C.V. - "Os meus pais e eu"
Não tenho por hábito comentar os posts de outros participantes. Mas, para dar força a uma ideia que explicitei anteriormente em que convidava os visitantes a descobrirem o Homem através dos seus escritos, esta pequena história merece uma referência especial. Por trás de uma aparente singeleza, o seu autor consegue em dois ou três parágrafos, mostrar como uma família pode ser pobre em recursos materiais e abundar em felicidade. Estão de parabéns os pais se ainda forem vivos, a esposa e os filhos do Carlos por poderem contar com o seu amor e carinho.
O editor, Juan
A minha primeira viagem
Por: Calos Vinhal
Teria pouco mais que 8 meses de gestação e ainda estava no quentinho da barriguinha da minha mãe.
O meu pai, ainda solteiro, havia “emigrado” em Dezembro de 1945 de Azurara, freguesia do concelho de Vila do Conde para Matosinhos em busca de uma vida melhor. Um familiar da minha mãe tinha-lhe arranjado um modestíssimo emprego como funcionário público na “Junta”, assim era conhecida na época a entidade que administrava os Portos do Douro e Leixões, mas muito bom para quem não tinha nenhum meio de subsistência. A minha mãe, sua namorada, ficou em Azurara à espera de melhores dias para se poderem casar.
Mais tarde, em 1947, os meus pais casaram e ficaram a viver num quarto, em Matosinhos que o meu pai já ocupava em solteiro, propriedade de um senhor que eu ainda conheci, o senhor Alexandre, também funcionário da Junta, onde eu terei sido concebido. Vida difícil, a deles, como a de quase toda a gente naquele tempo, estávamos (estavam eles) no pós guerra. Havia imensa falta de emprego, de géneros alimentícios, as pessoas, em virtude das privações, eram doentes e não tinham dinheiro para se tratarem. O meu pai ganhava pouco e a minha mãe não tinha emprego, como a esmagadora maioria das mulheres naquele tempo, destinadas à função de donas de casas. Imagine-se as dificuldades por que passavam, ainda por cima longe da família,
Apesar de tudo, fui-me desenvolvendo de acordo com as leis da natureza, até que chegou a data em que eu tinha de conhecer o mundo. Como naquele tempo não havia Maternidades, nem para fechar, as crianças nasciam todas em casa, das avós preferencialmente, que pela prática, tinham adquirido conhecimentos quase empíricos que as habilitava a assistir aos partos das mulheres mais novas, filhas, noras ou simplesmente vizinhas. A ideia era eu nascer na casa da minha avó materna, em Azurara, sendo a função de parteira destinada à minha avó paterna que tinha sido mãe já 11 vezes.
Matosinhos e Azurara distam entre si um pouco menos de 25 quilómetros, distância que hoje se faz em pouco mais de 20 minutos, mas naquele tempo era preciso apanhar um lento comboio em Matosinhos, ir até à Senhora da Hora, sair deste e esperar por outro, um pouco menos lento, que vindo do Porto, Trindade, ia para a Póvoa de Varzim. A estação de Azurara ficava duas paragens antes do fim da linha.
Da estação do caminho de ferro até casa da minha avó ainda era um bom bocado a pé, pelo que imagino hoje a dificuldade que a minha mãe terá tido para percorrer a distância já que estava “no fim do tempo”.
Nasci nos fins de Março de 1948, e como não aparentava grande saúde, fui baptizado logo a 12 de Abril, não fosse morrer e não me serem franqueadas as Portas do Paraíso. Não esqueçamos que naquele tempo, quem morresse antes do baptismo, ia para uma coisa chamado “Limbo” (nem Inferno, nem Purgatório) à espera de deferimento para aceder ao Céu. Felizmente que hoje, graças a um “Decreto” do Papa Bento XVI, qualquer criança que morra sem ter sido baptizada, vai direitinha para o Paraíso. Desculpem este à parte.
Nesse mesmo fim de semana regressámos já os três, nos mesmos comboios, mas em sentido inverso, naquela que seria a minha primeira viagem, aconchegadinho ao peito da minha mãe, para enfrentar a vida e contar, ou descontar, os anos que conseguimos somar, ou subtrair.
OBS:- Na foto que envio da Igreja onde fui baptizado, onde hoje é a escadaria, ficava a casa onde nasci e de onde saiu a minha mãe para casar com o meu pai.
O editor, Juan
A minha primeira viagem
Por: Calos Vinhal
Teria pouco mais que 8 meses de gestação e ainda estava no quentinho da barriguinha da minha mãe.
O meu pai, ainda solteiro, havia “emigrado” em Dezembro de 1945 de Azurara, freguesia do concelho de Vila do Conde para Matosinhos em busca de uma vida melhor. Um familiar da minha mãe tinha-lhe arranjado um modestíssimo emprego como funcionário público na “Junta”, assim era conhecida na época a entidade que administrava os Portos do Douro e Leixões, mas muito bom para quem não tinha nenhum meio de subsistência. A minha mãe, sua namorada, ficou em Azurara à espera de melhores dias para se poderem casar.
Mais tarde, em 1947, os meus pais casaram e ficaram a viver num quarto, em Matosinhos que o meu pai já ocupava em solteiro, propriedade de um senhor que eu ainda conheci, o senhor Alexandre, também funcionário da Junta, onde eu terei sido concebido. Vida difícil, a deles, como a de quase toda a gente naquele tempo, estávamos (estavam eles) no pós guerra. Havia imensa falta de emprego, de géneros alimentícios, as pessoas, em virtude das privações, eram doentes e não tinham dinheiro para se tratarem. O meu pai ganhava pouco e a minha mãe não tinha emprego, como a esmagadora maioria das mulheres naquele tempo, destinadas à função de donas de casas. Imagine-se as dificuldades por que passavam, ainda por cima longe da família,
Apesar de tudo, fui-me desenvolvendo de acordo com as leis da natureza, até que chegou a data em que eu tinha de conhecer o mundo. Como naquele tempo não havia Maternidades, nem para fechar, as crianças nasciam todas em casa, das avós preferencialmente, que pela prática, tinham adquirido conhecimentos quase empíricos que as habilitava a assistir aos partos das mulheres mais novas, filhas, noras ou simplesmente vizinhas. A ideia era eu nascer na casa da minha avó materna, em Azurara, sendo a função de parteira destinada à minha avó paterna que tinha sido mãe já 11 vezes.
Matosinhos e Azurara distam entre si um pouco menos de 25 quilómetros, distância que hoje se faz em pouco mais de 20 minutos, mas naquele tempo era preciso apanhar um lento comboio em Matosinhos, ir até à Senhora da Hora, sair deste e esperar por outro, um pouco menos lento, que vindo do Porto, Trindade, ia para a Póvoa de Varzim. A estação de Azurara ficava duas paragens antes do fim da linha.
Da estação do caminho de ferro até casa da minha avó ainda era um bom bocado a pé, pelo que imagino hoje a dificuldade que a minha mãe terá tido para percorrer a distância já que estava “no fim do tempo”.
Nasci nos fins de Março de 1948, e como não aparentava grande saúde, fui baptizado logo a 12 de Abril, não fosse morrer e não me serem franqueadas as Portas do Paraíso. Não esqueçamos que naquele tempo, quem morresse antes do baptismo, ia para uma coisa chamado “Limbo” (nem Inferno, nem Purgatório) à espera de deferimento para aceder ao Céu. Felizmente que hoje, graças a um “Decreto” do Papa Bento XVI, qualquer criança que morra sem ter sido baptizada, vai direitinha para o Paraíso. Desculpem este à parte.
Nesse mesmo fim de semana regressámos já os três, nos mesmos comboios, mas em sentido inverso, naquela que seria a minha primeira viagem, aconchegadinho ao peito da minha mãe, para enfrentar a vida e contar, ou descontar, os anos que conseguimos somar, ou subtrair.
OBS:- Na foto que envio da Igreja onde fui baptizado, onde hoje é a escadaria, ficava a casa onde nasci e de onde saiu a minha mãe para casar com o meu pai.
Olá Cunhado Vinhal já não sei o que disse da primeira vez,de certeza que foi alguma mentira pois já não me lembro.Como sabes gosto de ver as tuas "escrituras" porque elas ao fim e ao cabo estão interligados pela família que nos une.Sendo assim fazes bem em trazer estas memorias para não serem esquecidas e que nos faz bem .Continua ,
ResponderEliminarparabéns .
M. Sousa
Sem lamechices, as nossas vidas já se cruzam há mais de 40 anos. As vossas alegrias são também nossas, e algumas tristezas, felizmente poucas, também são partilhadas. Que seja assim, ainda, por muitos e bons anos. E obrigado pelas tuas palavras.
ResponderEliminarCompadre Carlos