sexta-feira, 25 de setembro de 2009

29 - A razão de uma Greve

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Termina hoje à meia noite o segundo de dois dias de greve dos pilotos da Tap. Sei que esta greve tem por base uma disputa de natureza salarial entre sindicatos e administração, mas desconheço os argumentos de qualquer dos lados. À partida, a minha solidariedade pende para o lado dos pilotos. São pessoas responsáveis, ai de nós se não fossem, e se decidiram avançar para a guerra, foi porque acharam que tinham a razão do seu lado. O mesmo dirá o representante da administração, com o mesmo nível de seriedade. Entre os dois fogos ficaram, dizem, quarenta e dois mil passageiros e um coro de protestos. Uns, protestam contra os pilotos que consideram uma classe à parte, socialmente prestigiada e com remunerações acima daquelas que auferem profissionais de idêntico nível de diferenciação e responsabilidade. Outros sentem-se agastados com a manifesta (dizem eles) indiferença da empresa para com os contratempos e prejuízos que a situação lhes acarreta. E todos, temem que estes abanões mandem com a transportadora definitivamente para o charco. E nós, cidadãos e contribuintes, ocasionais utilizadores dos serviços da Tap air Portugal, o que é que temos a dizer?
Como não tenho procuração para representar quem quer que seja, só posso falar por mim. Então aqui vai a minha opinião, que de resto ninguém pediu, esquematizada em cinco princípios:
1º - Dado que o dinheiro dos contribuintes não pode almofadar as contas das empresas de transporte aéreo, este tem que ser um negócio rentável per si.
2º - Como qualquer outro negócio, deve ter uma gestão transparente e acima de tudo, competente. A sua administração não pode ser coito para boys cujas credenciais se resumem ao cartão do partido do governo.
3º - Há que acabar de vez com vaidades bacocas do género daquelas que suportam linhas altamente deficitárias, com o argumento de que é preciso manter a nossa presença etc. e tal. Não me admiraria se me dissessem que algumas dessas linhas e horários se mantêm por conveniência de determinados senhores.
4º - A Tap é um símbolo nacional, como a Torre de Belém ou o Mosteiro de Alcobaça. Em qualquer ponto do planeta, um escritório da Tap evoca território nacional, como se de uma representação diplomática se tratasse. Para a grande maioria dos portugueses, ela é a melhor e mais segura companhia aérea do mundo, e não deve ser alienada sob qualquer forma ou pretexto. Os nossos pilotos ficam logo abaixo de Deus e para fazer a manutenção dos aparelhos, não há mãos como as dos portugueses. Até a comidinha de puta que me servem a bordo, eu devoro de bom grado.
5º - Sendo a Tap uma questão nacional, tudo o que lhe diz respeito interessa aos cidadãos. Se as regras da concorrência dentro da EU não permitem a ajuda directa dos estados, havemos de encontrar uma forma de lhe restituir a saúde financeira e uma longa vida. Mas para isso, não é aceitável que alguns façam caretas ao tratamento. E quanto aos sacrifícios, se os houver, que sejam repartidos.
Analisemos agora as razões dos furibundos passageiros. Não têm razão! Naturalmente quando se está de armas e bagagens num aeroporto, com a legítima expectativa de que o contrato de transporte firmado com a empresa seja respeitado e tal não acontece, não há nervos que aguentem. Mas se pensarmos bem…
Não é verdade que vivemos num país democrático onde fazer greve (com regras), é um direito constitucional?
Não é verdade que a greve é a forma de luta mais extrema de que os trabalhadores se podem socorrer para fazer valer o que consideram ser os seus direitos? Qual seria a efectividade de uma greve no caso de ninguém sair magoado? Porque, meus senhores, declaração de greve é declaração de guerra. E as guerras fazem-se para provocar dor, destruição, sofrimento e angústia no campo adversário. Infelizmente, o sucesso deste combate está na extensão dos danos colaterais que uma das partes não quer nem pode evitar! Nesta guerra, as armas, são os braços caídos sendo as munições, a pressão e o clamor dos ofendidos e prejudicados, ou seja, os passageiros.
Está a decorrer neste momento uma conferência do G20. As notícias dizem que o ponto mais importante da ordem do dia, tem a ver com a discussão das remunerações das posições de topo nas administrações de empresas como bancos, seguradoras e participadas. Mesmo em Portugal, onde esses valores escapam frequentemente ao escrutínio popular, vozes se têm levantado, entre elas a do PR, contra a falta de razoabilidade de tais montantes quando comparados com o nível salarial médio dos restantes trabalhadores da mesma organização. A situação chega a ser obscena, quando a determinados figurões são atribuídos complementos astronómicos a título de prémios de gestão e outras alcavalas.
E na Tap, o que é que se passa? Será que há gente na administração, com os tomates no bem-bom, que nunca saiu de Lisboa a não ser em passeio e ainda por cima à borla, a ganhar n vezes o salário de um piloto?
Se não há, apelo aos senhores pilotos para que ponham a mão na consciência e aguardem pelo regresso das vacas gordas para exigirem o reforço do orçamento lá de casa.
Aos senhores administradores, tomo a liberdade de recordar que os bons exemplos vêm de cima e os sacrifícios são para repartir.
Aproveito para avisar que um dia destes vamos ter uma conversinha acerca das vergonhosas taxas de combustível, aeroporto e segurança com que somos massacrados. Quero saber quem é que se anda a abotoar com o bolo ou como é repartido, e quais as premissas que o justificam.
Juan

1 comentário:

  1. Juan

    Concordo, cem por cento, contigo.

    Estabelecer outros Comentários apenas poderia tornar menos clara a clareza da tua análise.No entanto...

    Necessitamos, todos, de que o trabalho seja encarado como uma troca. Ou seja: DAR TRABALHO A TROCO DE DINHEIRO.
    A avaliação dos valores da troca têm de ser proporcionais ao rendimento (troca) do serviço dispendido.
    Isso,(todos sabemos) não é apanágio das Empresas, ao contrário do que acontece na Política (porque é de Política que se trata) em que os beneficiados são os que classificam o valor da SUA troca (É confuso, não???).

    Abraço Solidário, do
    Santos Oliveira

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