvão, molhos de lenha, hortícolas, mancarra, dendém e mangos que hão-de render bom dinheiro. O suficiente, talvez, para comprar aquela roupa, o rádio ou os óculos dos seus sonhos.
O dia apresenta-se particularmente bonito, com uma luminosidade que realça os diversos tons de verde da paisagem a contrastar com o negro do alcatrão esburacado mas ainda assim, transitável. O rádio de bordo sintoniza uma emissora FM que debita ininterruptamente música africana, ritmos frenéticos que convidam o corpo a agitar-se. Ao longo da estrada e na proximidade das aldeias que vamos deixando para trás, humildes bancas de comerciantes informais apresentam os seus produtos: cigarros vendidos à unidade, barras energéticas, rebuçados, sabonetes, refrigerantes à temperatura do chá. Segundo as placas, estamos no itinerário certo; Cumeré de má memória, antigo complexo militar português, terá sido o derradeiro local de reunião dos valorosos comandos africanos antes do seu fuzilamento, Nhacra, Mansoa. Esta cidade, a segunda ou terceira urbe mais importante do país, fervilha de agitação. São dez horas da manhã e o seu mercado popular ao ar livre oferece de tudo um pouco; além dos omnipresentes montinhos de carvão, mancarra e mangos, vêem-se cestos de pão, peixe seco, carne, vegetais, tendas de roupas e bancas de música em cassete e cd. Retomamos a marcha e pouco depois atingimos a povoação de Cutia, porta de entrada para as tabancas do Morés, outrora um bastião do PAIGC. Fazemos uma rápida visita ao torreão em alvenaria que noutros tempos serviu de abrigo a uma pequena guarnição militar portuguesa que tinha por missão controlar o movimento de guerrilheiros através de carreiros que se cruzavam na proximidade. Em Mansabá, estamos em plena região do Oio. Uma serração de madeiras, vários estabelecimentos comerciais, escola e posto de saúde, centralizam a actividade de uma população predominantemente rural que pratica uma agricultura de subsistência, cria gado e tem nas matas de cajueiros a sua principal fonte de rendimento.
Após a independência, o cajueiro veio substituir consideráveis extensões da floresta tradicional guineense. Trata-se de uma árvore de médio porte que produz um fruto composto de uma parte carnuda e doce envolvendo a semente ou castanha. A castanha de caju é muito valorizada nos mercados internacionais, dada a quantidade de produtos e subprodutos que dela se podem extrair, desde os óleos para a indústria de cosméticos, sabonetes, perfumes até aos bagaços utilizados na composição de rações para animais. Aos produtores é garantido um preço mínimo, mas todos os anos por volta do mês de Abril, atraca ao porto de Bissau um navio vindo da Índia carregando sacos de arroz que se destina a ser trocado quilo por quilo por castanha de caju. Fica assim garantida a subsistência das famílias quanto ao seu principal alimento, o arroz, servindo o excedente para adquirir outros produtos de primeira necessidade.
A nossa última tirada leva-nos ao Bironque, um antigo destacamento militar em plena selva onde estive integrado numa força empenhada na protecção dos trabalhos de reabertura do eixo Mansabá-Farim. A menos de meia dúzia de quilómetros revisitei Madina Fula, outro destacamento idêntico e com as mesmas funções do anterior, agora uma florescente tabanca onde se reagruparam populações dispersas pelo mato durante anos. À vista, 150 km percorridos a partir da base em Bissau, temos a tabanca do K3 também chamada Saliquinhedim, o nosso destino.
Num casamento indígena em Madina Fula, o Rui Pedro com duas crianças ao colo posa atrás da noiva de véu branco na foto.
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A população, que nada sabia acerca desta visita, está ocupada nos seus afazeres. Como em qualquer outro local de África, a curiosidade natural da criançada leva-as a aproximarem-se de nós. Algumas reconhecem-nos imediatamente de uma visita anterior, por isso partem em grande alvoroço regressando com uma autêntica multidão de adultos que sempre esperam por qualquer tipo de ajuda vinda de Portugal. Aos pequenos distribuem-se bombons, esferográficas, brinquedos. Com alguma dificuldade conseguimos que os miúdos se mantenham em fila para que a distribuição se faça de forma ordeira. Quando passamos aos itens reservados aos adultos, rapidamente reconhecemos a nossa incapacidade para concluir a missão. As pessoas, ávidas pelo seu quinhão de roncos (presentes), não aceitam as mais elementares regras de disciplina. Atiram-se umas sobre as outras, disputam peças de roupa ao rasgão, empurram-se, caem, espezinham-se, tentam apoderar-se do conteúdo do furgão. O quadro torna-se dolorosamente tenso e perigoso, há que tomar medidas para evitar um acidente que poderia colocar-nos em palpos de aranha. Por isso, decido encerrar a distribuição logo após a abertura dos primeiros volumes.O Idrissa é um dos três elementos do comité responsável pelo governo da tabanca. A sua residência fica próximo do local onde nos encontramos estacionados e vai servir de armazém para a mercadoria restante. Determino que seja esse comité a fazer a distribuição pelas famílias de acordo com a dimensão do agregado e suas necessidades, tendo o processo decorrido pacificamente segundo a informação que me chegou

O início da confusâo...
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Partimos então em direcção a Farim com a esperança de encontrar sítio para almoçar. Chegados à margem do Cachéu, da antiga jangada que fazia a travessia de pessoas e viaturas, nem rasto. Ficam os carros, embarcamos nós numa piroga com motor fora de borda que em pouco mais de cinco minutos nos despeja na outra margem, onde a aguardam outros passageiros que fazem daquele um próspero negócio. Mal chegados, apercebemo-nos de imediato que a cidade florescente de há três décadas e meia, está moribunda. Há muito que o alcatrão desapareceu por completo das ruas que são agora pavimentadas a pó ou lama de barro vermelho. A dignidade dos antigos edifícios públicos desmorona-se como as suas paredes por falta de manutenção. Resistem as tabancas tradicionais cobertas a capim, algumas ainda ostentam as velhas chapas de zinco corroídas pela ferrugem. Não há comércios e muito menos restaurantes. Os nossos companheiros guineenses partem à procura de algo que possa enganar o estômago até ao regresso à civilização. Sob um sol implacável, o calor é sufocante. À sombra de um renque de mangueiras tentamos ingerir umas sardinhas de conserva de origem marroquina que os nossos ajudantes descobriram não sei como. Intragáveis para o paladar luso, fico-me pelo pedaço de pão de boa qualidade e um gole de cola morna. De regresso a Bissau, passamos de novo pelo K3 onde é notável o ambiente de festa com imensas pessoas a saudarem-nos à beira da estrada. Páro para deixar uma palete de refrigerantes que será repartida por todos, ao dedal, literalmente.
A população do K3 na hora da despedida.

O Rui Pedro despede-se da miudagem

Latagão ao colo da irmã.

O bando dos reguilas do K3

Preparando-nos para atravessar o R. Cacheu em piroga.
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De novo en route, definham as expectativas de chegar à capital a tempo de jantar, começamos a pensar nas alternativas possíveis. Em Mansoa está a decorrer uma espécie de mostra de actividades económicas. Num recinto bem iluminado por um gerador, há diversos stands e começam a juntar-se visitantes. Dado que de comes e bebes não se avista nada de jeito, pé no acelerador e aí vamos de novo já que a esperança de encontrar algo aberto ainda não morreu. Vamos engolindo quilómetros e buracos perfeitamente camuflados pelos reflexos da laterite que nos roubam a noção da profundidade. Damos por eles porque a suspensão e as nossas costas não param de se queixar.
Chegamos a Safim cerca das dez da noite, ainda não é muito tarde. Mas se os Deuses não estão loucos, devem ter alguma coisa contra nós! Ao longo da estrada, em que a única luz é a dos nossos faróis, apercebemo-nos da presença de magotes de pessoas caminhando despreocupadamente, ora pelas bermas ora pela própria faixa de rodagem. No ar, o cheiro intenso a cachaça de caju obtida artesanalmente através da fermentação e destilação do fruto doce, põe-nos de sobreaviso quanto à possibilidade de alguém vir estampar-se contra o carro. O Mercedes reduz a velocidade até pouco mais da marcha a passo, e a Ford que segue logo atrás, faz o mesmo. Subitamente, um vulto atravessa a estrada em passo de corrida. Ouve-se um estouro enorme e um vulto rebola à frente do capot. É tudo aquilo de que me apercebo e, como sigo ao lado do Neves que encosta imediatamente, saímos para prestar assistência à vítima … que se põe de pé ainda antes de chegarmos à sua beira! É uma tia, como aqui se designam as mulheres grandes ou idosas. Está visivelmente nas graças de Bacco; perdida de bêbeda, dá dois passos, cambaleia e é preciso ampará-la para não agravar os estragos. Não se queixa, limita-se a cuspir saliva tingida de sangue misturada com alguma aguardente do excesso de carga. Numa avaliação sumária parece ter perdido alguns dentes ao embater com o maxilar contra o friso do tejadilho. O estrondo que ouvimos ficou a dever-se ao espelho retrovisor que, tendo sido forçado até ao limite, regressou à posição inicial com grande impacto por força da sua mola.
A mulher parece estar sozinha, mas apercebendo-se que a situação lhe podia render uns trocos, aparece um rapazote armado em chico esperto. Dizendo-se sobrinho da velhota, tenta negociar em seu nome a adequada indemnização e para isso, instala-se com a tia no banco traseiro, ao lado do Rui Pedro. A mulher não pára de mandar escarretas pestilentas para o ar. Algumas ficam presas ao forro do tejadilho, outras vão aterrar em cima do Rui que estoicamente suporta o vexame sem um pio. Já em andamento, a sinistrada parece recuperar um pouco da bebedeira. O sobrinho, convencido que os brancos não entendiam crioulo, incitava a anciã a pedir uma boa maquia.
- Eles são brancos, têm dinheiro por isso podem pagar bem, dizia ele.
Mostrou-se muito contrariado quando lhe dissemos que não pretendíamos negociar nada e que o nosso destino seria em primeiro lugar a esquadra de polícia e depois o hospital. O atordoamento da senhora dissipou-se um pouco mais, conseguimos perceber que residia com um filho no bairro militar situado na periferia de Bissau. Embora representasse sério perigo, entrámos no bairro, altas horas sem réstia de iluminação e lá conseguimos chegar à fala com o filho. No início, muito agressivo e exigente quanto a compensações, logo amansou quando lhe fizemos fazer saber que a única razão pela qual estávamos ali, era para que pudesse acompanhar a mãe à polícia e ao hospital.
Cordato e mais interessado nos CFA’s do que na dentuça da mãe, e perante a determinada recusa desta em deixar-se tratar, acabou por aceitar 15 mil francos e não se falou mais no assunto.
Com grande alívio, pusemo-nos a caminho do centro onde chegámos já passava da meia noite. Faltava resolver a questão do jantar. Feito o roteiro dos possíveis restaurantes ainda abertos, o desânimo foi total, nem vivalma. Propôs o Neves que fossemos a determinada cervejaria onde habitualmente serviam um balde de pipocas a acompanhar a bebida. Depois de uns goles e longa espera, veio a informação de que as ditas estavam esgotadas.
Dizem que quem se deita sem ceia toda a noite esperneia. Confirmo!
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Juan

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

25 - Caminhar nos Pirinéus - II

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PS: G~elos eternos em Gavarnie.

PS: Jagudi (abutre).

PS: Espectáculo com aves de rapina.

PS: Águia americana.
Caminhada nos Pirinéus, 2ª parte.
Por : Paulo Santiago

Nem só de caminhadas se vive nos Pirinéus, também é preciso comer, e...beber. Água de alta montanha excelente, muito fresquinha, e à noite, um Bordeaux de estalar a língua, isto quanto a bebidas...(nunca gostei daquela francesice de água com Ricard)...Comidas, estamos na zona dos patos, há pâtés óptimos, enchidos e presuntos convidam à degustação, carnes de borrego e bovino de boa qualidade.
Visitas interessantes a efectuar. Na estrada de Bagnères para La Mongie e Col do Tourmalet, encontramos umas grutas, Les Grottes de Médous, que valem uma visita, principalmente devido a umas curiosas formações que se encontram numa das salas, que, segundo a guia, não têm, ainda hoje, uma explicação científica muito capaz. O percurso subterrâneo tem cerca de 1000 metros a pé, seguindo-se 200 metros de barco.
Outra visita a não perder é ao castelo de Beaucens, junto à estrada para Lourdes. Trata-se de um castelo medieval, onde nos dias de Verão, a determinadas horas, se realiza um espectáculo com aves de rapina, e outras exóticas. Os picanços e rapanços que o Falcão Peregrino, a Águia Americana e outras aves fazem sobre os assistentes são perfeitos...não se esquece.
E, para terminar, mais uma caminhada. Vamos até Gavarnie, povoação onde termina a estrada e o estacionamento da viatura é pago (€ 4,00/dia). Comecemos a andar pelo Cirque de Gavarnie, um glaciar classificado como Património Mundial da UNESCO. Impressionante, aqueles gelos eternos que nos rodeiam. Na povoação, estamos em Agosto, faz muito calor mas à medida que vamos subindo em direcção à Brecha de Rolando, começa a arrefecer e já de polar vestido, o frio aperta. Com equipamento apropriado, através da Brecha de Rolando, pode-se passar para o Monte Perdido em Espanha, dormindo uma noite no refúgio que existe naquela brecha. Fica para outra altura...

Abrantes Santiago

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

24 - Viagem aos Bijagós - 1ª parte

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Aeroporto Internacional de Bissau. Foto: adbissau .org

Mercado de Bandim. Foto: tamboresafricanos.org

Vendedoras de ostras em Quinhamel. Foto:4.bp.blogspot.com

Piscina do Hotel 24 de Setembro. Foto: cart1525.com

Viagem à Ilha de Bubaque, arquipélago dos Bijagós.

Há viagens e viagens e há aquelas que ficam registadas na nossa memória. Pelos bons ou maus motivos, ou por ambos, como foi o caso desta deslocação aos Bijagós.
O arquipélago dos Bijagós é constituído por cerca de uma centena de ilhas e ilhotas situadas no oceano Atlântico, ao longo da costa da República da Guiné-Bissau de cujo território fazem parte integrante. Dado o estado de “pureza” em que se encontram, a Unesco classificou-as como Reserva Ecológica da Biosfera em 1996. Entre as ilhas mais importantes, salientam-se a Caravela, Formosa, Galinhas, Maio, Orango, Roxa e Bubaque, tendo sido esta última, o destino da minha viagem.
No seu conjunto, haverá pouco mais de uma dúzia de ilhas habitadas. As outras, ou são visitadas sazonalmente ou possuem mistério ( feitiço), e como tal, são consideradas sagradas pelos Bijagós, etnia que dá o nome ao arquipélago. Estas ilhas possuem uma riqueza natural excepcional, tanto a nível de recursos naturais como a nível cultural. Praias virgens, de águas cristalinas, cálidas brisas agitando palmeirais a perder de vista e a riqueza da sua fauna e flora, fazem delas um lugar paradisíaco, destino de sonho para qualquer viajante.
Numa passagem anterior pela Guiné, enquanto militar em serviço naquela antiga província ultramarina portuguesa, ouvira falar da ilha de Bubaque por ser muito frequentada por camaradas que ali gozavam a sua licença, por vezes na companhia das esposas que para o efeito se deslocavam desde a metrópole. Com o tempo, a povoação de Bubaque tornou-se numa requintada estância de férias que passou a acolher também, para além da hierarquia militar, altos dignitários ligados ao governo provincial bem como o jet set da colónia. Ali não faltava nada, desde um excelente hotel tipo resort, o Hotel Bijagós, que teve a sua época áurea no final da década de sessenta, altura em que foi ampliado com diversos bungallows, tal era a procura, uma danceteria anexa para mais de mil pessoas, um soberbo bar-esplanada debruçado sobre a praia e um conjunto de outras estruturas vocacionadas para o turismo. Havia também alguns edifícios administrativos de grande porte, vilas ao estilo colonial e residências de abastados comerciantes de origem europeia. De tudo isto, o que podemos encontrar hoje são apenas vestígios.
Os abastecimentos faziam-se através de ferry com o que de melhor e mais fresco chegava da Europa. Para maior comodidade e conforto dos turistas e visitantes, um aeródromo situado próximo do extremo sul da ilha transportava-os desde Bissau e outras localidades do território continental. O transfer para o hotel, fazia-se em autocarro próprio, cujos restos mortais ainda por lá sobrevivem.
Como se adivinha, os aliciantes para visitar os Bijagós eram muitos e a vontade, imensa e antiga.
Com o Rui Pedro, meu companheiro nesta viagem, planeei um itinerário em que numa primeira etape seguiríamos até Bissau num voo da Tap, deixando para segundas núpcias o esquema da deslocação até às ilhas, dada a falta de elementos informativos.
Embarcámos em Lisboa numa sexta feira tendo viagem decorrido sem acontecimento digno de registo. Excepto à chegada, quando o Rui não foi dentro por um triz! Mal acabara de pôr o pé em terra, rapou da filmadora e toca a captar umas vistas do aeroporto e material por ali estacionado. Foi quanto bastou para, uns metros à frente, ter uma comissão de boas vindas a aguardá-lo. Valeu-nos um amigo que nos acompanhava, o Manuel Neves, pessoa muito conceituada no meio policial local que rapidamente sanou a situação.
Numa corrida de cerca de vinte quilómetros feitos de táxi até ao “24 de Setembro”, o nosso hotel, o meu sócio pôde sentir o bafo de África. O sol a pique, uns amenos trinta graus e a humidade na casa dos cem por cento, tiram o alento a qualquer branquelas que por ali se atreva. O trânsito é infernal e pauta-se por regras de algum código não aplicáveis noutro continente. Não descortino porque é que em Portugal não se faz a troca automática de uma carta de condução guineense por uma nacional. Quem consegue mexer-se naquele caos, está apto a conduzir em qualquer parte do mundo. Ali, vale tudo, menos colidir. O que só não acontece mais vezes graças aos bons espíritos. Mas quando a batidela acontece, é a vítima que sai do carro, pede desculpa ao atrevido que lhe amolgou o guarda lamas e convida-o a seguir viagem!
Para meter conversa e saber as últimas da politiquice doméstica, instalo-me ao lado do condutor do velho Mercedes 200 pintado a azul e branco. Marca e modelo dominam o mundo dos carros de aluguer na cidade, condenados à canibalização logo que deixam de estar aptos ao serviço.
Sinto a camisa numa sopa, colada às costas do assento. Através do vidro aberto, o meu camarada vai sorvendo o cheiro de África e da cachaça de caju, transportado em lufadas de ar quente e muito pó. Para mim, esta curta viagem é sempre uma romagem de saudade. Brá, depósito de adidos, quartel dos comandos, antigo aeroporto e base aérea, o hospital militar … quantas recordações para os milhares e milhares de jovens que, tal com eu, cumpriram uma parte do serviço militar naquele território.
A chegada ao Bandim marca a entrada na cidade de Bissau. É um mercado de rua, ao ar livre portanto, onde tudo se vende, onde tudo se pode comprar. Frutas, legumes e cereais, carne e peixe com e sem moscas, mobílias e electrodomésticos, ouro, prata, jóias e moeda estrangeira, vestuário, calçado e material escolar, artigos a preços simpáticos para a carteira do cliente, pobre na maioria das vezes. A sua ala principal ocupa várias centenas de metros ao longo da artéria que liga a capital ao aeroporto. Do lado poente, ficam os bastidores deste grande mercado equivalente ao Roque Santeiro de Luanda, constituídos por um labirinto de ruas e ruelas invariavelmente sujas e malcheirosas, onde se apertam como sardinhas em lata, representantes das quarenta e tal etnias do país. As mulheres são o retrato de África, terra-mãe da humanidade. Trajando as cores do arco íris, exprimem-se nas línguas de Babel. Carregam o essencial para alimentar a família e muitas transportam vida nova no ventre, às costas ou pela mão. Pode dizer-se que no Bandim pulsa o coração do povo guineense.
Dentro da cidade, ruas largas embora em mau estado, bordejadas a mangueiras, deixam fluir um trânsito menos caótico permitindo-nos chegar ao Hotel sem dificuldade. Na recepção, um staff primoroso auxilia nas formalidades e encaminha-nos até aos alojamentos. Estes são constituídos pelo que resta de um vasto complexo de edifícios de apoio ao antigo clube de oficiais, uma espécie de barracões cobertos a lusalite e ventilação natural, onde se acomodava o pessoal de passagem. Eram tão medonhamente quentes e desconfortáveis que os residentes temporários lhes chamavam ”o Biafra”. Hoje, depois de algumas obras de remodelação, oferecem aceitável nível de conforto tendo em conta os padrões do país. Impera o nacionalíssimo banho balanta de púcaro e alguidar, suprindo as falhas de água na torneira. Pelas paredes acima a necessitarem de rolo e tinta, bicharada exótica dá as boas vindas aos recém-chegados. Móveis desconjuntados e o ar condicionado cheio de ressonâncias e a debitar calorias, completam um quadro indubitavelmente tétrico para o turista, familiar e aconchegante para o viajante, amante destas paragens.
Depois de uma borrifadela rápida para retirar o salitre do suor agarrado à pele, desfazem-se as malas à procura da vestimenta adequada, roupas leves de algodão, calções, T shirt e sandálias. Em poucos minutos estamos a caminho de Quinhamel na região do Biombo, a cerca de 40 Km de Bissau. O nosso destino é o restaurante da D. Henriqueta e seu marido, o Ti Aníbal. Um barraco situado na margem de uma bolanha, rodeado de frondosas e centenárias mangueiras sob as quais se alinham mesas e bancos corridos, este é o melhor local para saborear as deliciosas e fresquíssimas ostras da bolanha. Passadas pela chapa quente e servidas em quantidade industrial, são uma entrada forte para o menu que se segue; peitos de rola e bifinhos de gazela grelhados aux épices. A noite termina em beleza com uns drinques na Baiana, no centro da cidade, e uma visita a um dancing bem frequentado!
Fim da primeira parte e conclusão: Não é preciso muito para um homem ser feliz. Já as mulheres , não sei...
Juan



terça-feira, 15 de setembro de 2009

23 - Madeira : European Golden Oldies Rugby Festival

PS: Recepção aos "atletas" e acompanhantes na quinta da Magnólia ... a cambada esgotou almudes de bière.

PS: Reparem nesta beleza lituana, protegida pelo Luís Caldas (comité Olímpico), Santiago (Bairrada) e Pinto de Sousa (CDUP).

PS: Nos Stars de Moscovo, havia jovens de 70 anos (calções amarelos).

PS: Sábado houve folga nos jogos e o almoço foi em Porto Moniz. Vista das Piscinas naturais.


Antiguidades em acção!

Um apontamento de: Paulo Santiago.

Em 19 de Junho de 2008, pelas 15.00 horas, aterrei no Aeroporto do Funchal, acompanhado pelos meus companheiros/amigos do Rugby Clube da Bairrada. Íamos participar no European Golden Oldies Rugby Festival.
Era uma 5ª feira e ao fim da tarde houve recepção na Quinta da Magnólia para as 42 equipas participantes e respectivos acompanhantes. Na 6ª feira começaram os jogos e não havendo qualquer classificação, apenas existe o prazer de jogar.
Vinte e uma equipas jogaram no Marítimo, as restantes jogaram na Ribeira Brava. No 2º dia de jogos, domingo, houve troca de campos. Na 6ª o Bairrada jogou com o Gelezinis Vilkas da Lituânia e com o Dedy Russian Stars de Moscovo. Estes amigos moscovitas, mal o jogo acabou presentearam-nos com ...caviar e vodka...
No Domingo jogámos com o CR Évora e com o Cascais. À noite, no porto, jantar para todos os participantes, atletas e acompanhantes. Como sempre, uma grande festa...

Abrantes Santiago